O palco armado para a primeira audiência pública – que segundo o líder do prefeito, vereador Milton Néris não tem a característica de audiência, mas de reunião para debate e consulta pública - pareceu mesmo uma praça de guerra entre duas posições já fortemente arraigadas. De umlado os que são contra e de outro os que defendem a expansão da área urbana da capital.
Na escola Padre Josimo, região Norte da cidade, técnicos, empresários, gente de influência na sociedade palmense, profissionais liberais marcaram posição firme na última sexta-feira, contrária à expansão urbana do Plano Diretor.
Por mais que os principais defensores da idéia dentro da Câmara argumentem que se trata de uma aprovação prévia ao município para expandir “quando julgar necessário”, a conversa não está soando bem para quem definitivamente não entende os por quês de uma cidade relativamente nova, e com tanta área urbana desocupada, precisar ampliar seu perímetro urbano.
De um lado do “bunker” de guerra se posicionaram UFT, através do reitor Alan Barbiero, um dos pré-candidatos a prefeito pelo PSB, a empresária Fátima Roriz, da Organização Jaime Câmara (que cobrou que os vereadores estejam atentos aos problemas apontados pela população durante o Palmas Minha Cidade), o ex-secretário do Município, Eduardo Manzano, e boa parte do corpo técnico da área de desenvolvimento urbano da capital, e outros agentes políticos e sociais.
De outro, os principais defensores da expansão: Milton Néris, Fernando Rezende, Lúcio Campelo, José do Lago Folha Filho. Como se vê, não é uma bandeira partidária, de quem é bancada do prefeito ou oposição a ele. A maioria dos vereadores – excessão feita a Bismarque do Movimento, que é contra a expansão por não ter visto até aqui a ocupação das áreas mais acessíveis da cidade pela população de baixa renda – é a favor da expansão.
O argumento mais forte é a necessidade de regularização dos 45 loteamentos que foram feitos ao arrepio da lei, em áreas rurais, e até urbanas, mas sem o cumprimento das etapas legais e a oferta dos serviços públicos que são da obrigação de quem vende o loteamento.
Por trás dele, estão outros. Por exemplo, o de que contra a exploração (sim, não há outra palavra para isto), vista hoje no mercado imobiliário da capital, com preços astronômicos para lotes dentro do Plano Diretor, não há outro remédio. A não ser expandir para permitir loteamentos mais baratos dentro da cidade de Palmas. Como vão garantir que sejam mais baratos, é uma incógnita.
Disparidade de preços entre Palmas e Luzimangues é combustível
A disparidade dos preços encontrados em distâncias relativamente pequenas por si só é uma contradição. Já que logo ali, do outro lado do rio, ou da ponte, está o Luzimangues. Área de Porto Nacional no papel, mas na prática, mais próxima de Palmas. É para lá que a classe média está migrando, atraída pela possibilidade de comprar lotes com R$ 3 mil de entrada e prestações de R$ 200 a R$ 500 reais.
A venda fácil destes lotes enche e cresce o olho de quem gostaria de estar vendendo áreas assim do lado de cá. E elas não existem, não estão disponíveis.
O debate sobre este assunto está só começando, é claro, mas muitas outras questões serão discutidas no meio desta polêmica.
Por que, por exemplo, o problema dos vazios urbanos em Palmas (criados com a supervalorização pelas empresas, de quadras fechadas que não são ocupadas) não é enfrentado cara a cara pelas autoridades políticas da cidade? Eles são os vilões que fazem com que a cidade permaneça extensa e desocupada. E o pior: um lugar caro de se morar, caro para levar aparelhos públicos, asfalto, energia (uma das mais caras do país), e transporte urbano.
É uma questão de vontade política e que mexe com muitos interesses. Como estes que afloram agora na luta para ver quem ganhará mais. Um componente econômico que a sociedade já entende estar na motivação dos vereadores para fazer a expansão, regularizando áreas de amigos, correligionários, no bolo e sob o argumento de estar regularizando os loteamentos populares. Mesmo que não seja esta a motivação de todos.
É muito ingrediente na panela da polêmica desta expansão do Plano Diretor.
Câmara tem dificuldade de comunicação com a sociedade
O fato é que se a primeira audiência/reunião deixou feridos dos dois lados e mostrou aos vereadores que a resistência da população será grande a esta mudança, escancarou por outro lado a dificuldade grande de comunicação entre o poder legislativo municipal e a sociedade. Ou a falta de representatividade de setores mais exigentes da sociedade.
Quando um segmento resiste à mudança e procura seu fiel representante na Câmara pra representar esta resistência, não o encontra. Por quê? É que a maioria dos vereadores são eleitos nos bairros, onde a moeda de troca pelo voto não é exatamente este tipo de representação, mas outra. E a representação que se espera também é diferente.
Para mim, o que a primeira audiência/reunião mostrou é exatamente o abismo que há entre a Câmara (e a maioria de seus membros de um lado) e uma parcela expressiva da sociedade palmense, que é a de formadores de opinião. Um alerta para as duas partes. Será que estes vereadores não representam de fato o que pensa o eleitor, ou estes eleitores que discordam não estão bem representados?
Na fala do vereador Lúcio Campelo - que (indignado com o tratamento recebido lá na Escola Padre Josimo ) subiu o tom e foi para o confronto no grito, com os que expuseram a fragilidade do discurso e também com os que foram ofensivos - ficou a constatação da distância entre os dois mundos.
Quem sabe o ano que vem seja a época certa para aproximá-los. Até lá, esta discussão é um desafio. Que pode ser adiado, caso o prefeito Raul Filho - cujo projeto original enviado à Câmara não tratou de expansão - retire a matéria. Se for mantido, pode se tornar o calcanhar de aquiles para a reeleição de muitos, que passarão a ser tratados como aproveitadores e inimigos da cidade. Podem anotar. Do jeito que vai o debate, tudo caminha para isto.
Comentários (0)