Depoimento contra Sandoval teria sido pago pelos Miranda, aponta investigação

O ex-governador Miranda, seu pai José Edimar Brito Miranda e o irmão Brito Miranda Júnior são suspeitos de ter negociado o depoimento de Aluízio de Castro Junior contra o ex-governador Sandoval

Sandoval e Marcelo Miranda
Descrição: Sandoval e Marcelo Miranda Crédito: Divulgação

Presos na manhã desta quinta-feira, 26, em operação da Polícia Federal por formação de quadrilha, o ex-governador Marcelo Miranda, seu pai José Edmar Brito Miranda e o irmão Brito Miranda Júnior são suspeitos de ter negociado o depoimento de Aluízio de Castro Junior contra o ex-governador Sandoval Cardoso. O depoimento foi concedido à imprensa na véspera das eleições de 2014, quando Sandoval disputava à reeleição e Marcelo Mirada era seu adversário. 

 

Conforme o juiz que assina o pedido de prisão preventiva dos Mirandas, João Paulo Abe, da 4ª Vara Federal de Palmas, o Ministério Público Federal (MPF) apresentou provas de que depoimento de Aluízio foi realizado para abafar as consequências do escândalo de Piracanjuba, que ocorreu apenas nove dias após o caso. 

 

O escândalo de Piracanjuba, que envolveu um avião transportando mais de R$ 500 mil e material de campanha de Marcelo, teve também como pivô o seu irmão José Edmar Brito Miranda Júnior. O caso posteriormente resultou na cassação de seu diploma de Governador pelo Tribunal Superior Eleitoral, já no ano de 2018.  

 

A Polícia Federal apreendeu na residência de Brito Miranda um documento contendo declaração datada de setembro de 2015 atribuída a Aluizio Castro. No documento, uma folha de agenda, Castro declara ter recebido pelo depoimento R$220.000,00 até a data de 08/09/2015 e que depois receberia outros valores cuja soma chegaria a R$ 480.000,00, a ser pagos entre setembro de 2015 a junho de 2016.  

 

Sobre o teor do depoimento, o Ministério Público Estadual (MPE) denunciou Sandoval, então parlamentar, à época, por utilizar notas frias para se apropriar de R$ 244 mil, recursos oriundos da Cota de Despesa de Atividade Parlamentar (Codap), destinada a custear os gastos de gabinete dos deputados estaduais. A ilegalidade foi praticada entre 25 de fevereiro de 2013 e 25 de fevereiro de 2014, período em que Sandoval Cardoso exerceu o cargo de presidente da Assembleia Legislativa do Estado.

 

Por essa denúncia, Sandoval Cardoso foi condenado pela Justiça do Tocantins, em junho de 2018, pelo crime de peculato, sendo-lhe imputada pena de três anos e quatro meses de reclusão, a ser cumprida em regime inicialmente aberto, mais o pagamento de multa equivalente a 112 salários mínimos.

 

Depoimento de Aluízio na imprensa

 

Em entrevista concedida na sede do Jornal Opção, em Goiânia, na véspera das eleições de 2014, Aluízio de Castro Júnior, um ex-servidor público do Estado do Tocantins, denunciou o esquema de lavagem de dinheiro que teria sido encabeçado pelo ex-governador e ex-presidente da Assembleia Legislativa, Sandoval Cardoso, e o secretário de Planejamento, à época, Joaquim Júnior. O esquema teria ocorrido quando ambos eram presidente e diretor-geral da Assembleia Legislativa, respectivamente. 

 

De acordo com Aluízio na entrevista, a pedido de Sandoval Cardoso e Joaquim Júnior, ele abriu uma empresa fantasma — que não exerce atividade, embora tenha circulação financeira — para emitir notas a fim de justificar o recebimento da verba indenizatória a qual o presidente daquela Casa de Leis tem direito.  Aluízio chegou a apresentar as supostas notas emitidas por serviços que nunca foram prestados, tendo inclusive confessado sua própria participação no esquema.

 

Escândalo de Piracanjuba  

 

O depoimento do ex-servidor aconteceu logo após a Polícia Civil de Goiás prender o empresário Douglas Schimitt, em Piracanjuba, cidade a cerca de 85 quilômetros de Goiânia,  com R$ 504 mil em um avião que carregava material de campanha de Marcelo Miranda.  

 

Além de Douglas, foram presos Roberto Carlos Maya Barbosa, o comandante Betão, que pilotava a aeronave; Marco Antonio Jaime Roriz, motorista da Hillux apreendida e Lucas Marinho Araújo. 

 

Schimitt chegou a dizer em entrevista que não tinha nenhuma ligação com os Miranda e que era vítima de armação tramada pelo candidato à reeleição, Sandoval Cardoso. Contudo, Douglas afirmou depois uma suposta tentativa de intimidação por parte de Marcelo Miranda, Brito Miranda e Brito Júnior, o que o motivou a fazer um Boletim de Ocorrência.

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