Igeprev confirma aplicação em fundo de doleiro preso na operação Lava Jato

Jacques Silva confirmou que foram feitas duas transferência para a empresa citada pelo doleiro Alberto Youssef durante depoimento

Presidente do Igeprev confirma denúncia de doleiro
Descrição: Presidente do Igeprev confirma denúncia de doleiro Crédito: Bonifácio/T1Notícias

As investigações internas em curso no Instituto de Gestão Previdenciária do Tocantins (Igeprev) confirmam as informações repassadas em depoimento pelo doleiro Alberto Youssef de que o órgão investiu R$ 13 milhões na empresa Máxima Private Equity Fundo de Investimentos em Participações. O dinheiro utilizado na operação estava depositado em conta do Igeprev no Banco Itaú. O depoimento do doleiro foi prestado em 15 de outubro do ano passado, mas se tornou público na última quarta-feira, 12. 

 

O atual presidente do Igeprev, Jacques Silva, confirmou que foram feitas duas transferências para a Máxima, sendo a primeiro no valor de R$ 10 milhões, autorizado por meio de ofício nº 1543/2012, assinada pelo então presidente Gustavo Furtado Silbernagel, e outra de R$ 3 milhões (ofício nº 1107/2013), assinada já por outro presidente do órgão, Rogério Villas Boas Teixeira. Os investimentos feitos na empresa de Youssef foram pauta de matéria publicada no jornal Folha de São Paulo, colocando o Instituto de Previdência do Estado como uma das “vítimas” da Operação Lava Jato, que já se mostra como o maior esquema de corrupção do Brasil. Segundo a matéria, em seu depoimento o doleiro afirmou que os investimentos na Máxima foram feitos mediante pagamento de propina a Silbernagel, no valor de R$ 1,5 milhão. O ex-presidente do Igeprev teria pedido R$ 3 milhões em “comissão” para autorizar os investimentos, que deveriam ter sido de R$ 30 milhões.

 

"Gustavo disse que seria possível investir R$ 30 milhões no Fundo Máxima, desde que houvesse uma contrapartida de 10% de comissão, sendo que 5% deveriam ser adiantados pelo declarante [Youssef] antes da aplicação no fundo", afirmou Youssef, em depoimento no acordo de delação premiada fechado com a força-tarefa da Operação Lava Jato.

 

Levantamento

Desde que assumiu o Governo, em janeiro deste ano, a nova gestão, por meio de órgãos como Procuradoria, Controladoria, Administração e o próprio Igeprev está fazendo levantamento para saber qual a real situação do Instituto e o tamanho do prejuízo acumulado ao longo dos últimos quatro anos. 

 

Jacques Silva já divulgou que até agora foi comprovado prejuízo de R$ 266 milhões, sendo que o montante pode chegar a R$ 1,2 bilhão. O prejuízo já consolidado é fruto de perdas acumuladas em aplicações de riscos, como por exemplo, no Fundo de Investimentos Diferencial, que recebeu R$ 136 milhões do Igeprev e anunciou perda de R$ 65 milhões, sobrando R$ 84 milhões para serem resgatados. 

 

Entretanto, o resgate dos valores que não foram computados, ainda, como perdas é praticamente impossível de serem recuperados por se tratarem de investimentos sem nenhuma garantia. “Os investimentos eram feitos em maquetes, em panfletos, sem nenhuma comprovação de que existiam realmente”, explicou Jacques Silva. 

 

Não bastassem os investimentos do fundo de previdência serem feitos em projetos esdrúxulos, como terrenos, apoio logístico para caminhoneiros, resortes, projetos de reflorestamento e de exploração de serviços de água e esgoto – todos em estados do Sul e Sudeste –, existe a dificuldade de comprovar que tais empreendimentos sejam reais.  “Servidor do Igeprev já esteve no Rio de Janeiro para verificar um investimento feito em um terreno, mas não o localizou”, ilustrou o presidente. 

 

Falta de documentos

Uma das dificuldades enfrentadas pela atual gestão do órgão é a falta de documentos. Grande parte da memória administrativa foi simplesmente “apagada” dos computadores e os documentos físicos desapareceram. “Aos poucos estamos conseguindo resgatar parte dos documentos e a cada novo documento, constatamos que os absurdos cometidos são ainda maiores do que prevemos inicialmente”, informou o presidente. 

 

Mexer nos investimentos do Igeprev é fácil e não precisa de muitos trâmites. Com apenas um ofício assinado pelo seu presidente, é possível retirar valores da conta do órgão em uma instituição financeira reconhecida, como banco Itaú ou Bradesco, e enviá-los para fundos de investimentos sem nenhuma tradição.

 

Segundo Jacques Silva, não existe nenhuma “blindagem” que limite os poderes do presidente e do comando de seus conselhos. “Mais fácil do que meter a mão no dinheiro do Igeprev só resgatar prêmio de loteria, que só precisa do comprovante de que foi feita a aposta”, ilustrou.

 

Aposentadoria

Em relação à capacidade do Igeprev para arcar com o pagamento dos vencimentos dos servidores inativos, Jacques Silva assegurou que, por enquanto o órgão conseguirá manter sua finalidade. “Em curto prazo, o servidor não precisa se preocupar, pois estancamos a sangria e estamos tentando recuperar parte do dinheiro utilizado nesses investimentos suspeitos”, disse.

 

Entretanto, ele alertou que é preciso manter daqui para frente a austeridade na gestão dos recursos do órgão. “Se a má gestão do Instituto continuasse, poderíamos ter danos irrecuperáveis, que comprometeriam o pagamento dos aposentados pelo resto da vida”, completou.

 

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