Eu tinha acabado de sair para trabalhar quando percebi que meu celular estava descarregando. Seria um dia daqueles! Não dava para arriscar. Voltei para pegar o carregador.
Meu marido ainda estava tomando café. Aproveitei para discutir a “pauta” do dia. Já nos preparávamos para sair quando o telefone tocou. Era uma ligação a cobrar. Meu marido resmungou enquanto eu atendia e aguardava para saber quem poderia ser àquela hora da manhã.
Uma voz de menina chorando falou...”mãe...mãe...
Eu tinha certeza que era a voz da minha filha. Já nervosa gritei seu nome e perguntei o que estava acontecendo. A garota, que até então eu achava ser minha filha, contou que estava na porta da escola quando foi puxada para dentro de um carro e agora estava amarrada. Entrei em pânico. Nem passou pela minha cabeça que isso tem acontecido todos os dias e que eu estou cansada de saber disso.
Meu marido me tomou o telefone. Ele também tinha certeza que aquela voz era da nossa filha.
Alguém pegou o telefone e começou a fazer ameaças de morte.
Todas as histórias noticiadas se perderam no esquecimento.
E se fosse ela?
Liguei para a escola. A secretária informou que era hora do intervalo. Implorei para que procurassem minha filha. Foram os mais longos e doloridos minutos da minha vida.
Ouvir sua voz foi muito mais do que um alívio. Foi nascer de novo. Foi tê-la de novo.
Mesmo assim corremos até a escola. Tudo normal...foi apenas mais um trote.
O dia correu tranqüilo, mas a dor no meu peito não passava.
Fui buscá-los.
Desta vez havia sido ela. A maioria das colegas já tinha passado por isso.
Meu filho contou que sua colega disse que a primeira vez que ligaram todos ficaram apavorados, mas depois da quinta vez...já tinham acostumado.
Será que vamos ter que nos acostumar com isso também?
E você? Já passou por isso? Se já passou deve ter dado graças a Deus por ter sido apenas um trote.
E quando não der mais certo a tática? Será que vamos nos acostumar também o que virá depois?
Será?
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