Anestesistas dizem que pagamento do governo representa menos de 7% de dívida

Descumprindo acordo de pagar R$ 1,6 milhão mensais à categoria, governo paga apenas R$ 980 mil de uma dívida que atualmente é de R$ 12,7 milhões

Anestesistas que atendem no HGP não receberam
Descrição: Anestesistas que atendem no HGP não receberam Crédito: Foto: Divulgação

Os anestesistas cobram do governo do Estado uma dívida que, segundo a Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do Tocantins (Coopasnet), chega a mais de R$ 12,7 milhões. O governo realizou o pagamento de R$ 980 mil na última quarta-feira, 31, no entanto, o presidente da Coopasnet, Mário Sergio Fortes Borges, disse que o valor representa menos de 7% do total da dívida e que os anestesistas irão reduzir as escalas nos hospitais públicos do Tocantins.

 

Em entrevista ao Portal T1 Notícias na tarde desta quinta-feira, 1º de setembro, Mário Sergio afirmou que o governo não está cumprindo o acordo firmado com a Coopasnet, que foi protocolado no Ministério Público, em maio deste ano. Foi acordado que seriam repassados mensalmente R$ 1,600 milhão dos serviços prestados pelos profissionais, e cerca de R$ 180 mil de verba do Sistema Único de Saúde (SUS).  “Não conseguiu quitar a fatura de setembro de 2015, deve outubro, então é uma negociação precária. O Estado não deposita nem o mínimo suficiente. Na verdade o Governo não pagou R$ 980 mil, pagou R$ 800 mil e repassou a verba Federal”, afirmou Sergio.

 

O presidente da cooperativa disse que espera que o governo firme um ajuste de conduta com a categoria. “Porque o Governo não cumpre os acordos feitos. Vamos reduzir as escalas e o jurídico da cooperativa vai tentar negociar para receber. Porque nós nunca paramos de trabalhar. Nós não podemos deixar de fazer as cirurgias de urgências e emergências”, disse Mário Sérgio.

 

Greve de fome

Desde as 7 horas do dia 31 de agosto, o médico anestesista Roberto Corrêa Ribeiro de Oliveira está fazendo greve de fome em frente ao Hospital Regional de Araguaína, por causa da dívida que o Governo tem com a categoria.

 

Nesta quinta-feira ele fez uma postagem na sua página no Facebook relatando como foi ficar 24 horas sem ingerir nenhum alimento. “Quase vencendo as primeiras 24h de jejum forçado. Confesso que um turbilhão de sentimentos fervilha na minha cabeça. 17 anos de trabalho dentro do centro cirúrgico, tinham me afastado do sofrimento e do desespero da porta de um pronto socorro”, relata o médico.

 

O anestesista descreve ainda como passou a noite. “Dormir sentado em uma cadeira desconfortável, também me mostrou como às vezes pode demorar para o ponteiro do relógio completar o seu longo percurso. Um sentimento estranho também me domina. Ao mesmo tempo que tenho medo de não conseguir cumprir o objetivo à que me produz, decepcionando muitas pessoas queridas, surge uma força interior mais forte que me impulsiona rumo a vitória. Sentir fome por "opção", com certeza é bem mais fácil, do que enfrentar o prato diário vazio da miséria e da pobreza”.

 

O médico disse que contou com a solidariedade da família e dos amigos que, segundo ele, ajudaram a “anestesiar a tristeza de ver que a nossa profissão médica corre grande perigo. Não nos respeitam mais. É triste ver o medo, misturado com um certo grau de admiração, nos olhos dos meus queridos alunos de medicina, que veem o sonho e a magia de se tornarem médicos ameaçado”.

 

Carta aos anestesistas

Circula no aplicativo de troca de mensagens WhatsApp uma carta, endereçada à cooperativa dos anestesistas, assinada por um suposto paciente da traumatologia do Hospital Regional de Gurupi (HRG). Itaéres Pereira de Sousa, fala do tempo que aguarda por uma cirurgia e pede uma solução aos médicos.

“Quero fazer um pedido a toda a categoria que reanalisem a situação e vejam, não somente como os profissionais que são, mas sim como ser humano. Que vejam que centenas de pessoas entre idosos, crianças e principalmente pais de famílias que sofre essa angustia em muitos casos há mais de cem dias”, afirma o paciente na carta.

Em outro trecho, ele diz que entende as dificuldades financeiras dos profissionais, que precisam receber para sobreviver, mas faz apelo: “Todos nós sabemos que passam por grandes dificuldades, que não recebem seus proventos a muito tempo e que também precisam desses proventos pra própria sobrevivência, mas que não deixem de refletir, em quantos pais de famílias agora dependem totalmente de vocês, seja pra voltar a ter uma vida normal ou sequela,  mas que possamos voltar ao seio das nossas famílias. Não sou dos mais antigos aqui dentro do hospital, tem muita gente com o triplo do tempo que eu e que as suas esperanças diminuem a cada dia que passa”. 

(Atualizada às 19h04)

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