Um mês após a tragédia da Ponte JK, 3 pessoas estão desaparecidas e economia afetada

Das 18 vítimas que atravessavam a ponte no momento em que ela desabou, uma foi encontrada, 14 tiveram seus resgatados e três continuam desaparecidas

Momento exato em que Ponte JK desabou
Descrição: Momento exato em que Ponte JK desabou Crédito: Reprodução Redes Socias

A tragédia da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, na divisa entre Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA) completa um mês nesta quarta-feira, 22. Das 18 vítimas que atravessavam a ponte no momento em que ela desabou, uma foi encontrada, 14 tiveram seus resgatados e três continuam desaparecidas. São elas: Salmon Alves Santos, de 65 anos, Felipe Giuvannuci Ribeiro, 10 anos (avô e neto), e Gessimar Ferreira da Costa, de 38 anos.

 

No sábado, 18, a Marinha do Brasil (MB) confirmou em nota que continua com as buscas pelos desparecidos, porém só na superfície, sem mergulhadores, embora eles permaneçam de prontidão. Ao todo, 72 militares estão na área de buscas, além de lanchas, motos aquáticas e drones aéreos. As  buscas por meio de mergulho foram suspensas devido a abertura das comportas da Usina Hidrelétrica de Estreito  (UHE de Estreito) no dia 10 de janeiro. 

 

Travessia

Ainda sem data definida, a retomada da travessia entre Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA) será efetuada por meio de Balsa, que continua sendo montada, bem a execução das obras do ancoradouro. Enquanto, a balsa não entra em operação, a travessia entre os dois estados está sendo efetuada por pequenas embarcações ao custo médio de R$ 5,00. 

 

Produtos químicos

Um dos grandes temores iniciais decorrentes do colapso da ponte foram os materiais químicos que estavam em duas carretas que caíram no Rio Tocantins. Os veículos estavam carregados com 76 toneladas de ácido sulfúrico e 22 mil litros de defensivos agrícolas. Conforme o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), as empresas responsáveis pelos produtos contrataram serviço especializado para retirar o material do rio. Assim, até o dia 9 de janeiro, 29 bombonas com 20 litros de agrotóxicos foram retirados, mas o trabalho foi suspenso devido a abertura das comportas da UHE de Estreito.

 

Telefones da Marinha

Para contactar a Marinha do Brasil, estão disponíveis os seguintes canais: Disque Emergências Marítimas e Fluviais (185), da Capitania dos Portos do Maranhão, 0800-098-8432 e (98) 2107-0121, e da Agência Fluvial de Imperatriz, (99) 3525-3391. Os contatos estão disponíveis para receber informações a respeito de qualquer situação que possa comprometer a salvaguarda da vida humana nas vias navegáveis ou que represente risco de poluição ambiental, informa a Marinha. 

 

Atividade econômica reduzida

 

O acidente reduziu significativamente a atividade econômica na região, cuja maior parte da renda gira em torno do transporte rodoviários de cargas na BR-226, especialmente para o escoamento da produção de milho e soja, vinda de estados como Mato Grosso, Pará, Tocantins e Piauí.

 

 

Os setores de bens e serviços, a exemplo de lojas, mercados, postos de combustíveis e restaurantes foram os mais impactados. Segundo empresários ligados à Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Agronegócios das Micro, Pequenas e Médias Empresas de Estreito e Região (Acisape), pelo corredor viário passavam mais de 2 mil carretas por dia. Com a interrupção do tráfego cerca de 70% das empresas da região tiveram impacto negativo nas suas atividades.

 

O vice-presidente da associação, Bernardo Maciel disse à Agência Brasil que, com o colapso na atividade econômica, várias empresas foram obrigadas a reduzir suas atividades, demitir funcionários ou mesmo mudar de cidade para manterem atividades.

