Para além de uma Universidade Operacional

O PDI é um instrumento de planejamento de médio prazo que permite às instituições definirem estratégias para alcançar seus objetivos

Crédito: Divulgação/arquivo pessoal

Neste semestre, a UFT iniciará a discussão sobre o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), um momento ímpar para refletirmos sobre o futuro da Universidade para o quadriênio 2026-2030. O PDI é um instrumento de planejamento de médio prazo que permite às instituições definirem estratégias para alcançar seus objetivos, sendo comparável ao Plano Plurianual (PPA) utilizado pela União, Estados e Municípios.

 

O PDI em vigência foi debatido a partir de 2019 e implementado em 2021, durante a pandemia de Covid-19. Apesar do formato on-line, a participação de docentes, técnicos e alunos não foi representativa. É crucial entendermos a importância deste momento para a instituição, pois ele não só permite uma reflexão sobre a situação atual, mas também possibilita a exploração de alternativas para mitigar os danos causados pelas crises de autonomia, legitimidade e institucionalidade que afetam as universidades brasileiras.

 

Marilena Chauí destacou que as universidades estão perdendo sua essência ao se afastarem de sua função social e se transformarem em meras organizações. Ela argumenta que, como instituição social, a universidade é uma prática social reconhecida publicamente pela sua legitimidade e autonomia. Em contraste, quando se transforma em uma organização, ela se torna orientada pelo gerencialismo e objetivos específicos, focando na administração e esquecendo o porquê de sua existência e para quem serve. Enquanto a instituição social busca a universalidade, a organização se preocupa com as particularidades e eficácia.

 

Para evitar que o debate se restrinja a uma retórica vazia sobre o passado e o futuro, é importante discutir práticas concretas e eficazes. Como equilibrar a gestão gerencial da universidade com a manutenção de sua essência social? Em minha visão, isso se alcança por meio de uma gestão social participativa e engajada. Devemos convidar todos os envolvidos a participarem ativamente do processo, garantindo que a inclusão vá além de meramente garantir assentos à mesa, mas envolva uma participação qualificada nas decisões e na gestão.

 

A Universidade Federal do Tocantins é jovem, com apenas 21 anos, mas é essencial para o Estado e para a região centro-norte do Brasil. Precisamos, portanto, nos reconectar com a sociedade. Isso é imprescindível. Como faremos isso? Precisamos de um projeto de universidade, com métodos bem definidos, liderança e muito trabalho. Devemos trazer a sociedade para dentro do nosso espaço público, fértil e perene. Temos dezenas de docentes e técnicos administrativos capacitados e qualificados para fortalecer nosso papel como uma universidade verdadeiramente pública, não apenas uma organização gerencialista, mas uma instituição social preparada para enfrentar grandes desafios.

 

Dados do FONAPRACE (Fórum de Pró-Reitores de Assuntos Estudantis) mostram que 70% dos alunos das universidades federais brasileiras vêm de famílias com renda per capita de até 1,5 salário mínimo; na UFT, esse percentual supera os 80%. Esses dados, entre outros igualmente relevantes, são fundamentais para discutir o papel da Universidade não apenas como uma instituição operacional, mas como uma instituição social. Precisamos questionar: Por que existimos? A quem servimos? Como garantir a permanência com qualidade e dignidade dos jovens que buscam acesso ao conhecimento, mas precisam trabalhar para sustentar suas famílias?

 

Há milhares de jovens que precisam de oportunidades e ascensão social, e sabemos que a educação é o caminho para isso. Não devemos nos iludir com a ideia de que o empreendedorismo substituirá a educação superior. Recentemente, o curso de Economia da UFT, em parceria com o Conselho Regional de Economia, promoveu um evento acadêmico com egressos que compartilharam suas experiências com calouros e veteranos. O que ouvimos? Nossos egressos, bem posicionados no mercado e na área pública, destacaram que o conhecimento adquirido no curso e na UFT foi crucial para suas vidas e escolhas.

 

Apesar dos desafios impostos pela falta de financiamento público, pela propaganda negativa e pelas ações planejadas de grupos políticos e econômicos para descredibilizar a universidade pública, ainda há espaço para o debate e para renovarmos nossa esperança. Precisamos retomar o debate nos corredores, colegiados e câmpus, e, especialmente, trazer a sociedade em sua plenitude e representatividade para dentro da universidade pública, que tem se enclausurado em processos burocráticos.

 

Devemos avançar além das questões gerenciais e reafirmar a universidade como uma instituição social. Enquanto docentes, técnicos e alunos, devemos participar ativamente do espaço criado pela UFT para discutir o PDI (2026-2030), indo além do debate operacional e avançando na discussão sobre o papel da Universidade como instituição social.

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