Augustinópolis concentra 13% dos pequenos negócios abertos na última década no Bico

Na área urbana, predominância é de minimercados, vestuário, beleza e venda de material para construção.

Poliene Gomes é uma das 606 pessoas que se formalizou como MEI em Augustinópolis
Descrição: Poliene Gomes é uma das 606 pessoas que se formalizou como MEI em Augustinópolis Crédito: Ananda Portilho

"Comecei vendendo um único produto e não parei mais". Essa é a fala da empreendedora Poliene Gomes do Nascimento, que há 14 anos possui uma loja de cosméticos no município de Augustinópolis, extremo Norte do Tocantins. O negócio, que hoje está consolidado, foi construído como um anexo na casa onde mora e guarda uma imensidade de produtos, que são vendidos diretamente para salões de beleza de toda a região do Bico do Papagaio e de algumas cidades do Maranhão.

 

“Eu queria ter uma renda e não sabia como. Na época, minha filha tinha dois anos de idade. Foi aí que meu cunhado me deu uma unidade de determinado produto para que eu vendesse e desde então eu nunca mais parei”, conta Poliene. Hoje, a loja é a principal fonte de renda da família composta por três pessoas.

 

Apesar da trajetória longa, o negócio da Poliene só passou a existir de maneira formal há pouco mais de cinco anos, quando ela abriu um CNPJ como Microempreendedora Individual. “As pessoas me falavam que eu precisava ter um MEI, então procurei o Sebrae e formalizei minha atividade”, conta a empreendedora.

 

Mesmo formalizada, Poliene deixou que as mensalidades se acumulassem por três anos, até perceber que precisava aprimorar seu negócio e regularizar sua situação. Hoje, dois anos depois, a empreendedora usufrui dos benefícios e facilidades que o MEI proporciona. “Ano passado acessei uma linha de crédito para investir na loja e foi algo que me ajudou muito”, pontua.

 

A loja de Poliene é um dos 989 pequenos negócios abertos em Augustinópolis na última década - de 2013 até maio de 2023. O quantitativo corresponde a 13% dos 7.357 empreendimentos de pequena escala formalizados no Bico do Papagaio no mesmo período, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

 

“Em Augustinópolis, a predominância é de minimercados, vestuário, beleza e comércio de materiais de construção. Pelos números que observamos na cidade, consideramos um mercado maduro, uma vez que mais de 50% dos negócios existentes possuem mais de três anos de funcionamento. Essa maturidade faz com que as pessoas que desejam abrir um novo negócio na cidade busquem uma especialização mínima para entrar no mercado e ter clientes”, observa a analista técnica do Sebrae Tocantins, Sirlene Martins.

 

Organização empresarial

 

 

Se o boom de abertura de empreendimentos de pequeno porte ocorreu na última década, foi também nesse mesmo período que surgiu a Associação Empresarial de Augustinópolis (Assea), com o objetivo de organizar, representar e fortalecer o mercado local. Mas, os pequenos negócios ainda são minoria entre o número de associados. “Atualmente temos 27 empresas associadas e apenas duas são empresas de porte reduzido”, explica o presidente da Assea, o empresário Ronivon Teodoro, de 45 anos.

 

“Nosso objetivo principal nesse cenário é trabalhar para agregar esses negócios de pequeno porte, que são uma parcela importantíssima para o nosso comércio local. Queremos receber desde os MEIs até empresas de pequeno, médio e grande portes”, complementa o gestor.

 

Auxílio

 

Na especificação de pequenos empreendimentos abertos na última década em Augustinópolis, os MEIs são maioria, com 606 formalizações. Logo em seguida aparecem as microempresas, com 305 aberturas. Com números expressivos em relação aos negócios de pequeno porte, o comportamento do mercado augustinopolino abre espaço para a expertise de profissionais formados em instituições locais.

 

Há quase um ano, Poliene concilia o auxílio que recebe do Sebrae com o acompanhamento realizado pelo Núcleo de Práticas Contábeis (NPC) da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins). A empreendedora se inscreveu em um edital lançado pela instituição no ano passado, que garantiu o acompanhamento por 12 meses.

