Manifesto aqui, meu apoio e considerações acerca do texto que Roberta Tum escreveu e que causou tanto debate nas ruas, nas redes sociais e até nas instituições. Se algumas pessoas se sentiram ofendidas com o conteúdo da mensagem e provocou tanto movimento, entendo que ele cumpriu seu papel. Em nenhum momento percebi no seu texto as tais “tendências”, são fatos.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística realiza pesquisa sobre a sensação de segurança da população brasileira em relação ao seu domicílio, bairro e cidade. A região Norte do Brasil apresentou em 2012 os menores índices de sensação de segurança, ou seja, é a região que se sente menos segura.
O sentimento de insegurança se alastra dia após dia, de mãos dadas à cultura do ódio que ganha cada vez mais terreno nas redes sociais e no cotidiano.
Um texto que tem apresenta uma reflexão sobre o cotidiano a partir de um fenômeno específico - a morte de um cidadão- não poderia causar tamanha polarização, afinal de contas não ouço, nem leio nas redes sociais nada diferente do que ali está. Faltou reflexão dos leitores sobre seus próprios discursos. “Primeiro eu ataco o coleguinha, depois posto um versículo da bíblia na timeline e está tudo certo!”.
Façamos uma análise a partir do conceito de segurança e liberdade a que se refere Zygmunt Bauman em seu livro "Confiança e Medo na Cidade" (2009). Para o sociólogo polonês que conheceu o Brasil e inclusive faz referência à cidade de São Paulo nesse livro, a segurança e a liberdade definem o tipo de sociedade que temos, ou seja, quanto mais segurança, menos liberdade.
A cidade de Palmas, assim como São Paulo, é feita de muros, cada vez mais altos e adornados com cercas elétricas e concertinas, câmeras de segurança, portões eletrônicos e uma organização espacial que inviabiliza o deslocamento a pé. Essa estética por si só apresenta o sentimento de insegurança, o espaço privado então é que representa a sensação de segurança, pelo menos quando estamos nele.
Quanto aos espaços públicos, temos as “leis” impostas pela criminalidade. Não ande na praça dos girassóis a noite. Não frequente bairro tal caso não resida lá ou conheça alguém de lá. Volte antes da meia noite para casa. Não deixe nenhum objeto exposto no carro. Tranque tudo, e se possível se tranque dentro... Isso, definitivamente não representa liberdade, portanto, só pode significar insegurança.
Outra característica das cidades é o “estrangeirismo”, não me refiro aqui as pessoas que vieram de outro lugar. Ainda de acordo com Baumam (2009), o estrangeirismo é a sensação de desconhecimento do outro. Estamos sempre alerta por que, mais uma vez, os muros altos e a falta de segurança nos impedem de conhecer o outro, e portanto, o outro sempre é estrangeiro: à minha casa, ao meu bairro, a minha alameda, a minha quadra... o excesso de individualidade nos leva a viver num ambiente de tensão e constante estado de medo.
E, por falar em medo, - que desencadeia descargas de adrenalina que geram um estado de ansiedade – nosso reflexo mais primitivo é o ataque. Ataque ao “estrangeiro”, esse sujeito que mora na mesma cidade que eu, mas que não o conheço, ou até acho que conheço.
Sobre justiça, a frase “a sensação de que os filhos de ricos, de juízes, promotores, desembargadores, de políticos, seguem aprontando e se livrando” representa não só o que penso, mas o que de fato tem acontecido. Temos vários casos em palmas e no Tocantins, infelizmente, aos esquecidos, basta fazer uma busca na internet e encontrar as notícias. O perfil da população carcerária apenas confirma o exposto.
Num Estado que ainda apresenta índices preocupantes de analfabetismo, pobreza, falta de saneamento e acesso a água tratada, não podemos nos indignar mais com uma crítica ao sistema do que com os egos institucionais.
Eduardo Cezari é doutor em Educação em Ciências e Matemática e professor da Universidade Federal do Tocantins.
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