Em uma semana do governo interino de Carlos Henrique Gaguim (PMDB), o Tocantins parece ter sido varrido por um furacão. A velocidade com que as mudanças foram feitas, a começar pelos primeiro e segundo escalão do governo, trazendo de volta ao cenário figuras esquecidas, e fatiando os espaços e cargos com os deputados foi espantosa. Positiva em alguns casos, questionável em outros, a nova composição dá o que falar.
Num curto período de tempo o executivo criou uma lei estadual para regulamentar as Eleições Indiretas, retirando a autonomia dos partidos realizarem convenções, e transferindo o direito de inscrever chapas aos 24 deputados. No quarto dia de governo, a nova equipe anunciou uma dívida de R$ 488 milhões, mas o número que ganhou a mídia foi o “rombo”, ou “furo de caixa”, de R$ 800 milhões. Para se chegar a ele somou-se a queda na arrecadação, à dívida encontrada. Nem a oposição mais ferrenha a Marcelo Miranda faria melhor.
O fato é que o governador Gaguim é do PMDB, e a base de apoio do governo que desceu a rampa na quarta-feira passada foi toda eleita com o ex-governador, e compartilhou do governo com ele. As medidas determinadas para contenção de gastos, corte de cargos que não estavam preenchidos e demissão de comissionados para contratação de outros, das bases daqueles que assumem o poder, não são mudanças profundas.
Os partidos esfacelados
A carta do ex-governador Siqueira Campos, publicada com exclusividade ontem pelo Portal CT, é o retrato de um momento em que os partidos já não têm poder de fazer seu posicionamento no cenário político, e ter seus representantes acompanhando estas decisões.
Senão vejamos. O PMDB tinha pelo menos três pré-candidatos além de Gaguim. O exercício do poder de governador por parte do presidente da Assembléia fez desaparecer os possíveis oponentes. Ainda mais com a lei que acabou com a possibilidade de escolha – e disputa – nas convenções.
O DEM da senadora Kátia Abreu tinha quatro deputados, e segundo fontes, quatro simpatizantes à liderança da senadora. Eram oito votos, que poderiam se somar a outros, formando uma segunda chapa na Assembléia. Sem entrar no mérito do racha, já que as versões são várias, o DEM já não tem o controle dos votos dos seus deputados, e fala-se em esvaziamento da sigla antes do prazo final de filiações. Isto, contando com a janela para migração dos detentores de mandato.
Finalmente, a União do Tocantins do ex-governador Siqueira Campos, que ficou unida enquanto durou o julgamento do Rced, também se rompe. Dividida entre a liderança do senador João Ribeiro, que tem mandato, emendas a distribuir e poder de fogo no planalto - de um lado - e a história e obstinação do ex-governador Siqueira de outro, a UT ficará menor para permanecer na oposição. Fala-se, já em “isolamento”, de Siqueira.
A carta traz acusações pesadas e termos pejorativos para os deputados da bancada utista na Assembléia, e com certeza será respondida da tribuna. O descontentamento de Siqueira com seus deputados, e com a condução dada ao grupo por Ribeiro foi antecipado pelo Site Roberta Tum, em editorial aqui.
Humildade para consertar
Ontem, quarta-feira, 16, o deputado Júnior Coimbra, presidente interino da Casa, admitiu a possibilidade de que a lei seja modificada para que sua constitucionalidade não possa ser questionada. E se isso significar incluir os partidos novamente na discussão, Coimbra confirmou que assim será. Ele arrematou dizendo que não acredita que isso mudará o resultado das eleições.
O fato é que os deputados é quem farão esta escolha. O momento é deles, e a decisão está em suas mãos. Por isto, Gaguim deverá ganhar as eleições indiretas de qualquer forma. O sentimento do grupo de parlamentares era, desde o começo, eleger um deputado. E não há por que considerar isto ilegítimo. A forma como as coisas estão acontecendo, e virando manchete, é que preocupa, por que fragiliza o parlamento.
Gaguim construiu este entendimento entre seus pares. Nos discursos na Câmara de Palmas e na Assembléia, fica claro que ao longo de sua vida pública, o deputado sempre foi respeitoso ao lidar com as diferenças de partido. A história e o destino lhe trouxeram a este momento em que não há outro candidato com todas as condições de ser governador, como ele.
É este favoritismo que os partidos não conseguirão mudar. No momento em que a unanimidade está construída em torno de Gaguim, aumenta a responsabilidade de cada um dos deputados que compõem esta coalizão. O encontro com as consequências do resultado positivo ou negativo disto será em 2010. Mas lá, a história promete ser outra, por que, novamente os partidos estarão no controle.
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