Além da Segurança, problemas na Saúde devem pautar ações do governo

Na pesquisa qualitativa que o governo mandou fazer para levantar os principais problemas que o tocantinense enfrenta, a saúde aparece disparada na frente. O próprio governador falou sobre isto no último dia do ano em reunião com a presença da imprens...

Ninguém espera que o governador Carlos Gaguim (PMDB) consiga resolver no curto período de governo que tem, problemas estruturais que se arrastam sem solução há muito tempo. Diga-se de passagem, há anos. No caso da Saúde, quem acompanha de perto a área sabe que “quanto mais a estrutura melhora, mais o atendimento piora”, por um simples motivo: a procura aumenta.

 Era sabido que com a abertura de um grande hospital em Palmas, a demanda cresceria em larga escala, até porque a Capital passaria a ser referência para um interior na maioria das vezes carente de atendimento qualificado.
 

O problema é que as reclamações quanto ao atendimento do HGP não param. A estrutura é grande, os equipamentos são de primeira linha, e em algumas áreas como a cardiologia, é lá que se encontram os melhores recursos: profissionais e materiais.

 

A dor na fila de espera

 

O que incomoda, e intriga, é que o Hospital Geral de Palmas deveria atender com a rapidez que esta qualificação requer, os casos de “urgência e emergência”. Os postos de pronto atendimento existentes na cidade fazem uma triagem para encaminhar ao HGP apenas o que não se pode resolver com um atendimento simples de pronto-socorro.

 

E é aí que a coisa pega. Gente com problemas graves está ficando numa fila interminável, e voltando pra casa sem solução. Em outros casos, o atendimento passa da hora. Na campanha de 2008, me lembro de um acidente envolvendo um caminhão na serra de Taquaruçu, que terminou com a morte de um cabo eleitoral do PV. Ele foi levado para o HGP, e como não tinha fratura exposta, ficou deitado num banco esperando. Morreu em decorrência de hemorragia interna.

 

No Jornal do Tocantins de hoje uma manchete traz o caso do pintor Antônio Sebastião Alves, que ficou 12 dias internado à espera de uma cirurgia, e voltou pra casa sem ela. No caso do trabalhador acidentado o problema era no braço, fraturado. Segundo a reportagem, que também foi ao ar na TV Anhanguera, sua cirurgia foi marcada e remarcada. Não suportando mais esperar ele deixou o hospital, denunciando condições impróprias, como pacientes deitados no chão, numa área lotada.

 

Algo de muito errado no ar

 

Para os veículos da Organização Jaime Câmara o chefe do Pronto Socorro, Tomé Cezar Rabelo, disse que a lotação é “normal” e que o pintor não foi operado por que seu caso não foi “considerado grave”. É um absurdo. Por mais que um braço fraturado não tenha prioridade sobre acidentados, e outros casos classificados na tabela como “de maior urgência”, não é concebível que alguém aguarde com o braço fraturado por doze dias dentro do maior hospital de referência do Estado. E volte pra casa como chegou.

 

Tem algo de muito errado no ar quanto ao atendimento que o HGP vem dispensando aos casos de urgência e emergência. Em alguns casos, como o do jornalista Jorge Gouveia, que morreu lá e teve o corpo recolhido ao IML sem identificação, a impressão que se tem é de desorganização da área administrativa.

 

Em outros casos parece - pelo menos para as famílias - que é uma questão de critério, de superlotação, que vai empurrando para o fim da fila as dores que “aparentemente” não são tão graves.

 

O governador está certo em fazer pesquisa para identificar as áreas de estrangulamento nas ações de obrigação do Estado. Assim como a in-segurança pública que aflige os tocantinenses do interior e da Capital - e que mereceu reação imediata do governo – a Saúde precisa pautar ações imediatas.

 

Na verdade, o que a Saúde precisa é de um plano emergencial de cura para o mal atendimento, para o descaso com a dor do outro, e para a acomodação dos que – por conviver com  tanta tragédia no dia a a dia - já acham normal uma pessoa entrar e sair com fraturas de um hospital de urgência , sem atendimento, doze dias depois.

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