 

“Tem empresa de implementos rodoviários, por exemplo, que jalugou um galpão em Balsas - cidade no sul maranhense -, e está transferindo seus funcionários para não ter que demitir. Tem empresa de acessório de caminhão que foi para Araguaína, já o posto de combustível, que não tem como transferir, alguns estão demitindo os funcionários”, relatou.

 

O proprietário de uma loja de material de construção Maciel disse que o movimento caiu mais de 70% e que em outras atividades, como a venda de combustível, a redução chega a 90%.

 

“Para você ter uma ideia, o posto Minas Gerais, que vendia em torno de 50, 40 mil litros de combustíveis por dia, hoje está comercializando 4 a 5 mil litros no máximo”, explicou.

 

O proprietário do posto Djalma Cinara confirmou à reportagem, também, a redução no volume de vendas. O impacto atinge outra atividade do posto, como a loja de conveniência.

 

“Nós temos aqui com o posto, a conveniência tem em torno de 75 funcionários. Nós já mandamos demitimos dez trabalhadores e tem mais quatro funcionários de férias. Acredito que já vamos, no próximo mês, acertar com mais uns cinco, porque a gente não consegue manter o funcionário da forma como está hoje. Infelizmente, nosso movimento despencou mesmo. A gente está tentando se reinventar para poder sobreviver”, disse Cinara.

 

Outra empresa que sofre para permanecer de portas abertas oferece peças e serviços para os veículos pesados de transporte de cargas, atua como concessionária.

 

De acordo com Sebastião Henrique Dório, um dos proprietários da empresa, o faturamento diário é insuficiente para dar conta das despesas e manter o negócio em pé.

 

“O impacto que estamos sentido é sem parâmetros, pois nosso faturamento diário já não consegue manter mais o caixa para a empresa conseguir se manter. O nosso balcão de vendas vem sofrendo, pois necessita 100% das carretas passando em nossa porta”, disse.

 

“Estamos tendo que tomar outras atitudes pra conseguir estancar todo o dano que essa tragédia acarretou, danos a vida de tantas pessoas e para a economia do município. O faturamento esse mês vai fechar com uma queda enorme, e precisamos urgente da ajuda das autoridades, pois a meta principal no momento é não demitir. Se continuar dessa forma, infelizmente, as demissões começarão a ser feitas”, completou.

 

A mesma situação vive outra empresa que além de atuar no ramo de peças e acessórios para caminhões, também presta serviços de venda e instalações de ares-condicionados e climatizadores para casas, empresas e veículos. O proprietário, Tiago Wendler, disse que o movimento caiu em torno de 80%.

 

“Segunda-feira amanheceu apenas com um caminhão no pátio, depois apareceu outro, mas não chegou a 10% de faturamento registrado no mesmo dia. Se somar a minha empresa e a do meu irmão, nós temos 77 funcionários. Desses, a gente já deu férias para 21 e voltando vão entrar outros de férias”, contou Wendler ao relatar dificuldades para pagar as contas.

 

“Desde o dia 22 [de dezembro do ano passado], que foi o dia que caiu a ponte, a gente pagou, eu acho que só cinco boletos de fornecedor. A gente pagava diariamente mais de 10 boletos por dia e, de lá para cá, se eu não engano, foram cinco boletos que a gente não conseguiu protelar. Todo o dinheiro que está entrando é para segurar a folha de pagamento, os impostos e os compromissos com os bancos que são bem altos, também a gente não conseguiu nada ainda para nos ajudar. Com isso, a gente está mobilizando uma parte da empresa para a Araguaína para ver se consegue respirar”, acrescentou.

 

A queda na atividade econômica atingiu não apenas as empresas voltadas para a prestação de bens e serviços ligados ao transporte rodoviário. Supermercados, açougues, mercearias, lojas de vestuário, entre outros.

 

Uma delas é o açougue de Albert Pereira, que viu as vendas despencarem após o desabamento da ponte. Segundo ele, o movimento continuou ainda depois do acidente, mas foi caindo, até atingir a redução de 84%, registrada na semana passada.

