Os sintomas da liberação ideológica do “vale tudo” ambiental já flutuam pelo ar como fumaça espessa de queimada em agosto, impregnando discursos e contaminando gestos dos negacionistas de plantão. São tempos em que se relativiza o que não deveria ser tocado, e o licenciamento ambiental vira balcão de conveniências. E, nesse cenário, surgem vozes atrevidas que tentam desafiar quem carrega a floresta na pele, no nome e na história.
Quando alguém ousa pedir que Marina Silva se coloque no lugar dela, o que, afinal, se pede? Qual seria esse lugar? A cadeira invisível reservada às mulheres que ousam falar alto? A sombra que os poderosos esperam que cubra aqueles que vieram do seringal, da Amazônia profunda, dos quintais esquecidos pelo mapa oficial?
Marina, com seus quase quarenta anos de vida pública, senadora mais jovem eleita no Brasil, colecionadora de prêmios que se recusam a caber num só currículo — o Goldman, o Champions of the Earth da ONU, a medalha Duque de Edimburgo entregue pelo príncipe Philip. Uma mulher que, apesar de tudo isso, segue como guerreira em campo aberto, onde a batalha é diária e a fumaça de retrocesso insiste em toldar o horizonte.
Quando atacam Marina, não é a ministra que ferem — é a mulher, é a negra, é a amazônida, é o pobre, é o nortista. É o eco das vozes ancestrais que ela carrega e protege. Porque, na cabeça estreita de certos sujeitos que se imaginam donos da cena pública, o lugar da mulher ainda é o não lugar: a cozinha, a sombra, o silêncio. E quando ela insiste em permanecer de pé, falar e decidir, a própria existência dela vira afronta.
Mas Marina já transcendeu qualquer lugar que lhe tentem impor. Ela pertence às matas que resistem, às águas que lutam para não secar, ao sopro insistente de esperança que ainda tenta tornar as coisas mais respiráveis sobre a terra.
E para quem não entende o lugar de Marina, talvez falte entender primeiro o próprio.
Juliete Oliveira – Poeta
Cajazeiras-PB, 27 de maio de 2025
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