Gerente do O Boticário explica como nasce a fragrância de um perfume

Da etapa da pesquisa até a embalagem, são inúmeros trabalhos realizados a fim de alcançar o resultado desejado pelo cliente

Jean Bueno trabalha no O Boticário desde 2015
Descrição: Jean Bueno trabalha no O Boticário desde 2015 Crédito: Foto: Divulgação

Quando vemos os perfumes, com embalagens coloridas, formatos diferentes e cheiros maravilhosos nas prateleiras das lojas, nem imaginamos todo o processo que é realizado até chegar a essa etapa. A criação de fragrâncias não é nada simples e exige esforço de vários setores de uma empresa. Da etapa da pesquisa até a embalagem, são inúmeros trabalhos realizados a fim de alcançar o resultado desejado pelo cliente.

 

Para entender melhor como funciona todo esse processo, fizemos uma entrevista exclusiva com o gerente de Perfumaria & Presentes, Jean Bueno, que desde 2015 trabalha no O Boticário. Jean possui ampla experiência em empresas internacionais de perfumaria & cosméticos, incluindo a casa perfumista suíça Firmenich.

 

T1 Notícias: Como é feita a pesquisa para escolha de uma fragrância? Como é definido qual fragrância será ideal para o ano?

Jean Bueno: A escolha de um perfume diz muito sobre o gosto e perfil de uma pessoa. Na busca por inovação constante, O Boticário busca entender qual a personalidade que a marca quer traduzir em um perfume. Além disso, como líder de mercado, temos um time extenso de pessoas olhando tendências em Perfumaria, em Moda, em Gastronomia, o que as pessoas estão assistindo, os que os jovens estão fazendo e a evolução do gosto dos consumidores brasileiros. Tudo pode inspirar uma nova fragrância.  Fazemos também muitas pesquisas com consumidores e viagens a campo – para entender como as pessoas estão vivendo, consumindo e o que elas gostam.  Tudo para trazer um produto relevante e inovador para o mercado.Temos uma obsessão por inovação e qualidade.

 

Tudo isso é transformado numa ideia de produto – e partir daí fazemos o ‘briefing’ para uma casa perfumista que vai ‘traduzir’ essa ideia em uma criação olfativa.  Trabalhamos com os mais renomados perfumistas do mundo e sempre comparo o trabalho deles com o de um artista.  Um perfume é uma obra de arte que emociona e nos traz memórias.   

 

Um exemplo recente é o lançamento da Fragrância My Lily, um floral fresco, feita com uma técnica milenar chamada Enfleurage (onde conseguimos extrair através de um processo diferenciado, os óleos essenciais mais preciosos e delicados).  Essa fragrância, criada pelo perfumista francês Clemente Gavarry, traz a Flor de Narciso, uma flor que cresce naturalmente nos campos da França e não pode ser plantada ou domesticada.  Uma fragrância moderna, jovem, fresca e de altíssima qualidade.

 

T1 Notícias: Como nasce um perfume? Como é o processo de experimentação e misturas? Quanto tempo demora da concepção de uma ideia até a finalização da fragrância ideal?

Jean Bueno: O desenvolvimento de um novo produto de perfumaria é um processo longo. Entre estudos de tendência de mercado, desenvolvimento de fragrâncias com diferentes matérias-primas aromáticas naturais e sintéticas para que sejam combinadas de forma harmônica com o conceito desejado, avaliações e retrabalhos junto ao consumidor, até o produto final, o fluxo todo pode levar mais de dois anos.  Por se tratar de um processo de criação, feito por um artista (o perfumista), às vezes sentimos algo na primeira vez e já sabemos que está aí um potencial sucesso de mercado.  Outras vezes, chegamos a retrabalhar mais de 800 vezes uma única fragrância para chegar a um olfativo ideal e que vai ficar na pele. Para isso, usamos as melhores matérias-primas que existem no mercado mundial. Isso se traduz em fragrâncias icônicas e símbolo de mercado como por exemplo Malbec. 

 

T1 Notícias: Como é avaliada a possibilidade de retornar uma fragrância para o mercado? Porque relançar fragrâncias?

Jean Bueno: O relançamento de um produto é resultado de pesquisas com os consumidores e estudos de tendências e de mercado. Essa etapa é de extrema importância para entender o que o consumidor deseja. E, se o público e as pesquisas “pedem” a mesma coisa, é uma grande oportunidade para a marca ter novamente um produto que fez grande sucesso em outra época. Um exemplo recente é o Egeo Choc, um perfume que explora a rota gourmand e tem notas de chocolate.  Era uma das fragrâncias mais pedidas pelas nossas consumidoras e decidimos trazê-la de volta ao mercado. 

 

T1 Notícias: Como funciona esse relançamento? A essência é a mesma? Se coloca novos componentes?

Jean Bueno: A fragrância Insensatez é um bom exemplo – um olfativo fresco, aditivo e com notas cítricas.  Explora um tema muito atual do ‘genderless’, ou seja, um perfume que pode ser usado por eles e por elas.  Havia sido lançado no passado e trouxemos de volta. Hoje, em 2017, ele foi pensado para pessoas que não aceitam rótulos, independentemente da idade.

 

Entre os nossos consumidores, muita gente pedia o retorno do produto, tanto nas nossas redes sociais quanto na Central de Relacionamento com o Consumidor (CRC). Além disso, foi observado também o potencial de consumo desse segmento que deve se fortalecer ainda mais nos próximos anos. A partir dessas avalições, fazia sentido trazer esse produto de volta. Temos tanto os consumidores que já conheciam o perfume quanto novas pessoas que ficaram encantadas com o conceito e com o olfativo dessa criação.

 

Foram feitos pequenos ajustes no frasco e no cartucho para deixar a embalagem ainda mais atual. Mas a fragrância é a mesma, não houve motivo para mudá-la, já que atendia perfeitamente a nossa proposta de um produto para eles e para elas. Em geral, um bom perfume é muito atemporal tanto na sua entrega olfativa quanto no conceito e continua contemporâneo ao longo do tempo.  

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