 

“Os grandes consumidores meus eram as churrascarias, os restaurantes, que ficam nas margens da BR e hoje, a probabilidade nossa é que a gente compre 90% a menos e que a gente venda 90% a menos,” afirmou.

 

Pedidos

Diante do cenário desolador, associações ingressaram com uma ação civil pública pedindo ao poder público a adoção de medidas emergenciais, similares às aplicadas em situações extremas, como cheias no Rio grande do Sul, ou mesmo o apagão de energia elétrica na grande São Paulo, no ano passado.

 

Associações pedem também a criação de um fundo emergencial para auxiliar as famílias atingidas pela queda da ponte, como ocorreu no Rio grande do Sul. Na ocasião o governo federal instituiu um auxílio financeiro para as famílias pago em duas parcelas no valor de R$ 1.412,00, cada.

 

Os empresários pedem ainda a abertura e a renegociação de operações de crédito a micro, pequenos e médios empreendedores de Estreito e Aguiarnópolis, oferecida às micro e pequenas empresas que tiveram prejuízos causados pela interrupção do fornecimento de energia elétrica na Região Metropolitana de São Paulo, n estado de São Paulo, no mês de outubro de 2024.

 

Na ocasião, o Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte ofereceu linhas de crédito em condições especiais de até R$ 150.000,00, limitado até 60% da receita bruta anual da empresa. Também foi ofertado crédito para profissionais liberais no valor de até R$ 100.000,00.

 

“A gente sabe que o governo tem medidas emergenciais para esses casos, como é o nosso aqui de Estreito”, apontou Bernardo. “A gente precisa conseguir esses recursos, assim como foi feito, é claro que em outra proporção, no Rio Grande do Sul, onde as medidas provisórias já estão formalizadas, oficializadas”, observou.

 

Na semana passada o governo federal, por meio do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), anunciou o repasse de R$ 793 mil para o município de Estreito e R$ 397 mil para Aguiarnópolis para ações de defesa civil, voltadas para ajudar a conter a crise nas duas cidades.

 

Já o Banco do Nordeste do Brasil, anunciou a a autorização para operações de capital de giro, com carência de até 24 meses, com prazo total de 84 meses.

 

Balsas

Moradores e empresários também demandam a efetivação do serviço de balsas para o transporte de pessoas e veículos. A medida é apontada como essencial para diminuir os impactos da queda da ponte.

 

Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a empresa contratada para transportar pessoas e veículos leves com balsas já está no local, mas depende de licenças para operar. A construção de acessos para o atracamento dessas embarcações depende de adequações. O transporte será feito sem custo.

 

“As empresas responsáveis pela manutenção da BR-226/TO/MA estão mobilizadas para atender às exigências da Marinha do Brasil, na execução dos acessos e do atracadouro necessários para a operação das balsas, que farão a travessia de veículos e pedestres no Rio Tocantins, entre Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO)”, disse o órgão. “Importante destacar que as balsas entram em operação imediatamente após a assinatura do contrato com a empresa e conclusão das obras dos acessos e do atracadouro”, afirmou o Dnit.

 

Ontem (21), o Dnit informou que está trabalhando na operação de retirada dos veículos que permaneceram em cima da estrutura remanescente da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que liga Estreito (MA) a Aguiarnópolis (TO).

 

Segundo a autarquia, técnicos estão atuando na adequação das condições do encontro da ponte no lado de Aguiarnópolis, onde trafegam os caminhões e carros de passeio. A ação vai possibilitar a passagem dos veículos pelo local.

 

“Após a conclusão dos serviços preliminares na estrutura remanescente, as equipes vão retirar a carreta baú (tipo de veículo de transporte de carga) mais próxima da saída da ponte e na sequência os demais veículos. A expectativa do Dnit é concluir a operação até o final desta semana”.

 

 

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