A corrupção e outras crises de valores que o Brasil enfrenta ao se olhar no espelho

Os últimos fatos da semana convidam a uma reflexão daquelas dolorosas. Uma jovem queimada viva numa construção abandonada na capital. Mais e mais notícias sobre denúncias de corrupção nos ministérios. Os desdobramentos do assassinato de uma juíza no ...

Recebi um email do internauta Luciano Mascarenhas, que diz assim: “(..) Gostaria de dizer o quanto aprecio este veículo de comunicação. Sou Tocantinense e acompanho as notícias pelo seu site. Gostaria de sugerir, de deixar aqui o meu desabafo, e dizer o quanto estou profundamente afetado pelas coisas que andam acontecendo em nosso tão querido Estado do Tocantins. Precisamos lançar campanhas pró moralização das ações dos Poderes. Gostaria de sugerir! Porque vc não abre espaços para discussão onde nós, internautas e a sociedade, possamos receber respostas de seu site, de vc mesma sobre o assunto em voga ou de profissionais das diversas áreas? (...)”

Não é um email isolado. Sugestões, manifestações de incômodo e indignação vêm chegando nos últimos dias em que crescem notícias reveladoras sobre esquemas encontrados dentro e fora do poder público para minar o Estado brasileiro e escoar para fora de seus cofres, recursos que são de todos.

Fazendo algumas leituras sobre a história do Brasil desde a colônia, não é difícil perceber que a corrupção enraizou-se nas instituições e de fato, institucionalizou-se como uma prática comum, corriqueira na gestão pública.

O “levar vantagem em tudo” intrínseco no comportamento do brasileiro mediano (aquele que recebe troco a mais no mercado e não devolve, recebe depósitos por engano e saca...) por muito tempo foi o que predominou. Querem ver um pensamento comum de se ouvir por aí? “político nenhum é honesto. E os honestos que entram, logo estão “no esquema”.

É ou não é assim que a maioria pensa? é como se a honestidade de tão rara, fosse uma miragem.

Avanços que a fiscalização e a investigação começam a trazer

De outro lado,no entanto, quanto mais se rompe a dependência econômica e intelectual que o brasileiro das classes menos favorecidas tem do poder e de seus representantes, mais as coisas caminham para uma mudança interessante. A educação por outro lado -  ao permitir a ascensão social através do emprego - ajuda a quebrar estas amarras.

Querm ver os sinais destas mudanças? As instituições brasileiras encarregadas da fiscalização e do combate ao desvio de recursos públicos está mais atuante. Polícia Federal e Ministério Público entre eles. A imprensa por outro lado, tem se fortalecido. Mesmo no interior do Brasil, onde ainda é tão difícil sobreviver à margem da cooptação financeira operada por governos e seus agentes políticos.

E a população no meio de tudo isto? Será que se olha no espelho e enxerga no político e no governante, as mazelas que estão nela própria? O eleitor que condiciona o voto ao favor e ao benefício é corruptor ou corrupto? Reflexões que são necessárias de se fazer.

A resistência dos que não querem corromper

Existe uma casta de puros e incorruptíveis? Quantos são? Estes mesmos, não têm ao seu lado um marido, ou uma esposa envolvido em algum esquema no seu trabalho? Um filho que se envereda pelas drogas, pelo crack e acaba roubando, matando, ou pondo fogo em alguém?

Que tipo de sociedade doente nós temos? A que reconhece a doença e quer se curar, ou a que é inquisitorial para apontar os defeitos dos outros ao mesmo tempo em que esconde os dos seus?

Sei que domingo é dia de assuntos leves, mas deixo a reflexão para que todos nós possamos pensar. Não para estimular a tolerância com os erros, mas para sugerir que é importante encontrar meios de recuperar quem erra. E criar uma geração menos ávida pela riqueza, e mais atenta a outros valores. Dos que ajudam a viver em comum de maneira mais equilibrada e justa.

Se o Brasil for mandar para a cadeia todos que em algum momento de suas vidas profissionais, privadas ou públicas, cometeram crimes de corrupção, vai faltar espaço para todo mundo. Justiça talvez seja isto: saber dosar a medida da pena. Ou na ânsia de punir, evitar condenar antecipadamente pessoas que anos depois terminam absolvidas, após sofrer os efeitos da condenação precipitada.

Justiça talvez seja o Brasil se olhar no espelho e reconhecer que as feridas são grandes e profundas. Não nasceram hoje nem de agora, e é preciso atitude para curá-las. Com doses de verdade e equilíbrio.

Expurgar a corrupção? Sim, é urgente e necessário. A começar pelos maus hábitos tantas vezes relevados por nós mesmos sob o manto do bom humor que considera pequenos delitos, provas de uma tal “esperteza”, tão inerente e comum ao brasileiro.

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