Sem receber extras, médicos do HGP decidem atender pacientes como voluntários

As escalas de alguns setores já encerraram e a falta de médicos já prejudica o atendimento. Um dos problemas seria uma falha no sistema de registro dos plantões, mas a Sesau nega que haja problemas

Voluntários se revezam para garantir atendimento
Descrição: Voluntários se revezam para garantir atendimento Crédito: Bonifácio/T1Noticias

Médicos do Hospital Geral de Palmas (HGP) estão fazendo atendimento voluntário para que a população não fique sem atendimento de urgência e emergência. O Hospital, que é o maior do Tocantins e o mais procurado da região, ainda recebe pacientes de outros estados.

 

O coordenador de Clínica Médica do Hospital, Hugo Magalhães, foi questionado pelo T1 Notícias se os médicos deixariam os pacientes morrer no HGP, já que estão mantendo a decisão de não fazer plantões extras, em resposta ele contou sobre a decisão de alguns profissionais quanto ao atendimento voluntário. Ele disse ao T1 que cerca de 20 médicos já aderiram o serviço voluntário e outros estão sendo procurados.

 

Os médicos voluntários irão trabalhar somente na urgência e emergência e a decisão é motivada “em respeito à população”. A medida é para que esses setores do HGP não fiquem sem atendimento. Na neuroclínica, por exemplo, a escala deste mês já terminou e os médicos já trabalham de forma voluntária. Na Clínica Médica a escala vai até o dia 22 e a partir daí o serviço será voluntário.

 

“O secretário já disse que não vai faltar médico, mas não vai faltar porque nós vamos fazer um serviço voluntário, para que a Sala Vermelha não fique sem atendimento. Mas que fique bem claro, vamos fazer o voluntário somente nos casos de urgência e emergência”, explicou o coordenador.

 

De acordo com ele, todos os médicos foram convidados para o serviço. As neurocirurgias só serão feitas em casos de urgência, já que o setor já está desfalcado.

 

Falha no Sistema de Plantões

Hugo Magalhães disse que há problemas no sistema que registra os plantões dos médicos. Segundo ele, o sistema impõe um limite de quatro plantões para médicos que cumprem seis só na escala regular. “Por causa disso, fica acusando que não cumprimos a carga horária completa. É uma falha no sistema, porque nós cumprimos toda a escala que nos é entregue”, afirmou.

 

O coordenador disse que, devido a essa falha quanto à carga horária regular, muitos médicos não estão recebendo os plantões extras, mesmo sem os valores sequer se aproximarem do teto, que é o salário do governador, próximo de R$ 25 mil.

 

O médico informou que o preenchimento dos dados no sistema é feito pelo próprio RH.

 

Problemas para fechar escala

O coordenador relatou ao T1 a dificuldade no fechamento da escala de plantões. Segundo ele, quem mais fazia os plantões extras eram os médicos mais antigos e experientes, mas os médicos novatos não têm interesse nem em fazer esses plantões. “O perfil dos novatos, que infelizmente são recém-formados, é de médicos que não tem experiência e não querem ficar na Sala Vermelha. E os mais antigos me ajudavam, só que como eles não vão receber mais os plantões extras, o déficit de plantonistas ficou ainda maior.”

 

Sobre as contratações da Secretaria da Saúde de 80 médicos, Hugo Magalhães afirmou que foram apresentados a ele seis médicos, dos quais só dois permaneceram na escala. “O resto não quis entrar na escala porque tinha que trabalhar justamente na emergência. E eles não têm disponibilidade de trabalhar durante a semana porque tem outro emprego”, explicou.

 

Outro fato que contribui para a falta de médicos, de acordo com o coordenador, é o baixo salário para os profissionais que trabalham com uma alta carga de estresse. Conforme ele relatou, o salário pago no HGP é até menor do que o do médico que trabalha na atenção básica. “Muitos dos que estão entrando agora não encaram o HGP como principal emprego e buscam horários alternativos em que a escala já está cheia.”

 

“Quando não temos médico para colocar no setor, o caos aumenta”, disse ao tempo em que comentou que a situação se repete há anos. Questionado sobre as providências tomadas quando faltam médicos no setor, Dr. Hugo confirmou que já aconteceu de um setor ficar sem nenhum médico e que, quando isso ocorre, ou o número é reduzido ou “os outros que estão em outros setores terminam o seu serviço e aí ficam dando assistência no que é possível. É ligando pra resolver, a gente chama alguém de ultima hora”, disse ele.

 

Sesau nega que haja falhas no sistema de plantões

Em nota, a Sesau informou ao T1 que não há falhas no Sistema, a não ser quando ele é preenchido de forma incorreta. Também consta na nota que a Sesau desocnhece que os profissionais estejam trabalhando de forma voluntária no HGP.

 

Confira a nota na íntegra:

Nota de Esclarecimento

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) informa que não há problemas no sistema de plantões da Sesau. Os bloqueios ocorrem quando o sistema é alimentado de forma incorreta, desrespeitando as regras pré-estipuladas por meio da Portaria da Sesau nº937 de 29/11/2012, Portaria Sesau nº 57 de 14/02/2013 e Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Todas as legislações estão disponíveis no Sistema de Plantões para consulta.
Exemplos:
•       Não são aceitos plantões sequenciais, sem o devido descanso remunerado
•       Plantões em hospitais diferentes com horários conflitantes (profissional trabalha em Porto Nacional e Palmas com entradas e saídas conflitantes)

A Secretaria ainda informa que nas unidades hospitalares do Estado não existem profissionais médicos realizando trabalho voluntário. Os médicos recebem por carga horária estabelecida em contrato ou por meio de concurso público. A secretaria ainda informa que fazem parte do quadro de profissionais aproximadamente 600 médicos que estão aptos à realização do plantão extra sem infringir a recomendação dos órgãos de controle e a Constituição Federal, e que estão sendo adotadas todas as medidas necessárias para garantir a manutenção dos serviços na rede estadual de saúde.

A Sesau ainda ressalta que está em processo de contratação de 80 profissionais médicos, dos quais 33 já estão trabalhando em unidades hospitalares do Estado. Esses profissionais têm capacidade técnica para assumir os serviços. A Sesau ainda informa que desconhece pedidos de demissão.

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