Marido de delegada que autuou equipe da TVE justifica que mulher é "bipolar"

Escrivão da Polícia e esposo da delegada defendeu que a mesma não pode passar por situações do tipo, pois sofre de doença rara e distúrbio bipolar. Equipe de reportagem foi obrigada a assinar TCO...

Uma equipe de reportagem da TVE foi obrigada a assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) após passar cerca de quatro horas com a titular da Delegacia Especializada em Investigação Criminal (Deic) de Araguaína, Maria Dinesitania Cunha [Dr. Tânia], nesta terça-feira, 14.

Segundo o escrivão de polícia e esposo da delegada, Jaldo Carneiro, eles assinaram o TCO por desobediência, recusa de dados de identificação e qualificação pessoal e por não portar documento de identificação pessoal.

Leide Vieira, a repórter da TVE, contou ao T1 Notícias que foi até a delegacia acompanhar a transferência de uma caminhonete que havia sido apreendida pela Polícia de Colinas em operação realizada em Araguaína e que ao chegar no local, se deparou com os agentes da Delegacia de Colinas, que afirmaram terem sido expulsos da Deic a pedido da delegada Tânia.

A repórter afirmou que ao tentar uma entrevista com a delegada, sobre a acusação dos agentes, Tânia Cunha já estava nervosa e não deixou que ela e nem o cinegrafista se identificassem, que eles [a equipe de reportagem] não conseguiam nem falar com a titular. Eles foram levados para a sala, enquanto todos os outros jornalistas ficaram do lado de fora. Segundo a repórter, a delegada alegou que a equipe não queria se identificar, não deixou que eles atendessem seus telefones, mesmo ela [a repórter] tendo dito que seus documentos estavam na bolsa, dentro do carro e fora da delegacia.

Em certo momento, conforme a repórter, ela se retirou para atender seu chefe e o escrivão, marido da delegada, a chamou, pegou pelo seu braço e a levou para dentro da sala novamente. “Eu disse que não era para ele tocar em mim”, contou.

Sem querer falar muito a respeito do assunto, pelo menos por enquanto, a repórter concluiu dizendo que a situação foi constrangedora, já que estava ali cumprindo seu trabalho.

 

Em defesa da delegada

Procurada pela redação do T1 Notícias, a delegada Tânia não foi encontrada, mas seu esposo, o escrivão da Polícia Civil que trabalha na mesma delegacia [DEIC de Araguaína], disse que ela não deveria se pronunciar sobre o assunto.

Em defesa da esposa o escrivão disse que “os repórteres deturparam o que tinha acontecido” e que a verdade é que os agentes de polícia vieram até a delegacia com uma cautela expedida pela delegada Olodes e um ofício direcionado a regional de Colinas, determinando que fosse entregue a referida caminhonete.

“A delegada Tânia, da DEIC, é expressamente legalista e hierarquizada e pediu para o agente da DEIC dizer aos agentes de Colinas ir ate a delegada regional para que ela recebesse e desse o despacho para que fosse entregue o veículo. Para ela, tudo tem que estar por escrito", disse. De acordo com o escrivão, a “imprensa ouviu o agente de polícia dizer que foi expulso e até que uma bateria da caminhonete havia sido roubada”.

O escrivão disse ainda que a imprensa já chegou abordando a delegada com as câmeras ligadas e que, por ela não ter conhecimento do que estava acontecendo, disse que não daria entrevista, mas que a repórter insistiu.

O esposo contou que a delegada sofre de uma doença rara, porfiria aguda, que atinge seu sistema nervoso, deixando-a alterada em situações em que se sente coagida, e que faz tratamento com medicação controlada porque sofre de distúrbio bipolar. “Essa é uma reação natural dela quando ela se sente coagida. Eu convivo com ela há 10 anos e as pessoas que convivem com ela sabem que ela é uma pessoa boa, basta saber lidar com ela”, disse ao confirmar que a delegada se alterou com a equipe de reportagem da TV.

Ainda de acordo com o marido da delegada, os repórteres foram chamados para serem testemunhas do processo que ela abrirá contra o agente de polícia que deu entrevista afirmando ter sido expulso da delegacia. “Eles se negaram e eu intervi e disse que eles estavam na condição de testemunha, que estavam sendo autuados por desobediência”, disse.

Por fim o escrivão afirmou que o microfone e a câmera foram retidos a pedido da delegada porque a equipe de reportagem estava com os aparelhos ligados dentro da sala e “a delegada disse que não era uma entrevista e sim um depoimento”, contou. O argumento do escrivão é que a confusão com a imprensa começou por eles terem se negado a serem testemunhas e a prestar declarações.

 

Desentendimento policial

A delegada Olodes Maria Oliveira Freitas, de Colinas, confirmou que mandou uma equipe até a Deic de Araguaína para cumprir uma decisão judicial, que era buscar a caminhonete.  

“A gente tinha uma autorização para pegar o veículo na Deic e fomos lá para buscar o veículo, já que o processo a respeito desse caso está na Delegacia de Colinas”, afimrou.

A delegada de Colinas disse ainda que o carro deve ser retirado ainda nesta quarta, 15, e declarou que acha que “houve uma má interpretação dela [Dr. Tânia] no cumprimento da decisão, mas que já foi resolvido”.

 

NOTA DA SSP

A Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) informa que está enviando para Araguaína o Delegado Chefe da Polícia Civil, Bonfim Santana Pinto e o Corregedor Geral, José Evandro de Amorim para avaliação de ocorrência envolvendo profissionais da imprensa, na Delegacia Estadual de investigações Criminais (DEIC – NORTE), na tarde desta terça-feira, 14.

Esclarece que será realizada uma rigorosa apuração pela Corregedoria Geral da Polícia Judiciária para que casos dessa natureza não se repitam, uma vez que SSP sempre contou com o apoio desses profissionais, na divulgação de suas ações de combate ao crime, bem como prima pela liberdade de imprensa, divulgação e transparência de todos os seus atos e atuação de seus servidores.

 

NOTA DE REPÚDIO

 

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Tocantins vem, publicamente, repudiar a ação autoritária da delegada Maria Denesitania Cunha, da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (DEIC) de Araguaína que na tarde de ontem (14/01), deu voz de prisão e apreendeu material de trabalho da equipe da TVE de Araguaína, que na ocasião estava em serviço.

O comportamento da delegada mostra o seu despreparo para o cargo, visto que, deliberadamente, fere os princípios básicos da democracia e da liberdade de imprensa, direito sagrado na Constituição Brasileira. Para que casos como esse não volte acontecer, o Sindjor solicita providências da Secretaria de Segurança Pública do Estado no sentido de lotar nas delegacias de polícia profissionais preparados para lidar com a imprensa.

A DIRETORIA DO SINDJOR

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