Liderança feminina impulsiona pequenos negócios de bem-estar sexual no Tocantins

Esses empreendimentos estão no grupo das micro e pequenas empresas que registraram superávit de 12.656 empregos criados em 2022 no Estado. Sebrae orienta como empreender no setor.

Michelle ousou em seu negócio, procurou apoio do Sebrae e hoje dirige duas lojas
Descrição: Michelle ousou em seu negócio, procurou apoio do Sebrae e hoje dirige duas lojas Crédito: Lourenço Bonifácio

Ultrapassando os limites do erótico e ampliando o olhar para o autocuidado e saúde, o mercado de bem-estar sexual, antigo mercado de produtos eróticos, tem apresentado crescimento surpreendente, sendo considerado um dos negócios que mais prosperam no Brasil.
 


Liderados por empresas femtech, que unem o feminino e negócios digitais, essa área tem saído do comum e ido além da oferta de simples vibradores ou brinquedos sexuais. Um grande investimento vem ocorrendo em produtos e serviços que usam a tecnologia para ir além do prazer e contribuir com o cuidado íntimo e com a saúde da mulher.

 

De acordo com levantamento feito pela Cortex Intelligence, empresa líder em inteligência de dados, o número de empresas de bem-estar sexual abertas no Brasil bateu novo recorde em 2022, com 1.068 novos empreendimentos – uma alta de 34,7% em comparação ao ano anterior.

 

No Tocantins, esses tipos de empreendimentos fazem parte do grupo de pequenos negócios, que é formado pelas Micro e Pequenas Empresas (MPE) e pelos Microempreendedores Individuais (MEI). Esses negócios são de fundamental importância para o Estado, tanto em volume de empregos gerados quanto em massa salarial, e fazem com que o dinheiro circule na economia.


 
De acordo com os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério da Economia, em 2021, dos 162.360 empregos diretos gerados no Tocantins, 112.224 foram gerados por pequenos negócios, representando 69,12% do total. Quanto a massa salarial recebida, dos R$ 339.014.012,00 movimentados, R$ 218.834.180 foram por pequenos negócios, representando 64,55% do total.  


 
Já segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), as Micro e Pequenas Empresas registraram superávit de 12.656 empregos criados no ano de 2022, se destacando como fator que impulsiona o crescimento da economia do Tocantins. Enquanto isso, as médias e grandes empresas registraram déficit correspondente a -1.002 empregos gerados.


 
Vale destacar que, atualmente, o Tocantins possui 145.725 CNPJs ativos, de acordo com a base da Receita Federal. Desses, 126.925 são pequenos negócios distribuídos entre os portes Microempreendedor Individual, Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, o que significa que a representatividade dos pequenos negócios corresponde a 87,1% dos CNPJs ativos do Estado.


 
Saúde e bem-estar
 
Mesmo com esses números expressivos, falar sobre sexualidade e comercializar produtos que ajudem as pessoas a terem uma maior intimidade com o próprio corpo, ainda é um tabu.


 
A fisioterapeuta pélvica e doula Carolina Barrionuevo explica que ainda existe preconceito, mas que tem havido um movimento no sentido de vencer barreiras.  A fisioterapia pélvica é uma especialidade que atua na reabilitação das disfunções do assoalho pélvico, que é o conjunto de músculos e ligamentos que sustentam órgãos como a bexiga e tudo que fica na região baixa do abdômen. 

 

Segundo Carolina, essa fisioterapia trata problemas como falta de força, de elasticidade, excesso de tensão, dores, incontinência urinária, queda de bexiga e dificuldade de orgasmo. 

 

“Mesmo que em passos lentos, temos caminhado no sentido de romper o preconceito e mostrar que falar sobre sexualidade vai além do sexual. Envolve saúde, doença, cuidado íntimo. Alguns objetos que são conhecidos apenas pela questão  do prazer, como o vibrador, cones vaginais e as bolinhas de pompoar, têm sido utilizados na fisioterapia pélvica. Esses instrumentos ajudam tanto no relaxamento como na ativação da musculatura”, explica.


 
A fisioterapeuta lembra que as mulheres ainda se sentem intimidadas ou com vergonha em adquirir esses produtos e que há situações nas quais os próprios parceiros reprovam o uso. “Por conta disso, eu busco facilitar a aquisição. Tenho produtos que adquiri e já deixo no meu consultório e também coloco as pacientes em contato direto com a sex shop. Mas são muitas as situações, já tive paciente para a qual recomendei o uso do vibrador por questão de saúde e o parceiro não deixava que fosse utilizado. Então esse olhar tem que mudar”, relatou.


 
Liderança feminina: empreendedora inova e faz aposta certeira 
 
Dados da Cortex Intelligence apontam que a ascensão do mercado de bem-estar sexual pode estar ligada ao fato de haver maior número de mulheres na liderança desses negócios. Conforme o levantamento, mais da metade (51,1%) das empresas deste segmento, abertas até o ano passado, possuem mulheres como sócias.


