O título faz referência a uma obra de autora norte-americana, Susan Cain, cujo propósito é discutir os traços de personalidade das pessoas chamadas introspectivas. Lembrei-me de minha infância, das muitas vezes em que fui lançado na frente de uma plateia, sem a menor preparação e nem vontade, sob o argumento de que eu precisava começar a "deixar de ser bobo" e conquistar um lugar no mundo.
Considerei que, no mundo da educação, passados os muitos anos de minha infância, ainda parece prevalecer a ideia de que a pessoa extrovertida é mais esperta, mais inteligente e terá, consequentemente, mais sucesso na vida. Parte disso vem de uma herança cultural secular, onde pessoas menos qualificadas (leia-se negros, pobres, etc) não tinham oportunidades em suas vidas e acabavam por ficar quietos. A vida havia lhes dado a dura lição do "em boca fechada, não entra mosquito".
Mas outra parte dessa sobrevalorização dos extrovertidos resulta da cultura vigente, em que a performance é mais importante que o conteúdo. Não importa o que você tem a dizer de relevante para o mundo. Importa se você tem palco e holofote para fazê-lo, mesmo que faça uma grande besteira. Nesse cenário, parece óbvio que o extrovertido terá mais sucesso. Falará melhor, ocupará melhores espaços, será mais reconhecido. Isso é tão grave que pais e mães levam para a escola o problema: "meu filho é meio quietinho, caladinho. Tem jeito de melhorar?".
Introspecção não é defeito, tampouco doença. Não precisa ser superada. Evidentemente que todo mundo, extrovertido e introspectivos, podem crescer em sua personalidade. Mas há lugar para ambos, na sociedade. E o papel do introspectivo é tão importante quanto o de seu par. Apenas para citar, Leonardo da Vinci, Einstein e Ghandi foram grandes introspectivos e, nem por isso, deixaram de colaborar para grandes mudanças no mundo.
Há uma beleza na introspeção. São pessoas mais criativas e mais profundas. Enxergam situações que quase ninguém vê e são mais compassivos, como regra.
O importante é que haja lugar para todos. E não há razão nenhuma para os pais se preocuparem, caso os filhos se mostrem mais introspectivos. A preocupação fundamental é que, sendo extrovertidos ou introvertidos, que as crianças, adolescentes e jovens floresçam no melhor que eles podem ser.
Prof. Flávio Luís Rodrigues Sousa, doutor em Filosofia e Teologia, Diretor do Colégio Marista Palmas, membro do Conselho Estadual de Educação do Estado do Tocantins.
Comentários (0)