Conheça a história de Caroline: estudante da UFT que luta por acessibilidade

Ela, que é deficiente visual, passou na Universidade Federal do Tocantins, quer se formar no curso de inglês e tem o sonho de viajar pelo mundo....

Caroline Barbosa luta por acessibilidade na UFT
Descrição: Caroline Barbosa luta por acessibilidade na UFT Crédito: Reprodução/ Facebook

A estudante de jornalismo Caroline Barbosa nasceu prematuramente com apenas seis meses. Na incubadora, ela sofreu queimaduras e deslocamento na retina, o que ocasionou uma deficiência visual. Hoje, conforme dito por ela, só é possível enxergar “claro, escuro e vultos”. O que poderia ser um caso triste, tornou-se uma história de causar inveja em jornalistas – por quererem contar sobre o fato – e serve de inspiração nas mais variadas pessoas que pensam em desistir de seus sonhos.

Caroline, hoje com 19 anos, conseguiu passar no vestibular 2013.2 para Jornalismo na Universidade Federal do Tocantins (UFT) pelo sistema universal. Em entrevista concedida ao T1 Notícias, a jovem mostrou maturidade e coerência em suas colocações.

 “Eu tenho muita coisa na cabeça, assim como qualquer pessoa que está no 1º período da faculdade. Escolher uma área do jornalismo agora não é fácil porque ainda estou conhecendo muita coisa, mas eu sou apaixonada por bancada (de Telejornalismo). Hoje eu diria que eu quero ser correspondente em outro país. Quero fazer intercâmbio. Há! Eu quero rodar o mundo...”, declara.

Ao entrar na UFT, Caroline percebeu que mais uma batalha deveria ser enfrentada. Antes, ela estudava no colégio Marista de Palmas, onde, segunda ela, tinha todo um suporte para realizar suas atividades educacionais. “Na UFT senti uma grande diferença. Você sai de um lugar onde tinha totalmente um apoio,  onde você tem as coisas com maior facilidade e entra em um ambiente completamente diferente”, declara.

Ela conta que as primeiras dificuldades foram encontradas ainda na época do vestibular. “No 1º vestibular que fiz, e não consegui passar, a Comissão Permanente de Seleção (Copese) não permitiu a utilização da Máquina de Braile para a Redação. No 2º vestibular minha mãe brigou muito e então consegui fazê-la. Vale ressaltar que tive um leitor da prova para mim”, explica.

 

O primeiro contato

Caroline disse ao T1 Notícias que o acolhimento dos colegas que teve na universidade foi muito gratificante. ”A recepção aos novos alunos foi ótima. Inicialmente notei um pouco de despreparo dos professores, mas agora já está dando tudo certo. Eles próprios elaboram uma forma para facilitar o meu aprendizado”, destaca.

Um dos pontos mais ressaltados pela estudante foi à falta de acessibilidade na própria universidade. De acordo com ela, a responsável pelo Núcleo de Inclusão e Acessibilidade do Deficiente (Niad) que trata desta área na faculdade só soube que havia uma acadêmica com deficiência visual, após uma manifestação que os acadêmicos de jornalismo fizeram pedindo acessibilidade e melhorias para o curso.

“O Niad hoje está parado. Disseram para gente que eles estavam tomando providências, mas até agora nada. Eu espero a melhoria na acessibilidade e não só para mim. Espero também que o núcleo funcione melhor, que tenha mais apoio da própria faculdade”, destaca.

Caroline disse que essa será mais uma batalha que ela terá que enfrentar, mas que coisas piores já ocorreram com ela antes de entrar na UFT. “Teve escola famosa aqui em Palmas que disse para minha mãe que eu não poderia aprender inglês. Se tivesse dado ouvidos hoje não estaria perto de me formar”, finaliza.

 

Colega relata convivência

A acadêmica de jornalismo da UFT Elâine Nolêto Jardim é uma das companheiras de Caroline na faculdade. Ela explicou ao T1 Notícias que a convivência com uma pessoa que é deficiente é algo novo para ela, mas que já se surpreende com a forma da colega de lidar com as coisas do cotidiano.

“Eu nunca tinha visto uma pessoa que é cega estudando e nunca participei da vida de alguém que passa por isso. Se um professor diz que vai passar algum filme ela já pede para ser dublado, ou em espanhol, que ela entende muito bem”, diz.

Sobre a rotina na sala de aula ela diz que às vezes se enrola ao explicar algumas coisas, mas que a Caroline sabe compreender muito bem os deslizes e que até brinca com seus pequenos comentários. “Uma vez ela perguntou cadê o lixo e eu disse aquele vermelho ali atrás de você. Ela responder em tom de brincadeira: o vermelho né? Beleza”, conta a amiga.

 

Material para Caroline já está a caminho

O reitor Márcio da Silveira afirmou ao T1 Notícias que foi criado dentro da UFT, uma prefeitura universitária que fez um levantamento sobre mobilidade e acessibilidade. “Nós já temos os projetos que fizemos no ano passado e fizemos também uma licitação que vai melhorar essa questão e esperamos agora o andamento. Na universidade, nesse sentido, não se faz tudo em uma semana ou em um mês, acredito que em um horizonte de dois anos nos já tenhamos equacionado toda essa questão”, afirmou.

Ele destacou ainda que não sabia que na UFT, Campus de Palmas, havia uma aluna que é deficiente visual, mas que após a manifestação dos alunos tomou conhecimento do caso. “Temos mais de 17 mil alunos e se eles não se manifestam a gente acaba não sabendo de algumas coisas. Após essa manifestação fizemos questão de adquirir equipamento para a Caroline e as providências para licitação. Esperamos que em até seis meses já tenhamos resolvido a questão do material para a ela”, assegurou.

 

Demissão pós manifesto

Após a mobilização, o presidente do Centro Acadêmico de jornalismo, que estava à frente da ação, foi demitido de sua função. Ele era estagiário na Diretoria de Comunicação da Universidade (Dicom) . Ele fez uma carta aberta e divulgou em sua conta no facebook que pode ser conferida aqui.

“Um dia após o manifesto, fui demitido da minha função de estagiário do setor de programação visual da Diretoria de Comunicação da UFT. A chefe e professora mais massa (sério!) dessa faculdade teve que fazer o papel dela como Assessora de comunicação do Reitor, e ponto”, disse em sua carta.

Sobre a demissão do presidente do CA após a manifestação, o reitor disse desconhecer os motivos. “Quem sabe dessas questões é a da Dicom.  Por parte nossa eu não admito isso retaliação por causa de manifestação”, garantiu.

A diretora de comunicação da UFT e professora do curso de jornalismo, Celene Fidelis, afirmou que a demissão do presidente do CA se deu por causa do manifesto e que ele foi demitido por questão de gestão da Dicom.  “Todas as pessoas que entram são orientadas a terem uma postura de assessor de comunicação. Independente de ser aluno, ele recebeu uma orientação prévia. Todos os servidores antes de entrar são orientados a terem uma postura de assessores. Ele estava trabalhando na assessoria e tem que manter a imagem da universidade. Não podemos ter uma pessoa na assessoria falando contra a imagem da faculdade”, explicou.

 

(Atualizada às 14h)

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