Já somos mais de 10 milhões de mulheres donas de seus próprios negócios, segundo Sebrae/IBGE (2022). Iniciamos no empreendedorismo, a maioria, por necessidade, para complementar a renda. E é aqui que começam nossos desafios.
O primeiro deles vem do mercado de trabalho, ainda tão desigual. Ganhando menos que os homens, nos mesmos cargos, nós precisamos complementar a renda. No Brasil, somos responsáveis por chefiar quase metade dos domicílios, de acordo com IBGE (2022). Nós chefiamos nossos lares, tanto quanto os homens, mas no mercado de trabalho, ganhamos 20,7% menos. Em funções de nível superior, a diferença chega a 31,2%.
Enquanto trabalhei em regime de CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, só recebi proposta de cargo de chefia de outras mulheres. Na disputa por uma vaga de emprego, já escutei: “você é melhor que ELE, mas a redação já tem mulheres demais”, disse um chefe homem, claro!
Precisando ganhar mais, nós empreendemos, mas sem deixar a carteira assinada. Foi assim comigo, afinal de contas, complementamos a renda com “os pés no chão” e, quase sempre, sem o apoio deles.
Além do trabalho de carteira assinada, uma pesquisa também analisou que nós, mulheres, temos menos tempo para nos dedicarmos aos nossos negócios porque 84% das empreendedoras são as principais responsáveis pelas tarefas domésticas.
Acha que os desafios terminaram por aí?
Ao abrirmos nossos negócios, temos escolaridade maior, em comparação aos empreendedores homens. Então, nós ainda encontramos tempo para nos capacitar mais. No entanto, as taxas de juros praticadas em financiamentos voltados aos pequenos negócios ficam ainda mais caras quando as beneficiárias somos nós, mulheres empreendedoras, aponta o Sebrae Nacional/Banco Central. E mais: a renda média das mulheres empreendedoras foi 24,4% inferior à dos homens empreendedores (2024).
Bom, então vamos aos fatos. Mesmo nos capacitando mais, trabalhando mais, tendo maior escolaridade e dividindo o tempo entre trabalho formal, empreender e cuidar da casa, ganhamos menos. Será que estão tentando nos vencer pelo cansaço e pelo bolso?
Aqui, um dado que ninguém quer pesquisar: nossos produtos e serviços valem menos para consumidores homens. Passei por isso em alguns contratos. Meus serviços desvalorizados se comparados aos mesmos serviços prestados por homens. Seja assessoria, consultoria ou mestre de cerimônia.
Ah, os homens empreendedores, além de não serem desvalorizados, não são assediados sexualmente. Sim, já levei cantada de cliente e coloco todos nos devidos lugares. Prefiro perder um contrato do que ser vítima dessa violência desnecessária (e criminosa). E ainda tem aqueles homens que se acham no direito de falar de empreendedorismo feminino, como se não conseguíssemos falar por nós mesmas.
A verdade, é que ser mulher num país tão patriarcal e machista já é um desafio. Ser empreendedora e ter sucesso, incomoda muita, muita gente.
Então, se existe um futuro melhor para nós, empreendedoras de luta, na minha humilde opinião, perpassa pela tomada de consciência de nós, mulheres, para combater todas as desigualdades e violências.
Também acredito que comprar produtos produzidos por mulheres, aplaudir mulheres, defender outras empreendedoras e ocupar cargos em entidades representativas e de poder, vai nos ajudar a mudar esse cenário. Enquanto deixarmos que eles falem por nós e digam quanto podemos cobrar pelos nossos serviços ou produtos, como devemos nos portar e falar, entre outras, viveremos esse absurdo que nos adoece e tenta, somente tenta nos calar.
No Dia da Mulher, não falem por nós, não nos deem presentes. Nos deem respeito e igualdade financeira e de espaços.
Graziela Guardiola é jornalista, empreendedora há 15 anos, consultora e palestrante nas mais diversas áreas da comunicação. É vencedora do Prêmio Troféu Mulher Imprensa 2018 – categoria Assessoria de Comunicação – Agência.
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