Muda o governo, muda a forma e as pobres criancinhas estão de novo no centro de uma confusão entre o que pode e o que não pode ser dado a elas pelo poder público, com o dinheiro público. Há um ano, o então governador Carlos Gaguim quis dar as bicicletinhas vermelhas em véspera de período eleitoral. Foi impedido por liminar do TRE.
Questionaram a origem dos recursos para patrocinar as tais bicicletinhas: e logo apareceram empresas amigas do governo dispostas a patrocinar a boa ação. Na guerra eleitoral, as bicicletas de 2010 foram comparadas às doadas pelo governo Siqueira em 2002. O bonde da campanha seguiu, o embargo foi feito e Gaguim terminou o governo sem entregar as tais monark’s, que vieram chegar ao seu destino, um ano depois, pelas mãos de Siqueira, eleito pelo voto popular. Coisas da política tocantinense.
Boas idéias, métodos tortos
Agora, um ano depois da confusão com a s bicicletas e praticamente na semana do anúncio da sua entrega, o governador Siqueira Campos decide presentear as crianças pobres de Palmas e do interior com vôos panorâmicos de helicóptero. Uma idéia fantástica, que com certeza mudou a perspectiva e a visão de mundo daquelas crianças. Mas o problema em fazer isto por decisão própria, a toque de caixa, sem consulta e sem planejamento logo apareceu.
Na imprensa e nas redes sociais pipocaram os questionamentos: esmola com o chapéu alheio? Usar helicóptero da polícia, adquirido para operações de segurança, para vôos pelos céus de Palmas? Complicado. E aí como era de se esperar, surgiram o custo das viagens, os critérios de escolha das crianças, o fato do piloto ser novo e da aeronave não ter seguro. De novo uma boa idéia comprometida pela forma de sua execução.
O segundo helicóptero colocado pelo governo como solução para responder aos questionamentos do Ministério Público Estadual, despertado para o assunto pelas reclamações de segmentos da sociedade e da própria Senasp, não poderia ser pago pelo governo, assim fora de qualquer programa ou contexto.
E aí, a solução encontrada pelo governo Siqueira, bateu com a solução encontrada pelo governo Gaguim há um ano para as bicicletinhas: chamar uma empresa amiga para fazer a doação. Naquele 2010 foram várias a partilhar a dolorosa incumbência de doar milhares de bicicletas. Sim, por que convenhamos: empresas visam lucro e não costumam dar nada de graça a ninguém.
Agora, o escolhido para bancar um programa, parecido com o da FAB, e que se chamará “Craque da escola X crack da morte” foi o BMG, que fatura os contratos de financiamento consignado em folha para os funcionários públicos.
O arranjo resolverá os questionamentos? Provavelmente sim. As crianças ganharão seus vôos? Com certeza. A diferença entre os dois casos, fica mesmo por conta do período eleitoral. E a lição que sobra é que o governo no Brasil, e não só no Tocantins, faz o que bem entende, quando decide fazer. Independente de planejamento.
Difícil imaginar esta cena nos Estados Unidos ou nos países da Europa. Vai lá um governante levantar cedo e decidir que vai dar naquele dia, semana ou mês uma leva de bicicletas, ou vôos de helicóptero, sem ter planejado, orçado e aprovado nas respectivas casas legislativas. Simplesmente não acontece. Mas isto é lá. Aqui é diferente. Por mais que sejam governantes e partidos opostos: quem tem a caneta faz o que quer. E o que porventura estiver fora da lei, se ajeita no caminho.
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