Diz a lei que todo mundo é inocente até prova em contrário. Sem fugir á regra, todos os acusados, envolvidos direta ou indiretamente no esquema fraudulento que roubava dinheiro depositado em contas inativas de pessoas já falecidas têm protestado sua inocência. Uns em altos brados. Outros derramando lágrimas. Há ainda os que acusam armações políticas para incriminá-los indevidamente.
A confiar nas declarações dos delegados que cuidam do caso, nas evidências já identificadas, no rastro de saída do dinheiro sacado à custa de papelada forjada, bem poucos inocentes restarão ao final da apuração destes fatos e conclusão do inquérito pela polícia.
Vejam por exemplo, o “modus operandi” da quadrilha, em um dos casos cujos detalhes o Site Roberta Tum teve acesso.
Uma conta, dois processos de saque: troca de promotor fez a diferença
A conta inativa, cujo titular havia falecido no Rio de Janeiro, foi identificada por um dos membros ativos da quadrilha. O advogado – até aqui, um inocente – montou toda a papelada para pedir o resgate do dinheiro em favor de um suposto parente do falecido. No saldo em conta, havia uma cifra em torno de R$ 380 mil. Todo o processo foi montado com documentação falsa – é aí que reside o centro de toda a farsa – de suposto parente da vítima que teria direito ao dinheiro.
Só que ao requerer o montante - talvez por temer o surgimento de um parente verdadeiro, quem sabe - não pediram o resgate do total depositado em conta. Restou algo em torno de R$ 60 mil. O primeiro processo chegou à juíza – peça chave na quadrilha e que o delegado Carrasco já aponta no JTO deste sábado como uma das líderes do grupo – que despachou para a promotora (também na lista dos apenas suspeitos até aqui). Em conluio com os demais membros, esta teria se manifestado favorável ao pagamento. E pronto: voltou o processo para a juíza autorizar o saque.
O segundo processo, no entanto, não teria corrido tão bem assim. O mesmo grupo peticionou o restante dos recursos na mesma conta. O mesmo rito processual se deu, com uma diferença: a promotora peça chave do caso não estava em serviço quando o processo chegou e a papelada teria parado em mãos de outro profissional do MPE. Ao ler a petição, o fato de que o requerente morava “na comarca de Miracema” ,sem número da rua, casa ou endereço mesmo que incompleto chamou a atenção.
Foi aí que o processo parou. A promotoria quis ver e ouvir quem era o beneficiário e decidiu por marcar uma audiência para que este se apresentasse. Afinal não era tão comum um parente de um falecido no RJ ter ido parar na pequena e pacata Miracema do Norte. Diante da exigência, o próprio requerente - através de seus representantes legais – teria desistido de sacar o dinheiro e pedido o arquivamento do processo. Num prazo célere, diga-se de passagem.
Como diria o colega jornalista Luiz Armando Costa, roteiro digno de um filme policial daqueles, em pleno cerrado tocantinense.
Quantias altas, não tão difíceis de rastrear
Agora, vem a melhor parte. Onde foi parar o dinheiro? Com certeza não haverá muita dificuldade em rastreá-lo. É aí que vão surgir, podem esperar, mais gente inocente “envolvida indevidamente” nesta história. Não é fácil apagar rastros bancários e dinheiro desta monta, circula melhor na rede bancária do que dentro das maletas pretas ou prateadas ao estilo 007.
Conforme a polícia, tudo isto aí em cima está mais do que comprovado. Resta saber quem assassinou Vanthieu Ribeiro. Cuja família, aliás, não tem perfil violento do tipo chegado à vingança à moda da máfia italiana, que a gente vê no cinema amontoando corpos. Pelo menos é o que dizem amigos da sociedade de Miracema.
Gente que vem estranhando o desenrolar dos fatos desde o enterro de Vanthieu. É que Miracema é cidade pequena, onde todos sabem que é promotor, ou promotora. Onde todo mundo vai aos velórios, seja dos próximos ou dos distantes. Lá onde algumas cenas de comoção extrema durante o velório do oficial de justiça não passaram desapercebidas.
É amigos, tudo isto aí - e muito mais - está circulando de boca em boca nos bastidores desta Operação Inconfidente. Coisas que a polícia vai revelando a conta-gotas, mas que a voz rouca das ruas não represa mais.
Aos internautas que têm nos questionado sobre os motivos pelos quais não estamos divulgando os nomes da juíza e da promotora, fica a explicação de que só o faremos quando houver uma fonte disposta a nominá-los.
O judiciário, como se sabe, protege bem melhor os seus, do que outras categorias. E perante a lei todos são inocentes até prova em contrário. Ainda que a cada dia fique mais claro, que assim como nas prisões, neste caso existem uns menos inocentes do que outros.
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