Estão aí, na praça, ressoando nas mentes e consciências desde ontem as palavras duras de João Costa, o ex-secretário, contra o governo ao qual pertenceu. Do Dr. João, amigo de dentro da casa do então ex-governador, que lutava contra o adversário, Marcelo, filho do velho ex-amigo Brito, para tirar-lhe o mandato. O Dr. João, que conheci apresentado pelo mesmo Velho Siqueira numa noite lá no bistrô Adelaide, do amigo Val, bem antes da campanha começar.
O homem que o Tocantins não sabia quem era, veio como advogado e tinha o sonho de ser suplente de senador. Onde conseguiria isto a não ser num Estado em que as estruturas políticas ainda arraigadas permitem que um líder monte uma chapa sem ser muito questionado, como fez Siqueira ao colocar Costa na primeira suplência de Vicentinho? Lugar nenhum.
E assim Siqueira levou João Costa ao topo de onde desceu pronto para os holofotes que lhe alcançaram para fazer as declarações que tanto desconforto causam ao governo desde ontem por mais que sejam minimizadas como uma “liberdade de expressão”. Mas não são só isso.
A mágoa e o discurso perigoso
De concreto, João Costa não fez sequer uma acusação, com nome sobrenome, números e datas. Seria o caso de se questioná-lo: dê nome aos bois Dr. João. Mas ninguém o faz assim, claramente.
Quais são os escândalos licitatórios? Quem são os empresários que faturavam no governo anterior e estão encastelados no Palácio Araguaia, faturando como dantes? Quais as irregularidades encontradas na Segurança, que o governador não quis combater? Quem são os colarinho branco intocáveis?
Estas são as perguntas que eu faria e gostaria de vê-las respondidas para dar crédito às declarações que mais parecem, por outra via, um desabafo magoado, de alguém que foi escolhido, defendido e depois preterido na condução de uma das pastas mais importantes do Estado: a segurança.
A proclamada coragem do Dr. João Costa,já por várias várias vezes se misturou com arrogância. Seus arroubos de que veio para prender os bandidos de colarinho branco soam como uma bravata mal explicada. Onde estão eles? Na operação Inconfidente? Recebeu o secretário orientação para poupar alguém, um companheiro de partido, um prefeito aliado, um promotor que não pode ser tocado? Os delegados transferidos, que eram da confiança do secretário, atingiram alguém que não poderia ser acusado?
São tantas as interrogações que sobram do pote de mágoa de Costa, quebrado e exposto ontem à luz do dia, que dá o que pensar.
Um homem da lei, caminhando no limite dela
De minha parte passei a desconfiar de sua seriedade desde o episódio da campanha, no TRE, quando foi detido sob a acusação de retirar folhas de um processo da coligação que representava. Sensação agravada depois que soube como ele atribuiu a Juvenal Klayber, um dos melhores quadros da advocacia deste Estado, um erro que ele próprio cometera, “queimando” o colega junto ao governador, que nunca pode ouvir a outra versão da história.
De exagero em exagero cometido à frente da secretaria, pode ser que Costa tenha enfrentado alguns bandidos engravatados no Tocantins. Mas se o fez, não tivemos o privilégio de saber. À imprensa e ao distinto público o que se soube foram das suspeitas, bem fundamentadas que atingiram o filho do deputado Stálin Bucar. Este que agora quer chamar Costa, o desafeto, para depor na Assembléia sobre os problemas que vê no governo ao qual se opõe. Cômico não? É a vida, é a política.
Fora a mágoa que bem se vê na atitude de Dr. João, ao usar o mesmo pau com que bateu em Chico, para ferir Francisco, está faltando consistência em suas acusações. Que Siqueira não governa e Eduardo não planeja, são deduções suas que podem encontrar eco em muitos outros políticos, jornalistas, formadores de opinião. Assim como vão encontrar o repúdio de muitos que não concordam com tal afirmação.
Mas isso é declaração política, que cabe melhor na boca da oposição, do que na de um advogado que ontem enfrentava dificuldades de provar que tinha domicílio em Palmas para poder se candidatar à suplência ora conquistada.
Vamos ver se Costa traz à luz da verdade e do domínio público todos os erros e ilegalidades que enxergou subitamente na administração à qual pertencia. Ou se vai recuar daí.
Independente do que fará, escreveu seu nome, ao lado daqueles que o governador ajudou, e com os quais depois se decepcionou. Certo ou errado, com motivos válidos ou não, Costa agora é carma que Siqueira terá que amargar, como Caio Júlio César, que ao perceber a traição dentro de casa, exclamou em agonia: até tu, Brutus?
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