O PED e os caminhos do PT Tocantins

Corrente interna do partido propõe revisão de rumos e busca fortalecer a unidade

Crédito: Divulgação

O maior partido de esquerda das Américas, o Partido dos Trabalhadores (PT), é diferente em muitos aspectos do que se observa em outros partidos políticos: nossas direções, desde a base até o nível nacional, são eleitas pelo voto direto, secreto e universal dos filiados ao PT por meio do Processo de Eleições Diretas (PED). O princípio “cada filiado é um voto” amplia o direito à voz, promovendo uma participação efetiva e concreta na definição dos rumos do partido. Essa característica nos faz diferentes, enquanto os outros são tão iguais.

 

Após enfrentarmos um ciclo destrutivo que tentou corroer nossa jovem democracia — que, assim como eu, nasceu em 1988 — o PT demonstrou sua profunda conexão com o povo brasileiro. A volta do Presidente Lula à Presidência não foi apenas uma vitória eleitoral: foi um sonoro "não" das trabalhadoras e trabalhadores do campo e da cidade, bem como da juventude, às reformas (ou deformas) que tanto retiraram direitos do nosso povo. Essa conquista ocorreu em meio a um governo protofascista que foi dolosamente negligente na gestão da pandemia.

 

Ser petista implica carregar estigmas pesados, justamente pela nobreza de nossas bandeiras. Lutamos pela defesa do direito de existir, tantas vezes negado à população afrodescendente, aos povos originários, às mulheres, à comunidade LGBTQIA+, entre tantos outros. Somos também inimigos da fome e da doença. A defesa dessas causas históricas é marcada pela dor e pelo sangue daqueles que ousaram levantá-las. Aqui, reverencio a memória de todos que tombaram por um mundo mais justo, fraterno e solidário, na figura do eterno Padre Josimo.

 

Diante de tantos estigmas que nos são impostos por agentes do capital, da grande imprensa e do latifúndio, o PED deve ser conduzido com o máximo respeito às divergências. Um partido da dimensão e da expressividade do PT tem suas discussões internas acompanhadas pela sociedade. É nosso dever, porém, evitar o fratricídio — ou melhor, o “companheirocídio” — nas disputas internas, já que, ao final, estaremos todos no mesmo barco, capitaneado pelo Presidente Lula.

 

Nós, da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), acreditamos que o PT precisa revisar alguns de seus rumos. Nas eleições de 2022, mesmo com a vitória de Lula no Tocantins e a ampliação da presença do PT em muitos Estados, tivemos o pior desempenho eleitoral dos últimos 25 anos, sem eleger sequer um deputado estadual. Isso decorreu de erros graves na condução da direção estadual, que priorizou uma fração do partido em detrimento do todo.

 

Na atual conjuntura política polarizada entre defensores da democracia e seus inimigos, o PT do Tocantins não pode se dar ao luxo de cometer erros que o desintegrem. O PT não é instrumento de satisfação de interesses individuais ou de pequenos grupos, mas da classe trabalhadora e da juventude.

 

A CNB entende que as críticas políticas que faz à direção atual são um chamado ao diálogo, especialmente com as demais correntes do PT, para a construção coletiva de novos caminhos. É essencial compreender a dualidade entre ser o partido do Presidente — o que exige dedicação exclusiva dos companheiros que ocupam cargos federais para o sucesso das políticas de Lula — e a realidade do partido, que não é sazonal como os governos.

 

A CNB busca incluir, ampliar e tornar o PT mais horizontal, democrático e participativo. Rejeitamos expurgos e ataques à dignidade de qualquer companheiro, pois isso só favorece os interesses da direita conservadora, que tenta nos destruir. Renovamos e inovamos, somando a experiência de companheiros históricos e de uma geração nascida sob a luz da Constituição de 1988. É a unidade que fortalece a luta.

 

Convidamos todo o PT ao diálogo respeitoso e transparente. Precisamos construir chapas sólidas para deputado estadual e federal e apresentar ao povo tocantinense uma candidatura ao Governo do Estado baseada no modo petista de governar. Precisamos apresentar nossa experiência e nosso plano de governo, calcado no desenvolvimento sustentável, erradicação da fome e da miséria, e soberania nacional da produção industrial, agrícola e tecnológica. O Tocantins merece a oportunidade de escolher o novo e o diferente. Que sejamos nós, o Partido do Povo, os construtores dessa história.

 

A CNB, conforme determinação nacional, irá se reestruturar nos Estados e, no momento oportuno, apresentar uma candidatura ao PED construída com a participação de todas as filiadas e filiados, bem como de todas as correntes já convidadas ao debate. É preciso que a representatividade política do PT no Tocantins esteja à altura de sua dignidade e respeito perante a sociedade, especialmente a classe trabalhadora e a juventude.

 

Aos leitores que se compadecem com as injustiças sociais, a fome e o sofrimento alheio, deixo um convite: você já é PT de coração. Filie-se ao PT!

 

Nota Final: Espero ansiosamente que o STF corrija a grave inconstitucionalidade no cálculo do coeficiente eleitoral das eleições de 2022. Essa medida pode permitir o retorno do nosso querido e combativo companheiro Célio Moura à Câmara dos Deputados.

 

Nile William é advogado, professor de Direito do IFTO e milita no PT desde criancinha.

 

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