Quando o Tocantins foi criado, nos idos de 88, data de promulgação da Constituição Federal, a realidade deste inóspito então Norte Goiano era bem diversa da vivida hoje.
O movimento de criação, havia sido abraçado por muitos, mantido vivo durante muito tempo e liderado com valentia e destaque nacional nos anos decisivos da conquista por José Wilson Siqueira Campos.
Na primeira eleição, Siqueira Campos venceu José Freire. Na segunda, um Moisés venceu o outro, e Avelino se consagrou nas urnas sobre Abrão. A reeleição ainda não existia, nem a Lei de Responsabilidade Fiscal, que obrigou o governante a pagar suas contas e não deixar débitos para o sucessor.
Quando cheguei ao Tocantins e a Palmas, em abril de 91, o Tocantins era uma promessa para todos: nativos e chegantes. O governador já era Avelino, e o PMDB estava no poder com tudo que isto significava. Na Assembléia de então brilhavam entre outros Condorcet Cavalcante, excelente orador, Uiatan, Raul Filho, Marcelo Miranda, Otoniel Andrade, novas estrelas entre políticos já antigos.
A UT no poder
Economicamente o Estado era incipiente. Além da agricultura e pecuária, básicas, o comércio só florescia nas maiores cidades, pólo de desenvolvimento às margens da BR-153: Gurupi e Araguaína. A Unitins, recém criada, implantava o modelo multi campi que se mostrou ao longo do tempo oneroso demais. Faltava praticamente tudo em infra-estrutura: oferta de energia, estradas e pontes (o maior desafio de então, já que o estado é cortado por rios em todas as direções).
No final do governo Avelino – que fez uma gestão municipalista, voltada para o interior, e sem grande impulso para a capital - Siqueira voltou consagrado pela vitória sobre João Cruz. Retomou o poder embalado pela esperança dos que queriam grandes obras, dinheiro circulando, e a mítica força do criador impulsionando o progresso.
A era de poder da União do Tocantins voltou para durar os oito anos de Siqueira, reeleito ao final do segundo mandato, e mais os dois primeiros anos de Marcelo Miranda, que recebeu o governo com o apoio do antecessor. O modelo político da UT, das decisões centralizadas em torno do chefe maior, deu estabilidade econômica para implantação do Estado. Siqueira governou com maioria na Assembléia, elegeu a maioria de prefeitos, teve o aval do judiciário e tirou o Tocantins da primeira infância, com um projeto de desenvolvimento de médio e longo prazo.
A quebra da hegemonia
O rompimento de Marcelo Miranda com a União do Tocantins inaugurou um novo momento para a política estadual. Na verdade a rebeldia maior foi de Raul Filho, que rompido há mais tempo, já havia fincado bandeira na prefeitura de Palmas. O rompimento dos Miranda, e sua reeleição para o mandato hoje cassado, deu fôlego e oportunidade a muitos, que hoje formam os novos quadros da política tocantinense
Maior empregador, o governo viveu um momento de pacificação com o funcionalismo e de valorização do servidor. Mantendo o ritmo nas obras de infra-estrutura e com boa relação com o governo federal, fez a transição entre os dois momentos políticos, sem deixar que a economia se ressentisse.
E agora, José, para onde?
Aos 21 anos, que completa nesta segunda-feira, 5, o Tocantins vive momento atípico na sua política. Vai assistir hoje a três convenções partidárias: PT, DEM e PMDB decidem o rumo que tomarão nas eleições indiretas. Mas o certo é que são eleições decididas, em que apenas um candidato tem votos para ser eleito: Carlos Henrique Amorim, o Gaguim, presidente da Assembléia e governador interino.
As eleições indiretas transformaram o cenário da política tocantinense, novamente permitindo e favorecendo a criação de um grande e poderoso grupo, que tem a maioria dos deputados estaduais (se não tiver a unanimidade), fortes ramificações no governo federal, e que governará dentro de um clima de que é necessário o apoio de todos os poderes e instituições para tirar o Estado deste momento de intranquilidade.
O grupo que ainda não tem nome já junta PMDB, PR, PDT numa aliança formada por grandes expressões da política estadual. Tem ainda o apoio do PV, que integra o governo, e do PT que apóia de longe. Se confirmado neste cenário, Gaguim será o governador com as melhores condições desde Siqueira, para conduzir os destinos do Tocantins.
A questão é que a diversidade política do Estado já não permite unanimidade. O Tocantins precisa da divergência e do contraditório, representadas hoje ironicamente de um lado pela liderança do velho Siqueira, e de outro pela negativa em compor de Kátia Abreu.
Entre os desafios que o Tocantins enfrenta aos 21, está a necessidade de se emancipar economicamente para além dos cofres do Estado, e viver este momento político sem que ele signifique o fim da liberdade de pensamento e expressão.
Parabéns Tocantins, e bem vindo a era da maturidade.
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