Reflexão também faz mal? SOU NEGRA E DAÍ?

O artigo da jornalista e pedagoga Íris Silva busca uma reflexão sobre o Dia da Consciência Negra

Jornalista busca provocar reflexão sobre a data
Descrição: Jornalista busca provocar reflexão sobre a data Crédito: Arquivo Pessoal

Pensei, pensei... e resolvi refleti neste 20 de outubro - Dia da Consciência Negra, comemoração que muitos não aceitam, pois querem o dia do branco... Até posso entender esse pensamento, mas não posso entender porque não entendem o real motivo dessa data, pois digo: a data vem para relembrar as injustiças de um período obscuro, que transformou seres humanos em animais, máquinas e outros instrumentos, que no período colonial foram tratados como objetos, escravizados, comercializados sem direito a nada e como recompensa chibatadas, torturas e mortes, tudo por causa de UMA COR.

 

Será mesmo que a cor da minha pele diz o que sou? Será se a cor, hoje etnia, qualifica eu como pessoa digna, inteligente, rica, pobre, preconceituosa? Dentre outras qualidades ou defeitos que eu possa ser ou ter? Tudo que os negros passaram, sofreram, foram excluídos, torturados... será se até hoje não pode justificar um dia de pensamentos, homenagens e orações a este povo que tão maltratado foi?

 

A verdade é que muitos acreditam que não. O que precisamos mesmo é de respeito uns para com os outros, independente de cor, raça, etnia, pois todos somos seres humanos e nossa dignidade vale muito mais do que qualquer forma preconceituosa.

 

Nós, negros, nos espelhamos no maior líder do Quilombo dos Palmares, o Zumbi, que nesta data completa 322 anos de sua morte. Foi por causa dele que muitos negros foram livres, saíram das fazendas, senzalas e prisões, buscando lutar sempre pelos seus direitos, mesmo que para isso a própria vida lhe foi tirada.

 

Vida essa que muitos continuam perdendo, justamente pelo preconceito e falta de respeito que até hoje acompanha a humanidade. Infelizmente a quem diga e afirma que o Brasil, onde a maioria da população é negra, é um dos países mais racista do mundo. Essa forma preconceituosa está explicita na publicação feita ontem, 19 de novembro, no site do Fórum Brasileiro de Segurança Pública – FBSP, onde destaca o Mapa da violência contra negros e negras no País, um índice que chama atenção dessa triste realidade.

 

Na pesquisa foram publicados dados como: Mulheres negras representam 65% das vítimas de homicídio do sexo feminino; 44% das mulheres negras sofrem assédio no espaço público e as brancas 35%; A cada 100 vitimas de homicídio 71 são negras; Dos policiais vitimas de homicídios entre 2015 e 2016, 56% são negros; Das vitimas nas intervenções policiais realizadas entre 2015 e 2016, 76% são negros.7% das mulheres negras são abordadas de maneira agressiva em uma festa, e as mulheres brancas 4%.  A pesquisa completa está disponível

em: http://www.forumseguranca.org.br/publicacoes/retrato-da-violencia-contra-negros-e-negras-no-brasil/

 

Outras violências também estão nos variados espaços, seja escolas, faculdades, lares...e qualquer lugar, isso é fato, infelizmente, nós, negros constantemente temos que impor respeito e lembrarmos que somos seres humanos da mesma forma que os demais.

 

Agora, só espero que essa reflexão não seja motivo também de preconceito, pois foi escrita por uma negra que tem orgulho de ser negra, mas também já fui discriminada, no entanto, sempre aproveitei as adversidades para ser vitoriosa. Tive oportunidade de nascer, estudar, dialogar, trabalhar, falar, compartilhar, batalhar, vencer, ser gente, além de carregar o nome de esperança, respeito, dignidade... EU SOU NEGRA E DAÍ? Somos todos seres humanos.

 

Íris Silva - Ivanete Rodrigues da Silva – Jornalista/pedagoga

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