Lendo as análises feitas por jornalistas de renome nacional nesta quinta-feira, 12, percebo que Demóstenes caiu, por uma necessidade do Senado de dar uma resposta à República, cada vez mais intolerante com o comportamento dúbio, desonesto e por vezes cínico dos seus representantes políticos.
A jornalista Dora Kramer, por exemplo, avalia que o Senado está longe de se “purificar” por ter cassado Demóstenes Torres e deixado de cassar por exemplo, Renan Calheiros, lá atrás. Ela relata que ontem Calheiros assistiu de pé, com uma expressão que disfarçava um leve sorriso, a queda de Demóstenes.
Ricardo Noblat contou também em seu blog o episódio em que Demóstenes atacou duramente o presidente da Casa, José Sarney, do qual tuitou alguns trechos. Indignado, Sarney teria descido da Mesa e ido ao encontro de Demóstenes. Contido por parlamentares para evitar que se atracassem, Sarney teria dito ao senador hoje cassado: “quem sabe da tua vida é Cachoeira”.
Não deu outra. O ex-arauto da moralidade, que ganhou notoriedade nacional com a defesa da aprovação da lei da Ficha Limpa, despediu-se do Senado ontem pedindo desculpas, pelas vezes em que possa ter atacado companheiros “levianamente” e recomendando aos pares que não sigam o mesmo caminho que ele seguiu: o da busca dos holofotes batendo duramente no comportamento reprovável de alguém.
O Estadão de hoje, por sua vez, faz talvez aquele que seja o melhor resumo da situação que vivemos esta semana, e compara Demóstenes a Raul Filho, de Palmas, no editorial intitulado “O Bloco dos Descarados”. Nele o jornal critica duramente o comportamento do prefeito da capital tocantinense que afirma em determinada altura de seu depoimento que fez o que todo político em campanha faz, mas teve “a infelicidade de ser filmado”.
“Aplica-se aos dois casos o implacável dito popular: “Vergonha não é roubar; é roubar e não poder carregar”. Demóstenes enganou muita gente durante muito tempo. Raul Filho só enganou os que gostavam de ser enganados (…)”, afirma o Editorial que pode ser lido na íntegra neste link.
As lições que muitos ainda não entenderam
A despeito do Senado e na mesma proporção que ele, as demais Casas Legislativas, agirem contra os que não se relacionam bem, não construíram laços de interesse a amizade suficiente para serem “protegidos”, numa eventual crise diante da opinião pública, uma coisa é certa: a sociedade brasileira tem evoluído o bastante para cobrar outra postura dos seus representantes.
A circulação de informações, seu impacto nas redes sociais, e o efeito cascata que fatos negativos geram (alcançando proporções antes inimagináveis) apontam para a necessidade urgente de que a classe política se re-invente.
O Senado ontem cortou na própria carne, embora numa parte do corpo que para muitos não fará falta Ao eliminar Demóstenes, de fato, o Senado deu uma satisfação à sociedade ao considerar inaceitável o comportamento dúbio do Senador de colocar seu mandato e influência à serviço da rede de interesses do contraventor Carlinhos Cachoeira.
A pergunta de Demóstenes no auge do desespero foi: “porque a minha cabeça tem que rolar?” Na prática, porque o povo pediu. E quando o povo pede, é suicídio politico-eleitoral para quem se coloca na frente, continuar defendendo.
Palmas ainda está distante do amadurecimento politico das grandes capitais brasileiras, talvez sobretudo pela dependência de grande parte de sua população economicamente ativa, das teias do poder publico, municipal e estadual.
Mas não se iludam: a opinião pública aqui caminha para ficar cada vez mais forte, e pode se mostrar também pouco tolerante aos que, num momento de “infelicidade” venham a ser desmascarados.
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