Sim, as pessoas são conscientes que discriminam os negros

Minha intenção não é defender ou questionar o Dia da Consciência Negra, mas chamar atenção exatamente para as pessoas conscientes e responsáveis, pelas discriminações sofridas por negros.

 

Durante uma entrevista para falar de discriminação, a repórter me perguntou se eu nunca havia pensado em processar alguém pelos inúmeros relatos que contei já ter sofrido e sofro no meu dia-a-dia.

 

Então fiquei pensando, devo processar as vendedoras que não quiseram me atender em lojas? Ou aqueles que acham que sou adotada por que sou negra e minha mãe é branca e loira? Ou todos que já perguntaram se sou a empregada doméstica da minha mãe? Processar aqueles que falam que preto não tem mesmo que estudar? Devia ter processado meus coleguinhas quando me chamava de cabelo de Bombril, cabelo duro de pixaim, macaquinha, neguinha, etc?

 

Também processar as professoras que nos teatros da escola me davam o papel da empregada ou da pobrezinha lavadeira de roupa?  Minha conclusão é que vou ter que processar muita gente. Pode ser que em um único dia processe pelo menos cinco pessoas.

 

Lembrei de algumas situações em eventos que me confundiram com a faxineira e me mandaram limpar mesa, varrer o chão e na cara de surpresa quando respondia “sou jornalista, não sou da equipe de limpeza”. Não estou desmerecendo a profissão de faxineira, mas enfatizando o fato de muitas pessoas assimilarem o negro com o que fazem os serviços braçais, os mais pesados e os de limpeza.

 

Então todos estes atos foram praticados por pessoas que não tem consciência do que é preconceito? Devo afirmar que o preconceito atinge de forma natural e direta os negros por falta de consciência? Insisto: só o negro tem consciência do que sofre? Se há consciência da sociedade por que a mudança é tão lenta?

 

Me orgulho de ser negra, de ter o cabelo cacheado e crespo. Me orgulho da minha raça. E aos que me discriminam sou superior a isso e não é minha negritude que determina minha capacidade, minha competência e tão pouco meu caráter.

 

Ainda que tenha apresentado alguns avanços nos últimos anos e mesmo tendo esperanças, as vezes desacredito que é possível que ainda haverá igualdade. E é fato que está longe de acabar com a discriminação praticada por seres humanos considerados racionais e conscientes, sim, dos seus atos.

 

Thaise Marques

Jornalista

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