No Tocantins o governo já determinou um corte no orçamento que varia de 20 a 40% dependendo da pasta. Tudo por que uma projeção de receita e despesas mostra que – a continuar no ritmo que vamos – haverá um déficit orçamentário (e por consequência financeiro) superior a R$ 200 milhões nas contas do governo no final do ano.
Mesmo assim, afirma o secretario Eduardo Siqueira, das Relações Institucionais, a capacidade de endividamento do governo é grande. Fazendo os cálculos em cima da receita líquida do Estado no ano que passou, aplicando a taxa de 200% que é o limite máximo autorizado pelo Senado para que se contraia dívida, chegamos a uma cifra de R$ 9 bi de capacidade. Destes, sustenta o secretário, apenas R$ 1 bi está comprometido.
Olhando na outra ponta, a capacidade de desembolso (cronograma de pagamento) do governo é de 11,5%. Desta taxa, garantiu o secretario ao lado da sua sucessora no Planejamento, Vanda Paiva, apenas 3,5% está comprometida.
É aí que surge a primeira contradição entre o discurso político e a prática administrativa do governo. Se as torneiras seguem trancadas para pagamento a fornecedores – feitos a conta gotas – se a dívida contraída antes de 2001 ( governo atual) teve seus pagamentos suspensos e se a folha estoura os índices prudenciais, a pergunta que fica é: onde está o dinheiro que vem sobrando da capacidade de pagamento não utilizada pelo Estado?
Se formos falar em investimentos, realmente a situação é alarmante. A capacidade de investimento do Estado nos últimos anos diminuiu. Até por conta dos empréstimos que foram feitos durante este período em que o estado definitivamente não parou de crescer. Se havia uma margem de mais de 40% nos cofres tocantinenses para investimento, hoje ela não ultrapassa 17%.
Em números reais o Tocantins cresceu apenas 11% no último ano. E é dentro deste cenário que o governo reserva o parco orçamento que tem para as contrapartidas a financiamentos internacionais (de juros mais baixos e prazo de carência mais atrativo) e nacionais (como o presente que a presidenta ofereceu aos governadores na sexta-feira).
O estímulo ao endividamento
A outra contradição entre o discurso e a prática é da presidenta Dilma, saudada na imprensa especializada como a “mão forte”que segura a economia do País, que decidiu investir pesadamente em infra-estrutura num cenário de crise econômica europeia. É bom lembrar que esta saída já foi adotada pelos Estados Unidos para enfrentar sua própria crise, e não deu muito certo.
Talvez as palavras do ministro Guido Mantega sejam as mais expressivas para os que duvidam que uma crise além mar tenha capacidade para nos afetar. “Existe sim uma luz no fim do túnel, mas é a de uma locomotiva que vem em nossa direção”, sintetizou.
O fato é que o incentivo ao endividamento do brasileiro, com prestações acessíveis para comprar de veículos a eletrônicos e eletrodomésticos vem gerando uma corrente perigosa e interminável chamada por Robert Kiyosac em seu livro “Pai Rico, Pai Pobre” de “a corrida dos ratos”.
O conceito é simples: o rato corre sempre atrás do queijo, mas em círculos, corre atrás do próprio rabo. Traduzindo: comprando e se endividando, vendendo a dívida e refinanciando, o brasileiro médio nunca consegue sair do lugar.
Em maiores proporções a máxima vale para a economia de um Brasil cheio de desigualdades, que se dá ao luxo de gastar bilhões em obras (atrasadas e com suspeita de superfaturamento) para sediar a Copa.
Vale também para um Tocantins que criou uma bomba no funcionalismo ( que consome mais do que é prudente), sofreu queda na capacidade de investimento, enfrenta o desafio da industrialização como forma de gerar emprego e renda e encara com dificuldades a equação receita e despesa.
É nítido que nossa economia desaqueceu-se. É evidente que o Estado, maior comprador de produtos e contratante de serviços continua o responsável pelo movimento da economia local. E se ele não injeta recursos na economia, não fortalece a iniciativa privada local, tudo fica mais difícil.
Palmas tem se tornado um novo e atrativo horizonte para grandes empresas, grandes marcas (e não só no agronegócio) mas enfrenta também outro entrave: a insegurança jurídica que ainda envolve as áreas vendidas recentemente pelo governo anterior e a falta de oferta de áreas maiores dentro do Plano Diretor.
Crescer com prudência
Voltando às contradições, ao endividamento dos brasileiros e ao colapso que podemos viver no nosso sistema econômico se permanecermos neste modelo, me lembrei de uma antiga entrevista que li, com o fundador do Bradesco, Amador Aguiar, que começou a trabalhar com 14 anos de idade, numa gráfica.
Mais tarde, ingressou no Banco Noroeste como office boy. Ao morrer, deixou um império consolidado. Nesta entrevista, a qual me refiro e que muito me impressionou, o repórter perguntava a ele quais seus conselhos, sua receita para quem queria subir na vida e consolidar patrimônio.
Sucinto, Amador Aguiar ensinou: “eu sempre comprei à vista"
Sei bem que isto não é possível para todos, mas é uma regra de ouro. O excesso de financiamentos, sejam públicos ou privados são danosos à nossa economia. E não precisa ser gênio para saber disto.
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