Conheci Ângela Costa Alves na primeira campanha à governador disputada por Marcelo Miranda. Naquela época, não tão próxima do "primeiro-casal", como Veja apelidou Marcelo e Dulce, Ângela trabalhava prestando serviços ligada à Verbu's, que cuidava de boa parte da campanha eleitoral de 2002.
Mas convivi de perto com a ex-chefe de gabinete da primeira-dama na segunda campanha do governador, em 2006. Super poderosa, amiga pessoal do casal (ela gostava de dizer que eram compadres, pois o governador e a primeira-dama eram padrinhos de um de seus filhos), ela estava na época casada com outro amigo meu do movimento estudantil, o ex-presidende do DCE da Unitins Élcio Paranaguá.
Vi que a Ângela da primeira campanha tinha se transformado numa rapidez vertiginosa. O cargo no governo com salário alto, a proximidade e confiança da primeira-dama, a atribuição que tinha de contratar serviços através do gabinete de dona Dulce pareciam ter lhe subido à cabeça. E de tão íntima e próxima, a então assessora gostava de relatar assuntos pessoais da família Miranda e contar detalhes desta convivência para referendar seu grau de proximidade.
Para quem quisesse ouvir, Ângela cansava de dizer entre a equipe que trabalhava na campanha (na época eu fazia assessoria de imprensa como uma das jornalistas contratadas pela Talento) que "morreria" por Dona Dulce. Nos supostos desentendimentos familiares relatados por ela, pessoas da família de Marcelo se ressentiriam "do carisma", "da competência", e da "capacidade de ação de Dulce", tentando lhe tirar o espaço. Ângela gostava de contar histórias em que era a defensora da amiga e comadre. Até então as supostas "brigas" de que se tinha notícia entre ela (Angela) e o chefe de gabinete do governador (Dr. Luiz Antonio), seriam por estes motivos.
O tempo passou, o governador foi reeleito, mas desde aquela época os rumores no Palácio eram de que devido ao seu comportamento, atirado demais, Ângela estaria "se queimando". Ela e Paranaguá se separaram, e meses depois quando o encontrei no Posto Eldorado, perguntei por ela, já sabendo que havia um processo correndo contra Ângela (segundo informações de bastidores por contratar à revelia e sem autorização de Dulce, produtos e serviços, a empresas de sua própria escolha). Ele então contou que tinha rompido relações com a ex-mulher por que já havia sido "prejudicado demais".
Mas os rumores que cresciam entre assessores do governo é que Ângela havia abusado da confiança de Dulce. Com o poder que tinha e a carta branca recebida da primeira-dama, teria tomado atitudes ao arrepio da lei, feito dívidas altas demais,desconhecidas pelo gabinete e estaria afastada enquanto setores do governo apuravam o tamanho da dívida contraída por ela usando o nome da primeira-dama. As suspeitas eram de enriquecimento ilícito usando o trânsito e a influência conferidas pelo cargo e a amizade.
Não tive acesso às informações do processo na PF. Agora, diante das quatro reportagens que acabo de ler no Portal CT - sempre ágil na repercussão das matérias nacionais que afetam a imagem do governo - me pego com algumas dúvidas e perguntas que não que querem calar:
1 - Ângela fez o que sabia ser errado a mando, ou por conta própria? E se fez a mando, não párou antes e denunciou na época, por quê?
2 - Quando foi que a conhecida prática de "dar um jeitinho" de pagar despesas extras usando processos de compras e serviços tomou as proporções e o volume apontado pela reportagem?
3 - Ela rompeu com um suposto esquema de corrupção dentro do governo por que não concordava com ele ou porque não concordava com a parte que lhe tocava? Ela foi pega realmente usando o poder que tinha para montar empresas e enriquecer às custas confiança do "primeiro-casal" e decidiu usar o que sabia para se vingar?
4 - Quem chantageou quem: a servidora colocada de escanteio pelo Palácio, ou o chefe da casa militar como a ex-chefe de gabinete acusa na PF e na Veja?
5 - Ela recebeu os R$ 100 mil que disse que o Coronel Bonfim lhe entregou em espécie? e depois disso, recebeu mais quanto, e de quem, para fazer o vídeo e a denúncia?
A matéria de Veja está bem fundamentada. O processo na PF, dá o que pensar. Em 24 anos de experiência dentro da redação de jornais, passando por assessorias, ou trabalhando por conta própria perdi a ingenuidade. Sei perfeitamente que onde há fogo, há fumaça.
Para mim também está claro que a publicação desta matéria neste momento, expondo uma investigação federal atende outros interesses que não o do zelo com o dinheiro público.
O nome de Ângela acaba de entrar para a história, ao lado de outros tantos de ex-assessores, que insatisfeitos com alguma coisa ou com o tratamento recebido, jogam na lama o nome dos ex-chefes e patrões. A esta altura, resta esperar que o inquérito separe o jogo de vaidades da verdade dos fatos.
Em tempo: revi Ângela novamente poderosa na campanha de Raul Filho ano passado. Depois das eleições soube nos bastidores que ela teria cobrado duas vezes pelo serviço prestado à coligação Força do Povo. Num comportamento que já conhecido dos ex-colegas que deixou no governo, ela estaria ameaçando ir à justiça denunciar o prefeito reeleito por não ter lhe pagado.
Pelo visto decidiu ir mesmo foi para Brasília, denunciar o governador e a primeira-dama, às vésperas do julgamento do Rced. Ângela Costa Alves agora é estrela nacional, com direito a aparecer na Veja, e a viver resguardada pelo programa de Proteção à Testemunha.
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