Pastoral da Terra cobra da Justiça solução do assassinato do agricultor Cícero

Mais de 200 dias de silêncio: o assassinato de Cícero Rodrigues segue sem desfecho! Quantas vidas serão ceifadas até que a Justiça acorde?

Crédito: Divulgação

Cícero Rodrigues de Lima, agricultor familiar, presidente da associação do projeto de assentamento Remansão e liderança respeitada da Articulação Camponesa de Luta pela Terra e Defesa dos Territórios, foi brutalmente assassinado no dia 03 de junho de 2024, no caminho do seu assentamento, em Nova Olinda, TO.

 

Passados 228 dias, a família, os amigos e a comunidade ainda estão imersos em um mar de dor, revolta e interrogações sem resposta. Líder comunitário, defensor incansável da reforma agrária e dos direitos das populações rurais, Cícero deixou duas filhas, sua esposa e pais idosos, agora desamparados. A tragédia familiar se torna o retrato de uma violência sistêmica que destrói sonhos, desestrutura lares e silencia vozes incômodas, como a de Cícero. "A violência não mata apenas o corpo, ela aniquila o futuro daqueles que ficam."

 

Enquanto a justiça cochila, a impunidade corre livre pelos vastos campos brasileiros. Cícero é mais um nome em uma longa lista de líderes assassinados, fruto da histórica disputa por terra e do avanço predatório sobre as comunidades rurais. O Brasil agrário não é só o retrato das grandes plantações e do agronegócio milionário. Ele também carrega em suas terras o sangue dos que ousam resistir.

 

Segundo o Centro de Documentação da CPT Dom Tomas Balduino, os dados parciais para 2024 apresentam que, apenas no primeiro semestre, foram registrados 1.056 conflitos no campo, envolvendo: Disputas por terra, água e trabalho; Violação sistemática dos direitos humanos; Pistolagem, que atingiu o segundo maior índice de progressão da década. Apesar de uma redução no número de assassinatos em relação a 2023, 11 mortes já foram confirmadas até novembro deste ano.

 

Os povos indígenas, seguidos por sem-terra e assentados, seguem sendo as principais vítimas. Dados também revelam que 45% dos assassinatos têm como responsáveis fazendeiros, frequentemente com conivência ou apoio direto das forças policiais. A pergunta é inevitável: quem protege os protetores do campo? Quem dá voz aos silenciados? O caso de Cícero Rodrigues de Lima é a expressão cruel de um país que trata as mortes no campo como meras estatísticas, pois as investigações, quando ocorrem, caminham a passos lentos, afogadas na burocracia ou na falta de vontade política. Enquanto isso, os assassinos seguem livres, com a sensação de impunidade que alimenta a próxima execução.

 

"Quando um líder é silenciado, toda uma comunidade grita por justiça", a família de Cícero, como tantas outras, é forçada a lutar não apenas contra a dor da perda, mas também contra um sistema que insiste em não enxergar. Quem vai devolver a dignidade roubada de seus pais idosos? Quem vai amparar suas filhas que crescem sem o pai? Quem vai fazer valer a luta de uma vida inteira por terra e justiça social? Cícero morreu lutando por um ideal que muitos tentam silenciar, mas sua voz ressoa na luta de cada trabalhador rural. E, como ele, não vamos nos calar. 228 dias de silêncio são 228 dias de impunidade, a justiça não pode esperar!

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