Historiadores formados pela Universidade Estadual do Tocantins (Unitins) se juntam mais uma vez para escarafunchar lembranças, recordar memórias e compartilhar sentimentos de afetividade que começaram a ser cultivados em sala de aula, em 1985 quando ingressaram da antiga Faculdade de Filosofia do Norte Goiano (Fafing), que mais tarde seria absorvida pela Unitins.
A turma colou grau em 1988, ano em que o Estado do Tocantins foi criado. A partir daí e ao longo de 15 anos voltaram a se reencontrar. Este ano, tiveram o privilégio de comemorar o 30º Reencontro dos Alunos da Primeira Turma de História da Unitins, realizado no último dia 20, em Porto Nacional.
Pelo menos 17 dos 26 historiadores pioneiros estiveram presentes no encontro que chama cada vez mais atenção pela longa duração. Eles têm o orgulho de ter feito parte da primeira turma do curso de História da antiga Faculdade de Filosofia do Norte Goiano (Fafing) e por um dia voltam a viver a experiência inesquecível da sala de aula. E o que não faltam são histórias, contadas e recontadas. A turma concluiu o curso em 9 de dezembro de 1988, mas somente cinco anos depois, em 17 de março de 1993, foram diplomados, agora pela Universidade Estadual do Tocantins (Unitins) que absorveu a Fafing a partir de 1990, quando foi criada.
Para conseguir se formar a turma ajudou a faculdade a encontrar professores de história. “Tudo era muito difícil. Em Porto Nacional não tinha nenhum professor com formação em História, nós que tivemos que ir atrás de uma professora com formação em História, professora Vanda que veio do Rio de Janeiro e que ficou responsável pelas disciplinas específicas”, conta a professora Marinalva do Rêgo Barros, revelando que para viabilizar a vinda da professora tiveram que arrumar emprego também para o marido dela. “Era uma turma muito engajada”.
Marinalva conta que a turma ainda conseguiu realizar um encontro científico que marcou o curso. “Como a faculdade não tinha condições de realizar o evento fomos atrás de parceria. Mandamos um projeto para a Universidade Federal de Goiás (UFG) e conseguimos o apoio do professor Sérgio Paulo Moreira, que nos ajudou a realizar o I Encontro de História que ficou marcado em Porto Nacional”, conta. Marinalva revela ainda que os professores do curso foram homenageados pela turma durante os encontros, “muitos participaram dos encontros”, relembra.
“Para mim é tudo muito original, um fenômeno difícil de explicar: um grupo de colegas depois de tanto tempo ainda consiga encontrar significado no fato de ter estudado junto”, observa Marinalva. Hoje, integrando o quadro de docentes da Unitins, ela é uma das entusiastas dos encontros e avalia que isso só está sendo possível porque “temos consciência de que fizemos parte da história de uma instituição de ensino superior”.
Quem também compartilha desta percepção é a também professora Maria do Socorro Manduca, que lembra que era muito difícil estudar naquela época em função da carência da faculdade. “Considero que fomos guerreiros, enfrentando todo tipo de dificuldade, mas não desistimos. Acho que foi determinante para isso o fato de sermos muito unidos”, explica a historiadora cheia de orgulho da trajetória profissional que conseguiu trilhar. Ela conta que logo depois de formada veio o Estado do Tocantins e a oportunidade de fazer concursos. Hoje Maria do Socorro é servidora pública efetiva do quadro da Secretaria da Fazenda.
Ritual
O encontro começa com a tradicional chamada em que os participantes respondem "presente". O evento conta ainda com espaço para troca de experiências, apresentações culturais e confraternização. “O 30º foi maravilhoso, recordamos tudo que passamos e as barreiras vencidas, foi muito divertido”, conta Maria do Socorro Manduca, que diz guardar dos encontros a sensação de viver a experiência da sala de aula.
“Mais uma vez foi muito emocionante rever a turma, já desfalcada por três colegas que perdemos, mas acredito que eles também estavam lá conosco”, declara Maria José da Costa, a Mazé, que faz questão de destacar que o próximo encontro já ficou marcado e já está sendo organizado.
Marinalva acredita que a dificuldade de fazer um curso superior na época talvez tenha contribuído para essa união. “Não foi fácil. Nunca imaginávamos ter a oportunidade de cursar o ensino superior, quando chegou foi algo tão importante que sentíamos que era preciso fortalecer esse processo”, comenta.
Fafing
A Faculdade de Filosofia do Norte Goiano (Fafing) começou a funcionar 1985, em Porto Nacional com os cursos de graduação em História, Geografia, Letras e Ciências Biológicas (licenciatura curta). A instituição tinha como objetivo formar professores para atender a demanda da rede pública de ensino.
A Fafing foi incorporada pela Unitins, a partir de 1990. A primeira turma de História se formou em 1988, mas só foi receber o diploma em 1993, quando já havia se tornado Unitins. A turma era formada por 40 alunos, mas apenas 26 concluíram o curso.
Mais tarde Marinalva do Rêgo Barros voltou ao curso, dessa vez como professora, contribuindo para a sua consolidação. “Fomos convidados a lecionar no curso de História, fui professora durante dois anos. Foi muito bom. Já tinha feito uma especialização em História Econômica e foi uma experiência muita rica, tentei repassar um pouco do que aprendi, o gosto pela história”, conclui.
As palavras da poetisa Marinalva que estampam camisetas e adereços representam bem o sentimento da turma que promete continuar os encontros que desafiam o tempo em busca de um momento para partilhar alegrias, sonhos e esperanças que aprenderam a cultivar juntos.
Não tenho medo/
do tempo/
Fizemos o pacto do reencontro/
Todo ano/
Estarei aqui/
Pra me aquecer/
no seu abraço/
E reviver/
A nossa História.
Comentários (0)