 
No Tocantins, quem se encaixa nessa estatística é Michelle Sousa. Em sociedade com o marido, ela comanda duas lojas que vendem lingeries e produtos de bem-estar sexual, o Shopping das Lingeries. A empresária conta que se trata de uma função desafiadora. “É muito desafiador trabalhar nesta área, ainda mais sendo mulher. Já recebi críticas e ouvi muita brincadeira sobre os produtos, mas tento trabalhar com naturalidade, até porque esse é um negócio como qualquer outro”, reforça. 
 
A empresária conta como resolveu empreender nessa área. “Quando abrimos a primeira loja, em 2016, eu tinha poucas coisas disponíveis e percebi que as clientes sempre perguntavam por produtos eróticos, isso chamou minha atenção. Comecei a trazer algumas coisas e montei um espaço reservado de sex shop dentro da loja. Hoje é a parte que eu mais me identifico”, disse a empresária. 


 
Agora, antenada na tendência do bem-estar, Michelle também tem disponível em suas lojas produtos utilizados para a saúde da mulher. “Tenho várias clientes que vem comprar produtos indicados por médicos, a exemplo do cone e bolinha de pompoar. E sabendo disso busco oferecer um atendimento cada vez mais personalizado, conforme as orientações do profissional de saúde, instruo sobre o uso”, lembrou. 


 
Apoio do Sebrae

 
Mas quem vê Michele com lojas localizadas em duas das avenidas comerciais mais importantes de Palmas, atuando no meio digital, com uma equipe de cinco funcionários diretos e terceirizados, plano de negócios montado, sistema informatizado e multiplicando o número de vendas, não imagina que até o ano passado ela fazia anotações em um caderninho. Essa realidade só mudou depois que ela procurou a agência do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) na Capital. 


 
“Com o crescimento do negócio eu comecei a sentir dificuldade na parte de gestão. Sou empreendedora, sei comprar, vender, mas precisava controlar a parte financeira e além disso queria ser vista, por isso no ano passado busquei o Sebrae. Eles me deram suporte para fazer um plano de negócios e me orientaram a usar um sistema informatizado, o que facilitou muito o trabalho, deu mais profissionalismo e segurança para a empresa. É um atendimento que tem me ajudado muito e eles ainda continuam me acompanhando. Uma vez por mês uma pessoa vem aqui, vê como estão as coisas, traz novas orientações”, contou. 


 
Consolidado no mercado, o empreendimento de Michelle já ampliou o leque de vendas. Agora, além de lingeries e produtos de bem-estar sexual, as clientes também podem encontrar opções como moda praia, pijamas e produtos de uso cirúrgico e pós-cirúrgico.


 
Montando um negócio
 
Com oferta e demanda deste mercado em ascensão, surgem oportunidades para empreender. E neste aspecto o Sebrae tem um importante papel, no sentido de orientar sobre mercado, exigências legais, estrutura, organização do processo produtivo, planejamento financeiro, dicas de negócios, capital de giro e muito mais.


 
“O Sebrae está presente de forma digital e presencial. Estão disponíveis conteúdos, infográficos, e-books e cursos à distância que orientam o planejamento para abertura do negócio. Já de forma presencial, o interessado pode contar com o atendimento de um especialista ou até mesmo receber uma consultoria de plano de negócios”, explica Bruno Vilaverde, analista técnico do Sebrae.


 
O analista reforça que a definição do modelo de negócio é apenas uma das etapas do plano de negócio e que para conhecer as oportunidades e ameaças que são inerentes a qualquer segmento é imprescindível que seja feita uma análise para entender as demais variáveis. “O plano visa orientar o empreendedor na tomada de decisões estratégicas com o intuito de minimizar os fatores de riscos envolvidos. O objetivo é avaliar se a ideia de negócios possui viabilidade”, detalhou.

 

Premiando mulheres 
 
Sobre o apoio ao empreendedorismo feminino, o analista lembra que o Sebrae realiza ações direcionadas a esse público. “Temos, por exemplo, uma premiação em nível nacional, o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, que reconhece as mulheres que se destacam na gestão dos seus negócios”, reforçou. 


 
Além disso, o Sebrae também desenvolve o projeto Força Mulher, que vem proporcionando às mulheres tocantinenses as condições necessárias à abertura de novos negócios. O projeto contempla cursos sobre gestão, empreendedorismo e formalização de um pequeno negócio, oportunidade em que as participantes podem escolher a área de qualificação. 


 
No Estado, o Sebrae está presente em Palmas, Paraíso, Porto Nacional, Gurupi, Araguaína, Colinas, Araguatins e Dianópolis.


 
No site da instituição há um espaço com orientações sobre como montar uma sex shop. Basta acessar https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ideias e procurar por este negócio específico.

 

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