O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil prestou nesta terça-feira, 13, homenagem aos advogados de presos e perseguidos políticos na ditadura militar (1964-1985), em cerimônia realizada no auditório da sede da entidade em Brasília. Entre os homenageados estava a advogada Mery Ab-Jaudi, esposa de Epitácio Brandão, vice-presidente da OAB/TO.
O ato, conduzido pelo presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, foi intitulado “Memória à advocacia da resistência política” e representa uma contribuição da entidade ao resgate da história brasileira desse período. Foi organizado em parceria com a Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça da Câmara, presidida pela deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP).
Durante a solenidade, Ophir descreveu a cerimônia como um ato da maior importância porque prestou homenagem ao alvo e razão de existir da OAB, que são os advogados. “A Ordem só tem credibilidade por sua postura, sua luta por um país mais justo, igual e fraterno, luta por liberdade, e ninguém expressou melhor essa bandeiras no país do que os advogados que lutaram em defesa dos presos políticos e pelo restabelecimento da democracia entre nós”, discursou Ophir.
O evento marcou também o lançamento da Comissão Especial da Verdade do Conselho Federal da OAB, recém-criada por Ophir Cavalcante, com objetivo de subsidiar a Comissão da Verdade instituída pelo governo federal para trabalhar na busca da verdade histórica sobre mortes e desaparecimentos no período da ditadura militar. Na ocasião, inclusive, foi realizada a assinatura de um protocolo de cooperação entre a Comissão Especial da Verdade, presidida pelo membro honorário vitalício da OAB, Cezar Britto, e a Comissão Nacional da Verdade, que é coordenada pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Dipp.
Homenageada da OAB Tocantins
Mery Ab-Jaudi Ferreira Lopes é advogada, especialista em Direito Constitucional e Direito Administrativo, e pós-graduada em Políticas e Estratégia Nacionais e Administração Pública pela Unitins - TO. Na OAB, já foi membro do Tribunal de Ética, de 1998 a 2000, da Comissão de Exame de Ordem, de 2004 a 2009, e presidente da Comissão de Direitos Humanos, de 2007 a 2009.
No período de 1963 a 1972, Mary pertenceu ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Ainda no Ensino Médio iniciou sua atuação no movimento estudantil. Na Faculdade de Direito, na Universidade Federal de Goiás, foi secretária geral do Diretório Acadêmico. Na época, adotou o codinome de Berta. Chegou a ser presa e interrogada muitas vezes pelos militares. Era mantida encapuzada, incomunicável, em um cubículo apertado, reprimida e coagida, no 10º Batalhão do Exército, em Goiânia. A angústia e o sofrimento duraram quatro meses, até dezembro de 1972, quando foi indiciada como Comunista/Subversiva no Inquérito Policial Militar (IPM) nº. 687/73, instaurado em Goiás, o último a ser julgado.
“Os prejuízos foram enormes, morais, financeiros e físicos, mesmo quando ainda cursava a Faculdade de Direito, como após a sua conclusão em 1974. Tive que deixar o trabalho. Tentei um concurso público para Juiz de Direito Substituto, com êxito na primeira fase, mas na segunda, quando ocorre a investigação da vida pregressa, fui eliminada. A minha ficha de comunista e indiciada em processo Militar me eliminou, mesmo tendo sido absolvida”, contou Mery.
A partir de 1991, passou a residir no Tocantins, como Anistiada Política. E mesmo assim, a Agência Brasileira de Inteligência permaneceu acompanhando todos os seus passos, conforme consta no processo de anistiada em Goiás (Documento da Agência de Segurança Institucional). Hoje, Mery recebe uma reparação econômica de caráter indenizatório, na forma de pensão especial.
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