A Universidade Federal do Tocantins foi forjada na luta de estudantes, de professores e de toda a sociedade tocantinense. Foi criada em 2000 e somente implantada em 2003! É uma universidade do século XXI. Em maio comemoramos 21 anos da posse dos primeiros docentes concursados, muitos destes, vieram de longe carregando uma mochila de sonhos e continuam aqui, até hoje. Alguns deram a sua contribuição e foram viver experiências em outros lugares do Brasil. Outros se foram para sempre e deixaram as suas marcas por onde passaram.
Por muitos anos o sentimento de construir uma grande universidade nos uniu, apesar das divergências de pensamento, o que é natural dentro de uma instituição social com alto nível de criticidade. Assim, crescemos e ganhamos musculatura. Saímos de 29 cursos de graduação e apenas um programa de mestrado para mais de 60 cursos de graduação e diversos programas de mestrado e de doutorado reconhecidos nacionalmente. Nascemos, crescemos e já temos uma filha, a UFNT.
Ao longo dessa jornada criamos programas, projetos e por meio do esforço de muitos de dentro e de fora da Universidade, nos aproximamos da população, seja por meio da diplomação de um curso de graduação, de pós-graduação ou de projetos de extensão e de pesquisa. Não demorou muito e aos poucos a sociedade tocantinense se acostumou com a marca UFT.
Após nove anos de descaso com a educação superior por parte do governo federal, de uma crise pandêmica, e, por vezes, por letargia da nossa parte, estamos aqui catando os cacos! O que somos? Para quê e para quem existimos? Entendo que a Universidade é uma instituição social e por isso deve se colocar para além dos muros, que se propõe a existir para falar para e com as pessoas, uma Universidade do século XXI, que deve compreender a complexidade desse tempo. Foi nesse contexto que surgimos!
Precisamos reafirmar: “quem somos”, “para quem falamos” e “a quem servimos”. Afinal, quem é essa UFT que fala ao Brasil, à região norte, mas que dialoga e serve, primordialmente, ao povo do Tocantins? Esta universidade, encrustada no centro-norte do Brasil, que é rica em diversidade. Fomos vanguarda no estabelecimento de cotas para os indígenas e quilombolas, mas, infelizmente, eles e tantas outras, outros e outres ainda estão invisíveis em nossa instituição. Só quem enfrenta o desafio diário de ser melhor e que se dispõe a fazer o melhor pela coletividade será capaz de construir e sustentar esse conceito, pois cada um de nós representa essa diversidade na universidade.
Precisamos reconhecer isso em nossas práticas diárias, algo que só se dará se nos balizarmos pelo respeito e nos abrirmos ao autoconhecimento. É esse espírito que precisamos resgatar após anos sem entrar no orçamento de governos, invisíveis a boa parte da sociedade que não nos reconhece e encastelada em seus muros invisíveis e sem saber como dialogar com a sociedade. Não será pela inteligência artificial, nem pelos complexos e confusos sistemas de informáticas, nem pelas frias planilhas de excel que conversaremos, nos integraremos e reconectaremos com a sociedade, mas, sobretudo, com diálogo, com políticas que possam referenciar socialmente esta universidade.
A sociedade mudou, as relações mudaram e as visões de mundo se expandiram, exigindo um novo modelo de universidade, com menos barreiras e com mais projetos, descentralizada, que caminhe rumo às bases da sociedade com as portas abertas para entrada e saída de conhecimento.
Apenas pela integração interna, com nossa comunidade administrativa, acadêmica e científica coesa, e pela integração externa, com o estabelecimento e manutenção de diálogo constante entre nossos agentes e a comunidade, chegaremos a esta universidade que agora sonhamos e que precisa ser construída por muitas mãos: mãos que se apoiam, se respeitam, se enobrecem. Tenho certeza de que, só a partir de nossa maior riqueza – a pluridiversidade humana que nos integra em uma universidade mestiça e multicultural –, poderemos dar continuidade à nossa missão de formar profissionais cidadãos e produzir conhecimentos com qualidade e que contribuam para o desenvolvimento socioambiental do Estado do Tocantins e da Amazônia Legal.
Não podemos permitir que a desesperança forjada em tempos difíceis seja um fator impeditivo de mudanças, afinal, a busca pela melhoria de nossas práticas acadêmicas e de gestão deve ser permanente. Por isso, é preciso ousar e pensar em novas estruturas organizacionais e formatos de gestão administrativa e acadêmica que deem conta dos nossos sonhos, dos constantes avanços tecnológicos e transformações socioculturais. Nesse sentido, e diferente do modismo do ciberespaço, devemos nos engajar em promover uma gestão feita com as pessoas e para as pessoas. Assim, promovendo a participação, maior autonomia e flexibilidade ao fazer universitário, constituiremos nossa identidade ao mesmo tempo que fortaleceremos nossa cultura como instituição socialmente responsável.
*Por Ana Lúcia de Medeiros, professora do Curso de Ciências Econômicas e do Programa de Mestrado e de doutorado em Desenvolvimento Regional da UFT.
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