O evento ocorrido nesta última quarta feira 16/05/12, em Brasília, em que se instalou a comissão da verdade pelo Governo Brasileiro, traduz o estágio de democracia que estamos vivendo no Brasil. O período de 1946 a 1985, em nosso País foi dirigido e governado sob o regime dos militares, um período em que a democracia e liberdade pareciam ser uma utopia.
O estudo e a apuração dos fatos do período de 1946 a 1988 trazem aos familiares e amigos de mortos e desaparecidos políticos a reconstrução da história e a garantia do direito a memória e a verdade a todos os brasileiros, sob a observação de todos os países e instituições que prezam pela garantia dos direitos humanos. Inclusive para que fatos ocorridos na ditadura nunca mais se repitam em nosso País. São milhares de brasileiros que aguardam o momento de terem a história de suas famílias completadas, sem recorte, sem vazios.
O governo brasileiro tem avançado neste sentido, no final do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e no início do governo de Presidente Lula centenas de perseguidos políticos ou familiares de mortos no regime militar receberam indenizações que chegaram a valores significantes que não reparou os danos psicológicos, materiais e morais causados pela forma de tortura e perseguição sofridas pelos militantes da democracia, mas sinalizou uma abertura de debate para conquistarmos o que hoje assistimos.
O governo do presidente Lula (PT), avançou no debate dos desaparecidos políticos, garantido a criação da comissão dos direitos humanos que busca desvendar a localização de restos mortais de militantes políticos a exemplo do trabalho realizado na região de Xambioá-To e São Geraldo-PA, onde concentrou a organização dos de um grupo de estudantes militantes ligados ao PCdoB, (Partido Comunista do Brasil). Entre 1972 e 1975, a Guerrilha do Araguaia foi alvo de uma grande ação do exército, que queriam reprimir e acabar com o movimento.
Durante as ações militares, os agentes de repressão da ditadura teriam cometido graves violações aos direitos humanos, como prisões ilegais e execuções de guerrilheiros e moradores locais, condenados como colaboradores. Os militares são acusados de sessões de tortura, como estupros e mutilações, além desaparecimento forçado de diversos militantes.
Durante estes dois anos de trabalho da comissão da verdade nomeada pela Presidenta Dilma (PT), deverá buscar esclarecer fatos não revelados até a presente data, locais, objetos, instituições e episódios servindo de base para elucidar questões veladas a muitos familiares que não tiveram o direito de enterrar seus mortos, mães que choram até hoje seus filhos mortos em noites de tirania, esposas que perderam seus companheiros na luta por um sonho, um sonho de muitos, de ter um país livre, sem opressor e sem oprimidos, de homens e mulheres livres.
Além do interesse no assunto como historiador, vejo neste advento da consolidação da democracia no nosso país a história de minha família ser contada à luz da memória e da verdade. Pertenço a uma família que fez a opção de lutar contra as práticas do regime militar, pelo direto de livre associação, luta pela posse da terra, em especial meu avô Bartolomeu Gomes da Silva, que na luta de Trombas-GO, junto com o desaparecido político José Porfírio, lideraram a guerrilha de Trombas que com a ajuda do PCB (partido Comunista Brasileiro) resistiram na terra a garantiram a todas as famílias de Trombas e Formoso o direito de posse.
Em 1958, foi eleito vereador pelo município de Amaro Leite, sendo do Partido Social Democrático (PSD). Em 1961 foi à Cuba a convite de Farid Hellon para assistir às festividades comemorativas da Revolução Cubana. Em 03 de fevereiro de 1964, um ano depois da criação de Formoso, foi nomeado prefeito deste município pelo governador Mauro Borges, mandato que durou apenas um mês devido ao advento do Golpe Militar. Após a renúncia, Bartú como era conhecido foi clandestinamente morar em Paraíso, município de Porto Franco. Em 1969 mudou-se para o povoado de Buriti – antigo norte goiano, região do Bico do Papagaio, onde foi preso logo em seguida. Foi torturado, levado para o exército de Imperatriz-MA, logo levado para Brasília onde depois de sofrido todo tipo de tortura foi conduzido até a região do conflito de Trombas e sob tortura e ameaça levou os militares até os esconderijos das armas usadas na luta armada de Trombas contra os grileiros, a polícia e o exército brasileiro.
Seu companheiro José Porfírio natural de Pedro Afonso-To, se tornou um dos líderes do conflito de Trombas e Formoso na busca pela posse das terras. Em 1960 viajou a Cuba, onde ficou 08 meses. Em 1962 foi eleito deputado estadual de Goiás, primeiro camponês a assumir esse cargo, pela coligação PTB-PSB com 4.663 votos, sendo o mais votado. Foi o 1º presidente da Federação de Agricultores e Trabalhadores Rurais de Goiás, além de presidir o Congresso de Camponeses de Belo Horizonte e Goiânia.
Em 1964, com a Ditadura Militar, foi considerado foragido da Justiça e em 1972 foi preso na Fazenda Riachão, em Angelical – MA. Foi condenado a seis meses de prisão, sendo solto em 07 de junho de 1973. José Porfírio comprou uma passagem para Goiânia e nunca mais foi visto, desaparecendo com 61 anos de idade, sua família deseja que a memória e a verdade desvendem o que aconteceu com Porfírio. Para que não mais precisemos perguntar a ninguém “Cadê profiro?”.
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