A Câmara que nós temos e a que queremos, ou: preconceito contra vereador não ajuda e precisa acabar

Passei ao largo de algumas discussões, acusações e preconceitos que li nos últimos dias sobre a Câmara Municipal de Palmas, por absoluta falta de tempo de entrar na discussão. Mas vamos a ela! ...

Hoje, quando o assunto já estava esquecido, alguns comentários na rede social mais polêmica da atualidade - o Twitter – me fizeram voltar a algumas reflexões sobre a imagem (negativa) que se disseminou da Câmara Municipal de Palmas este ano. Pessoas e veículos acabaram emitindo opiniões de forma a colocar no mesmo rol todos os vereadores desta legislatura, como se fossem todos venais, despreparados ou coisa que o valha.

Peço licença para discordar. Este site, antes de crescer e se tornar o portal de notícias que é, começou a fazer sua cobertura pela Câmara de Palmas, no fim da legislatura anterior e começo desta, à época com postagens no pioneiro Blog da Tum, sucedido pelo Site Roberta Tum.

Posso falar da Câmara de carteirinha, e sem preconceito. A análise que faço é única e tão somente como cidadã que se sentou várias vezes naquelas cadeiras das galerias, ou na tribuna da imprensa para assistir e cobrir uma sessão.

Câmara, diferente de Assembléia, é pura adrenalina e pouca formalidade. Ali os discursos são improvisados, os debates acalorados, as informações fluem sem tempo para que um assessor dê polimento no que o parlamentar vai falar. Por isso mesmo a Câmara é muito mais autêntica, tem cheiro de povo, linguagem popular, e uma simbiose muito grande com as classes C e D, maioria do eleitorado palmense.

Já disse aqui, e continuo pensando, que falta aos vereadores em geral travar uma comunicação melhor com os formadores de opinião. Mas assim como o julgamento que se faz de suas intenções é duro, por um lado, de outro é preciso admitir que há um ranço de preconceito nas camadas mais abastadas da sociedade contra os vereadores difícil de compreender e na minha opinião, também inadmissível.

Eles são legítimos representantes do povo de Palmas. Cada um de um segmento, de um bairro, de uma bandeira. Ainda que nem todos tenham curso superior ou estejam preparados de acordo com o que a elite intelectual e pensante deseje.

Preconceito com emendas: deputados sim, vereadores não

Dizer por exemplo que emendas são a porta aberta para a corrupção, é uma generalização tão absurda quanto o mal uso das emendas. Afirmar que os vereadores “ganharam de presente”, R$ 300 mil em emendas, é uma temeridade, até por que o dinheiro não vai para suas mãos, ou cofres ou bolsos. Entender que deputados estaduais e federais podem ter emendas e vereadores não, é somente outra face do mesmo preconceito.

Toda esta discussão, que “queima” a imagem dos vereadores acontece sempre que alguma decisão é tomada contra o que um grupo pensa e defende.Normalmente pequeno, mas barulhento. Nem sempre esta diferença entre o pensar e o agir dos vereadores se choca contra um grupo majoritário. E quando acontece, entre eles a insatisfação se mostra é no plenário, com faixas, cartazes e barulho já que o grosso da população que vota e mantém um vínculo com seus vereadores,  está bem pouco presente nas redes sociais.

São eles, ao contrário os que mais precisam, de tudo um pouco, e são atendidos em suas demandas primeiro e antes de tudo, por este “despachante do povo” que é o vereador.

De consulta e exame a caixão, de limpeza de rua a indicação de emprego, de ajuda para pagar uma conta vencida, a passagem para levar alguém da família para fazer tratamento fora. Estas e centenas de outras pequenas demandas - que a rigor não fazem parte das atribuições dos vereadores – são atendidas diariamente em seus gabinetes.

E além delas, os parlamentares precisam estar prontos, preparados ( e correr contra o tempo caso não estejam), para aprovar ou rejeitar contas, entender e dissecar projetos de lei, apresentar alternativas a problemas da cidade.

Aumento de impostos não: benefícios, sim

Quando votam questões impopulares, como o aumento recente do IPTU, se tornam um saco de pancada nas redes sociais. É de se pensar. A planta de valores dos imóveis de Palmas estava pra lá de defasada. O valor do metro quadrado na maioria das quadras não correspondia a 30% do valor real de mercado. E ainda que o valor de mercado seja abusivo – motivado por vários fatores – é necessária a correção.

Ninguém gosta de pagar aumento de imposto, mas em contrapartida, todos querem que os benefícios cheguem à sua quadra. Sou a favor da cobrança de eficiência na gestão dos recursos públicos. Mas não concordo em ter um imóvel sub-avaliado por que há uma resistência de um grupo (justamente os que mais têm imóveis para alugar ou especular) em que a planta seja corrigida.

Por estas e outras questões colocadas de maneira torta, vai ficando por aí, no ar, que vereador em Palmas é um cargo ocupado por gente sem preparo, ou sem compromisso com a comunidade. Não é verdade. Esta legislatura tem homens e mulheres de qualidade. Poderia ter melhores? Poderia e poderá. Mas para que isto ocorra é preciso que a sociedade toda ( e não apenas uma parte dela) enxergue as coisas como elas são, e se disponha a mudar a realidade no voto.

Em quem mesmo você votou para vereador em 2008? E depois disto quantas vezes você cobrou coerência do seu representante? São coisas a se pensar. Antes de denegrir e esvaziar a importância de uma instituição que tem como objetivo nos representar a todos. Gostemos disto ou não.

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