O Silêncio de Bob...
É o silêncio de todos nós...
Bob era mais que um gato era um pedaço vivo da ternura que a vida, por vezes, nos permite tocar.
Filho de uma mãe que conheceu a crueldade humana nas nossas ruas e alamedas arborizadas de um condomínio lindo em frente ao lago , ele renasceu sob o abrigo do amor e da compaixão de Alice, minha esposa, que acolheu sua mãe grávida com vários chumbos pelo corpo... que o acolheu como quem salva o que resta de pureza neste mundo cansado.
Nasceu pequeno, curioso e dono de um olhar que parecia compreender os segredos do tempo, Bob viveu seus dias entre brincadeiras e afagos.
Saía pouco, e quando saía, era apenas para sentir o vento que passava na alameda Babaçu entre as flores dos quintais dos vizinhos e as palmeiras da nossa grama, o mesmo vento que agora leva seu nome nessa noite triste em murmúrios de saudade.
Mas a maldade humana , essa sombra que insiste em se infiltrar nas frestas da vida e entre nós no meio que vivemos, disfarçada de civilidade , encontrou Bob. Envenenado. Silenciado por mãos que não conhecem o valor da existência de toda vida .
Quantos Bobs ainda precisarão morrer até que entendamos que toda vida importa?
Que o sofrimento de um ser indefeso é também o reflexo da falência da nossa humanidade ou do nosso sucesso profissional e financeiro ?
Vivemos repetindo que somos racionais, mas é no ato de destruir o inocente que revelamos o quanto ainda somos bárbaros.
Uma pena... Bob viveu pouco talvez porque o mundo ainda não aprendeu a merecer criaturas como ele.
Alice e eu tentamos, dentro de nossas limitações, dar-lhe o melhor: afeto, abrigo e o direito de ser feliz. E ele foi até que a injustiça o encontrou.
Agora, descansa em outro lugar, onde a vida é respeitada, onde o amor é a única lei e a pureza não é punida. Porque em Deus sempre encontramos a paz.
Fica, contudo, a minha reflexão amarga: o envenenamento de um ser indefeso jamais ficará impune nem na terra, nem no silêncio invisível que separa o homem da sua consciência.
Que o Bob descanse em paz.
E que nós, os sobreviventes da própria indiferença, aprendamos a respeitar a vida antes que a vida se canse de nós.
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