Consciência de ser neguinha

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Hoje é dia da Consciência Negra, data celebrada pelos movimentos sociais de defesa do direito à igualdade entre brasileiros de todos os tons de pele. Vi algumas coisas na internet, ouvi um trecho de debate no rádio no horário de almoço, e só. Na Assembléia Legislativa hoje não houve quórum para sessão pela manhã. Então não houve oportunidade para discursos lembrando a data e a necessidade de haver um dia para se falar sobre um assunto tão importante: a urgência em apagar  a herança de preconceito deixada na nossa sociedade pela escravidão.

No Brasil a diferença "racial"  é diferente de países como os Estados Unidos, onde acaba de ser eleito o primeiro presidente negro da história. Coloco entre parênteses por que ao pé da letra, somos todos de uma raça só: a humana. Mas ainda há quem insista em tratar o negro como um "ser de outra raça".

Foi por se julgarem superiores aos negros, que ao longo de séculosos brancos os escravizaram. Foi-se a lei que dava legitimidade a todo tipo de monstruosidade contra africanos e seus descendentes, e ficaram os hábitos.Os péssimos hábitos de tratar negros como seres inferiores, os homens apropriados ao trabalho pesado. As mulheres, boas para o serviço doméstico e os favores sexuais.

É certo que muita coisa mudou com o tempo, e fere os ouvidos mais sensíveis palavras tão duras. Mas hoje, dia da Consciência Negra, é dia de tomar consciência de quê? De que negros, brancos, pardos, vermelhos e mulatos são todos cidadãos de primeira grandeza.

Consciência de que todos somos em parte, negros. No sangue, nas crenças, na culinária, na pele, no coração. Antigamente, nos idos da minha infância, quando eu me deliciava com o aroma dos doces que minha avó materna - negra - fazia no fogão à lenha, era comum se ouvir a seguinte frase, a título de elogio: "Lá vai um negro da alma branca".

Pois hoje, dia da Consciência Negra, me orgulho em dizer: "Eu sou uma neguinha, da pele branca". Na minha alma ficou a fortaleza da raça negra. A resistência que corre no meu sangue. O orgulho de ter antepassados negros brasileiros, e ancestrais negros africanos.

E é essa mistura que nos faz, gente de todas as cores - e especialmente neste Tocantins erguido pela força negra -  seres tão lindos assim.

Roberta Tum

roberta@blogdatum.com

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