A importância do contraditório

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Já faz algum tempo que estou com a vontade de analisar os efeitos, para o público, de dois comportamentos noticiados pelos veículos de comunicação especializados em política no Tocantins. Um é a sequência de eventos de "confraternização" que têm unido parlamentares e prefeitos das mais diversas agremiações políticas em almoços, churrascos e jantares os mais diversos. Outro, é a intensidade dos debates seguida do excesso de sensibilidade de alguns parlamentares na nova legislatura da Câmara Municipal de Palmas.

Falando do primeiro, é importante dizer que a classe política tocantinense -  que tenho o privilégio de observar nos últimos 18 anos de Tocantins  - evoluiu muito no quesito civilidade na convivência. Isso é admirável e necessário, até porque os embates de baixo nível ofendem o eleitor e a comunidade. Então, nada contra que adversários se cumprimentem, se tratem com educação, e convivam.

Difícil para o eleitor entender e assimilar,  é a rapidez com que as diferenças desaparecem depois da eleição. É isso que está incomodando, e não desce -  literalmente -  na garganta de quem faz a linha antiga, quando a defesa de princípios ainda valia alguma coisa. Ora, se durante uma eleição determinado político acusa o outro de corrupção, entre outros crimes, e de ser "a pior das opções" para ocupar determinado cargo público, não pode estar de braços dados com o adversário menos de seis meses depois da eleição. Pelo menos não deve, a menos que queira ser desacreditado.

Do jeito que a coisa anda, daqui há bem pouco tempo, o eleitor já não saberá mais quem é quem. E pior: quem defende o quê. Cada vez que vem a público um rega bofe e troca de gentilezas entre os poderosos, fica a pergunta: mas não eram adversários, quase inimigos mortais? E o eleitor acaba descobrindo que pouco inteligente foi ele, de se envolver acirradamente numa eleição, brigar com vizinhos e às vezes até com amigos em defesa deste ou daquele candidato.

Finalmente, vejo o efeito pós eleição se abater sobre a Câmara Municipal de Palmas. Quem viu alguns vereadores em discursos fortes e até truculentos nos palanques ano passado, não os reconhece no parlamento municipal. Uns, simplesmente aderiram ao poder, por que "o poder é forte", e não se consegue nada sem ele. Outros, os que insistem em ficar nas posiçõespara as quais foram eleitos, são açodados diariamente, por que qualquer coisa que digam "fere" a sensibilidade dos que, passadas as eleições, querem uma convivência sem o contraditório.

Nestes anos todos cobrindo políticos de Goiás ao Tocantins, só vi o povo garantir conquistas quando há o contraditório. Quando a oposição cumpre seu papel, num debate de qualidade, o executivo caminha melhor. Quando a imprensa é livre para apontar falhas os políticos fazem sua auto avaliação e mudam de postura.

É assim que tem que ser: cada um mostrando autenticamente o que é, e no que acredita. Para que o eleitor possa escolher o político que quer, e continue admirando homens e mulheres que sabem defender suas posições.

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