Crise no Ministério dos Transportes pós-denúncia de Veja pode ter novas conseqüências

Está caindo pelas tabelas desde que chegou às bancas a revista Veja da semana, o reinado do PR dentro do Ministério dos Transportes. É uma sesmaria garantida desde o governo Lula e que poderia ter seguido em brancas nuvens no governo Dilma, não fosse...

Caiu o Juquinha da Valec, pessoa mais próxima do universo Tocantins-Goiás, envolvida no escândalo do pagamento de mesada por empreiteiros ao PR, cujos recursos viriam sendo partilhados entre parlamentares do partido nos estados onde as obras acontecem.

Além dele, caiu todo o staff do ministro Alfredo Nascimento, que está por um fio, conforme se depreende da leitura das matérias que vão na Veja, autora da reportagem denúncia que desencadeou a reação do Planalto, e nos demais portais de notícias do País.

Segundo blogueiros como Reinaldo Azevedo, o ministro escapou de passar por repreenda dada pela presidenta em seu primeiro escalão dias antes da revista circular. Nascimento teria faltado a uma reunião com Dilma e as ministras do Planejamento e Casa Civil, para atender “compromissos particulares”. Fico imaginando a cena: que compromisso seria maior para um ministro que despachar com sua chefe maior? Difícil compreender que fosse algo diferente do que um sinal de fumaça para escapar da fritura.

Mesadinha: prática recorrente

Não é novidade para ninguém, nem segredo entre empreiteiros, a existência desde sempre da tal “mesadinha”. Quem pega obra grande, via emenda, tem por prática agraciar de uma forma ou de outra os parlamentares que a garantiram. Enquanto fica no plano subjetivo, sem listas de nomes e números em caderninhos, ou controles de caixa em notebooks e computadores, a coisa passa sem chamar muita atenção.

Quando vira prática rotineira, da qual se fala por telefone, aí o esquema despenca. Assim como a prática de pagar mesadas é uma coisa conhecida, rotineira e comum no metiè entre empreiteiros e políticos, outras práticas ilegais ou mesmo imorais prosperam no Brasil maiúsculo (Brasília) ou no interior.

Só que são coisas do tipo: todo mundo sabe, mas ninguém pode provar. Quando um veículo de imprensa do porte de Veja junta os pontinhos e desenha o mapa da corrupção com fortes indícios e provas, acaba dando o choque que faltava para que uma situação seja exposta e resolvida.

Entre o ilegal e o imoral, imprensa serve pra isso

Onde vai dar o escândalo do mensalão, ou mesadinha vigente no Ministério dos Transportes para o PR, partido do ministro que está cai não cai, vamos saber nos próximos dias. O certo é que de práticas ilegais e imorais a administração pública anda cheia. E é aí que a imprensa tem um papel preponderante: em levantar as informações que chegam todos os dias, reunir as evidências e colocar o assunto na pauta do dia.

A evidência dos fatos é que leva coisas ocultas ao conhecimento de todos de forma incontestável, e faz com que esquemas de corrupção, favorecimento e compadrio sejam resolvidas.

No caso das obras, é pura hipocrisia dizer que alguém no meio político desconhece como as coisas funcionam. O problema é a riqueza de detalhes com que o esquema do PR foi desvendado na reportagem de Veja. Que venham outras, lá e por aqui, onde todos os órgãos e instituições imbuídos da função de vigilância funcionam, mas cabe vez ou outra à imprensa, ousar mais.

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