 

“Para mim foi uma virada de chave. Melhorei em 100% meu negócio com a consultoria prestada por eles”, relata Poliene. O acompanhamento é parte do processo de formação dos acadêmicos de Ciências Contábeis da Unitins/Câmpus Augustinópolis. Os atendimentos realizados no Núcleo são o primeiro contato real dos estudantes com empreendedores locais e de toda a região do Bico do Papagaio.

 

O trabalho é realizado com o apoio do Sebrae, que recebe os acadêmicos em visitas técnicas, promove eventos relacionados à temática e colabora com o processo de capacitação dos alunos, que se tornam multiplicadores dos conhecimentos adquiridos junto à entidade.

 

“Para os nossos acadêmicos é uma oportunidade única de receber orientações, tirar dúvidas, compreender os processos que envolvem a formalização e a manutenção desses pequenos negócios, que são muito característicos da nossa cidade. Sem dúvidas, nos orgulhamos de ser multiplicadores e formarmos profissionais que saem da universidade com experiência real de mercado”, frisa a coordenadora do curso de Ciências Contábeis da Unitins/Câmpus Augustinópolis, Ana Paula Monteiro.

 

 

Bico do Papagaio

 

Os projetos da Universidade Estadual do Tocantins não se restringem ao comércio urbano de Augustinópolis. De acordo com dados do Sebrae, o número de pequenos negócios na cidade sobe para 1.329 quando somadas as empresas rurais. Em uma análise da região do Bico do Papagaio, os empreendimentos de pequeno porte ligados ao agronegócio são maioria.

 

“Pela forma como ocorreu o desenvolvimento do Estado, houve a criação de vários assentamentos provenientes da reforma agrária. Esses assentamentos receberam um grande número de famílias, resultando na formação de diversas pequenas propriedades. Devido ao tamanho reduzido dessas propriedades, os produtores têm buscado atividades produtivas que gerem renda de forma mensal e constante. É por esse motivo que na região do Bico, por exemplo, há uma concentração de agroindústrias de laticínios. A produção de leite é uma atividade que ocorre diariamente, com entregas regulares, o que permite uma receita constante para os produtores”, explicou o coordenador de Agricultura do Sebrae, José Daniel Tavares.

 

 

Aos 53 anos de idade, o lavrador Paulo Alexandre dos Anjos, enfrenta um câncer de pele. Ele, a esposa e o filho vivem em uma propriedade rural no Projeto de Assentamento Transaraguaia, em Araguatins. A doença de Paulo é decorrente de mais de 40 anos de exposição ao sol excessivo na lavoura. A família vive da comercialização de verduras e de leite. E, agora, está implementando um criatório de tilápias em parceria com o Sebrae.

 

Mesmo em tratamento contra o câncer, seu Paulo conta que não pode parar. “Levanto às cinco horas para tirar leite das vacas e molhar a horta. Não posso pegar sol, mas trabalho da forma que dá”, relata. Ansioso, ele acredita que quando o criatório for finalizado as coisas vão melhorar. “O Sebrae veio aqui, já entregou os materiais e os tanques e agora estamos aguardando para montar. A criação de peixe vai complementar a nossa renda e ainda abre outras oportunidades como a irrigação da nossa horta”, comenta cheio de expectativas.

 

Além do trabalho feito in loco pelo Sebrae, seu Paulo é um dos produtores rurais da região do Bico do Papagaio que recebeu consultoria contábil gratuita por meio do projeto de extensão Consultoria Contábil para Pequenos Produtores (CPP Rural), também da Unitins/Câmpus Augustinópolis.

 

As atividades rurais desenvolvidas na propriedade do lavrador representam o perfil mais comum em toda a região. “No Bico do Papagaio o principal perfil dos pequenos negócios rurais passa pela agricultura familiar, mini hortas, psicultura, pecuária de corte e de leite. O Sebrae atua em conjunto com instituições de pesquisa do Estado para fornecer informações e tecnologia que tornem essas propriedades mais produtivas, desenvolvendo novas técnicas e aumentando a produção”, explicou a analista técnica do Sebrae, Sirlene Martins.

 

Comentários (0)