O Tocantins é formado por uma ancestralidade diversa, marcada principalmente pela influência negra. Segundo o último Censo do IBGE, 70% da população tocantinense se autodeclara negra ou parda, e o estado possui 36 comunidades quilombolas reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares. Esse cenário cria um terreno fértil para o fortalecimento do Afroturismo e do Turismo de Base Comunitária (TBC).
Para o secretário de Turismo do Tocantins, Romildo Santos, a cultura negra está presente de forma viva no cotidiano dos municípios. “A herança negra está presente nas cidades tocantinenses, nas danças, na comida, nas tradições e na alegria do nosso povo”, afirma, destacando que a gestão do governador Laurez Moreira atua em diversas frentes para consolidar o Afroturismo como segmento estratégico no Estado.
Entre as ações recentes, a Secretaria do Turismo tem levado qualificação por meio do programa Tocantins Recebe Bem, levando diversos cursos de qualificação para regiões onde a presença negra é uma grande força cultural, como o Jalapão e as Serras Gerais.
Além disso, ampliou a divulgação das comunidades quilombolas da região do Jalapão, como Mumbuca e Prata, com produção de materiais descritivos, campanhas institucionais e aquisição de peças artesanais de associações comunitárias para exibição em feiras nacionais e internacionais.
Memória e resistência
A região das Serras Gerais, no sudeste tocantinense, concentra alguns dos municípios mais antigos do Tocantins, formados durante o Ciclo do Ouro. Entre eles está Natividade, cidade histórica tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e um dos principais destinos para quem busca vivências ligadas à cultura negra.
Um dos símbolos de Natividade é a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, construída em pedra canga e marcada pelo protagonismo de escravizados e libertos. Outro destaque é o Grupo de Suça Tia Benvinda, que mantém viva a suça — dança afro-brasileira embalada por tambores e ritmos de forte ancestralidade.
Figura emblemática do município, Mãe Romana (Romana Pereira Dias), mais de 80 anos, é líder espiritual e responsável pela criação do Centro Bom Jesus de Nazaré, espaço visitado por turistas do Brasil e do exterior em busca de vivências místicas, religiosas e espirituais.
Localizado a 3 km do centro histórico de Natividade, o espaço reúne esculturas em pedra canga, jardins simbólicos, galpões, alojamentos, arquivos com mensagens enigmáticas e um grande labirinto repleto de referências a diversas tradições religiosas e civilizações antigas.
Também no sudeste do Estado, o município de Santa Rosa mantém uma das tradições mais antigas relacionadas à cultura negra: os Festejos das Santas Almas Benditas, realizados sempre em 2 de novembro. A celebração envolve cortejos, cantos de congo, apresentações populares e rituais que remontam ao século XIX.
A tradição dos congados também é preservada em Ipueiras, Silvanópolis e Monte do Carmo.
Outra cidade histórica reconhecida pelo Iphan, Porto Nacional carrega muitas referências à cultura negra. Para festejar, no último dia 18, Porto Nacional realizou o I Festival de Cultura Afro, reunindo programações artísticas, rodas de conversa, apresentações tradicionais e exposições. A iniciativa das Secretarias da Mulher e Igualdade Racial, Cultura e Educação reforçou a importância da data, que é feriado municipal desde 2008.
TBC em ascensão
Localizada no município de Mateiros, a comunidade Mumbuca é referência internacional no artesanato de capim-dourado. A comunidade negra recebe visitantes do mundo inteiro que chegam ao Jalapão para conhecer o modo de vida local, suas tradições e o artesanato produzido pelas famílias da região, uma das referências do Jalapão.
Também no Jalapão, a cerca de 20 km de São Félix do Tocantins, a Comunidade do Prata é parada obrigatória para quem busca peças artesanais genuínas, rodas de conversa, vivências culturais e a forte hospitalidade do povoado.
Mais próxima a Palmas, a cerca de 70 km, Santa Tereza do Tocantins abriga uma comunidade de grande importância. Barra da Aroeira permanece como um dos centros de preservação de tradições negras mais ativos do Estado. Raizeiras, tocadores de viola de buriti, grupos folclóricos e festas tradicionais são alguns dos atrativos que integram as experiências de TBC oferecidas na comunidade.
Entenda a diferença
O Turismo de Base Comunitária cresce no Brasil e no Tocantins como uma forma de conectar viajantes ao cotidiano de comunidades tradicionais — negras, quilombolas, indígenas, ribeirinhas ou periféricas. As experiências podem incluir hospedagem em casas de moradores, participação em rotinas produtivas, oficinas, danças, celebrações e gastronomia local.
Já o Afroturismo valoriza a cultura negra, sua ancestralidade, seus territórios e seus protagonistas, priorizando fornecedores negros e criando ambientes seguros, acolhedores e representativos para viajantes de todo o país.
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