Apesar dos avanços conquistados nas últimas décadas, a presença feminina na política continua sendo alvo de hostilidade, preconceito e ataques, especialmente contra mulheres que ousam liderar. Hoje, como deputado estadual, mas também como esposo de uma mulher extraordinária, que geriu uma capital por quase 7 anos me sinto à vontade de fazer essa reflexão, tomando por base as várias críticas e perseguições vividas ao longo de seu mandato e que penso eu, não seriam recebidas se homem fosse.
Única prefeita eleita de uma capital nas eleições de 2020, Cinthia assumiu a prefeitura com coragem e determinação, rompendo barreiras históricas em um espaço predominantemente masculino. Desde o início de sua gestão, em 2018, mostrou compromisso, competência e sensibilidade, transformando a realidade de milhares de cidadãos. No entanto, ao longo de seu mandato, e especialmente na reta final, ela vem sendo vítima de uma campanha sistemática de ataques que buscam deslegitimar sua administração, enfraquecer sua autoridade e minar sua reputação.
Esses ataques não são críticas legítimas ou discussões políticas saudáveis, que fazem parte de qualquer democracia, mas sim uma estratégia de retaliação e intimidação. Eles vêm na forma de denúncias infundadas, boicotes administrativos, disseminação de fake news e, até mesmo, atitudes de sabotagem por parte de grupos opositores, quase todos compostos por homens que se recusam a aceitar uma mulher ocupando a posição de liderança.
A violência política de gênero, nesse contexto, não é apenas um ataque individual, mas impede que outras mulheres se sintam encorajadas a entrar na política. É um recado cruel de que, mesmo quando conquistam espaços de poder, elas serão constantemente desafiadas, não por sua competência, mas por seu gênero.
Este comportamento representa um retrocesso democrático e um crime, cuja lei que o considerou ato criminoso completou três anos, em agosto deste ano. Trata-se da Lei nº 14.192/2021, que alterou o Código Eleitoral para reprimir a violência contra as mulheres no cenário público.
Por outro lado, há uma preocupação sobre uma prática até então pouco conhecida, chamada de lawfare de gênero, sendo law traduzida em lei e warfare, guerra, portanto significando o “uso da lei como ferramenta de guerra”.
O lawfare de gênero ocorre quando há a manipulação do sistema legal para prejudicar pessoas com base em seu gênero, na maioria das vezes mulheres. Os efeitos destas falsas acusações e distorções afetam não apenas a integridade pessoal como a de todo o sistema judiciário.
É inaceitável que tenhamos que enfrentar atitudes que desrespeitam não só a dignidade das mulheres, mas também a vontade popular que as elegeu. Como esposo, testemunho diariamente o impacto emocional que essa violência provoca. Não é apenas a prefeita que sofre; é a mulher, a mãe, a profissional que dedicou sua vida ao serviço público. É doloroso ver sua força colocada à prova por ataques tão mesquinhos, mas também é inspirador perceber sua resiliência em seguir adiante, transformando a dor em coragem e persistência.
É urgente frear qualquer forma de pactuação, direta ou indireta, com atitudes machistas. Respeitar as mulheres na política é não silenciar suas vozes, tornando o ambiente político seguro para que lideranças femininas atuem nos espaços de poder.
Cabe a nós cidadãos, questionar ataques misóginos disfarçados de críticas políticas e denunciar esta prática. Minha esposa não está sozinha. Sua luta é a de milhares de mulheres que sonham em ocupar cargos de liderança e fazer a diferença na vida das pessoas.
Eduardo Mantoan é Deputado Estadual pelo PSDB-TO e Mestrando em Gestão de Políticas Públicas pela Universidade Federal do Tocantins.
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