Chega de passar a mão na cabeça de adolescentes

O jornalista e publicitário Melck Aquino comenta o comportamento de adolescentes e seus pais, partindo do fato ocorrido esta semana em Palmas envolvendo dois estudantes numa discussão que terminou com agressão envolvendo os pais dos dois. Confira!...

Ao tomar conhecimento da postura assumida pela direção do Instituto Presbiteriano Educacional e Social e pelo Conselho Tutelar no caso dos adolescentes que se envolveram numa briga seguida de esfaqueamento, eu me indignei. Os jovens não serão expulsos. Para preservar a imagem deles os pais serão procurados e orientados para transferi-los de escola.

Diante dessa e outras atitudes me convenço cada vez mais que estamos criando uma geração de jovens sem limites. A permissividade está exagerada. Quando eu era adolescente morria de medo de aprontar na escola e ser expulso. E por quê? Porque seria pau e castigo em casa e uma vergonha danada diante dos amigos.

Hoje, adolescentes batem, esfaqueiam, fazem sexo na escola (e ainda filmam nos seus celulares para divulgarem na internet), agridem professores, praticam esse negócio que na minha época seria confundido com um local pra coar o café (o Bullying), e fica por isso mesmo. E isso tudo no ambiente escolar. Não são expulsos para não terem “suas vidas manchadas” e a “imagem preservada”.

Ora, tenha a santa paciência. Que tipo de adulto estamos criando deste jeito? Que referência de disciplina e vida social eles terão? E pior: que tipo de educação eles darão aos seus filhos? Com a violência crescente, com as drogas campeando, e com a permissividade desvairada e insana que assola a sociedade, mais duas gerações e estaremos vivendo a barbárie.

Não a barbárie do socialista utópico Charles Fourier, que a via como o estágio que antecedia a civilização, nem tampouco aquela preconizada por Marx como resultante de relações de produção perversas do capitalismo. Mas a barbárie presente na teoria de Theodor W. Adorno, que a enxergava como uma condição em que o homem apesar de estar em um desenvolvimento industrial tecnológico avançado, se entrega ao atraso e, por possuir uma agressividade primitiva a um impulso de destruição, começa a materializar e ver como natural a insensibilidade e a agressividade, ainda que isto coloque em risco a sua própria existência.

Sei que serei “persona non grata” para muitos psicólogos e pedagogos, mas tenho que confessar: morro de raiva quando ouço um deles falar que não podemos dar uma chinelada nas crianças “hiper-ativas” que aprontam. Na minha época não tinha a história de hiper-ativo, era “custoso” mesmo. E as surras que tomei, por exemplo, foram todas muito educativas. Impuseram limites, forjaram caráter, ajudaram a dar disciplina. E isto porque meus pais nunca me bateram injustamente, e nem com violência extrema. Mas não se iludam, doía. Mas me permitiam lembrar que era melhor não aprontar novamente. Eram melhor pra memória do que pequi brigando para ser digerido no estômago.

Quer ver só uma história bem pessoal? Com oito anos peguei o quimba (guimba para os mineiros ou toco de cigarro para os nordestinos) de um amigo do meu pai e coloquei na boca. Ah, se arrependimento matasse... Ele viu e me mandou apagar. Apagar só não. Mandou-me comer o quimba de cigarro, e bem mastigado. Resultado: nunca fumei. Tomei ojeriza de cigarro, e sou grato a ele até hoje por isto. Que grande bem o meu saudoso pai me fez. Se fosse hoje, seria preso e condenado nos programas de televisão dedicados a comportamento e futilidades.

Hoje vejo adolescentes “respondendo” seus pais, dando ordens, se negando a fazerem o que mandam, eles mesmo definindo que horas chegarão em casa das festas, e por aí vai. Na minha infância ou adolescência “retrucar” meu pai num assunto, só ocorreria uma única vez. Mas, hoje em dia não. Crianças e adolescentes podem tudo. Pais não podem nem mesmo falarem alto ou darem uma chinelada em menino custoso e desobediente. O receituário que os tais senhores da razão apregoam é: “passem a mão na cabeça, sejam carinhosos e expliquem o que pode e o que não pode, que eles vão entender”.

Balela! Ou começamos a impor limites ou estamos cavando a nossa sepultura como civilização. Educar é a somatória de atitudes, e uma delas é deixar claro que há limites, com palavras, e também com castigos que deixem evidenciado uma relação de hierarquia que é histórica e faz parte da ordem natural que mantém o núcleo familiar em pé.

E sem entrar no mérito da ação dos adultos que devem ser punidos no rigor da lei depois de concluído o inquérito policial e feito o julgamento, quero aqui voltar ao assunto inicial dos jovens envolvidos nos lamentáveis episódios do IPES. Para que o grito parado na minha garganta não me deixe engasgado deixo aqui o meu apelo final: - Pelo amor de Deus, expulsem esses meninos da escola e dêem a eles severos castigos em casa. Um dia eles agradecerão por isto!

Melck Aquino é jornalista e consultor político. Mas isto pouco importa... O que importa aqui: é pai.

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