Dia de tratar da falta de consciência

Hoje, 20 de novembro, Palmas assistirá à uma grande caminhada na avenida JK, em comemoração ao Dia da Consciência Negra. Em Porto Nacional a programação começou ontem, 19, com palestras. Em todo o Estado do Tocantins - de forte composição étnica de o...

No meio acadêmico, entre os colegas jornalistas, nas rodas de amigos o tema “racismo”é sempre polêmico e divide opiniões. Há os que defendem que racismo não existe no Brasil, um país miscigenado e de “oportunidades para todos”. Outros enxegam o racismo até na maneira com que o garçom diferencia o atendimento a um negro e a um branco na mesa de bar.

Ao tratar do tema numa pesquisa que desenvolvi há dois anos sobre a visibilidade do negro e afro descendente na imprensa tocantinense, percebi a necessidade de negação de qualquer preconceito entre as pessoas que ditam as pautas de cobertura jornalística no dia a dia.

É como se fizessem questão de não enxergar a diferença, e assim afirmar que o tratamento é igualitário para pessoas de tons de pele diferentes. Não é. Nunca foi. E se melhorou se deve a muita luta, e muita discussão incômoda sobre a forma que a sociedade brasileira trata seus negros e afrodescendentes desde a abolição da escravatura.

O mercado e as piadas

Dois sinais são incontestáveis do preconceito ainda presente em nosso meio, e gosto de usá-los sempre que esta discussão esquenta entre amigos. Um é a “seleção” feita quase que automaticamente pelo mercado de trabalho, que privilegia o modelo branco, cabelos lisos e olhos claros na hora de optar pela “boa aparência”.

Outro são as piadas estúpidas que ainda persistem nas rodas ridicularizando o negro como aquele que faz serviço mal feito - “serviço de preto”- como o pouco inteligente, e como o que se não “erra na entrada”, “erra na saída”, para usar termos amenos.

Força, beleza e resistência

Mas para mim, desde criança, negritude foi sinônimo de beleza, de força, de resistência, na figura de minha saudosa avó. Uma mulher batalhadora que criou seus filhos numa máquina de costura, e muitos filhos alheios em volta de seu fogão à lenha num restaurante e pensão lá no interior de Goiás.

O sangue negro dos meus ancestrais - dos quais me orgulho – corre também nas veias da maioria dos tocantinenses: mais de 70% se declararam negros ou pardos na última contagem. Por isso hoje, neste Estado que deve muito aos milhares de africanos e seus descendentes – que construíram as históricas cidades de Arraias, Natividade e Porto Nacional – é dia de falar de consciência negra, e da consciência necessária às pessoas de todos os tons de pele.

Viva a mãe África que nos deu tanto. E que seus filhos possam caminhar nesta terra Brasil de peito aberto e cabeça erguida. Iguais.

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