Demóstenes, Cachoeira e o jogo do bicho, ou: a indignação é uma chama que nasce, queima e passa

Está em discussão pelos maiores analistas da política brasileira a sinuca de bico na qual o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás se meteu ao ser flagrado pela Polícia Federal em inúmeras conversas com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Augusto Nun...

Duvido que isto vá acontecer. Até por que se deixar o Senado, Demóstenes vai responder a processo pela conexão com o bicheiro na planície, na vida real, sem os privilégios que o cargo proporciona.

Mas numa coisa Nunes está certo: Demóstenes perdeu a credibilidade como paladino da luta contra a corrupção que empreendia em todos os escândalos nacionais envolvendo o PT, por exemplo.

Quem não se lembra do senador defendendo por exemplo, a Lei da Ficha Limpa?

Na verdade o golpe maior que o senador goiano recebeu foi na imagem, que entendem os analistas políticos, ele não conseguirá recuperar, assim como a bandeira de combate à corrupção.

O que queima Demóstenes no conceito do brasileiro médio é a indignação de vê-lo envolvido com um criminoso. O crime de Cachoeira? Manter uma rede de negócios ligados ao jogo ilegal no Brasil, especialmente o jogo do bicho, que o brasileiro ama.

É aí que cabe um parêntese para analisar a hipocrisia. Porque o jogo do bicho continua proibido, enquanto comprar tirinhas da Caixa, com frações para concorrer aos sorteios semanais, pode? e jogos baseados nos times de futebol pode, e tantas outras modalidades de jogos pode? 

Por que o Brasil – como já sugeriu o governador Siqueira Campos numa reunião de governadores do PSDB – não legaliza o jogo do bicho e ganha com ele, como ganha com os outros tipos de jogos legalizados? É uma incongruência.

Até por que no interior do Brasil o jogo continua existindo, para deleite dos mais antigos, que sonham e interpretam seus palpites, tentando acertar e ganhar um dinheirinho na quina, na quadra, na centena, na dezena, no milhar, na dupla combinada. Uma espécie de traço cultural brasileiro relegado à ilegalidade.

Rede criminosa é o problema

Voltando a Demóstenes, que deverá responder a processo cuja abertura foi pedida pelo Procurador Geral da República ao STF conforme esta na imprensa nacional hoje, o problema é estar associado a um fora da lei, que para manter a sua rede de negócios ilegais em torno do jogo, corrompeu uma rede de autoridades.

Cachoeira remunerava policiais para proteger suas operações, simulava batidas policiais para fazer fachada, derrubava concorrentes utilizando destas autoridades policiais, encomendou até – pasmem – operação da Polícia Federal.

E nesta rede da corrupção, comprou telefones que julgava serem irrastreáveis pela PF. Um dos mimos, foi presenteado a Demóstenes que se deu mal. Caiu na rede armada para pegar Cachoeira.

Diante das notícias veiculadas, uns reagem perplexos e outros indignados. A indignação,como eu disse lá em cima, é uma chama temporária. Nasce com o dom de incendiar uma discussão. E depois passa. Demóstenes hoje arde nesta fogueira. Amanhã outro escândalo o suplantará. E a vida segue.

Para ele, politicamente, o caminho parece ter chegado ao fim. Mas pode ser que não. Justamente por esta memória curta, aliada ao fato de que o crime que ele cometeu foi ser amigo do bicheiro. E quantos não são pelo Brasil a fora? O problema todo é que pela pregação e pelo discurso, ele não poderia.

Além do STF, o eleitor é quem vai julgá-lo, mais cedo ou mais tarde.

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