Com a quarentena, por conta da pandemia do novo coronavírus, a rotina de muitas famílias mudou. Além do home office, que permite às pessoas trabalharem de casa, o “novo cotidiano” inclui dar assistência aos filhos durante as aulas on-line, recolher atividades espalhadas pelo chão, dar banho, alimentar, conversar com professores, pedagogos, tirar mancha de hidrocor da parede, corrigir exercícios, etc. É tanta coisa que mal sobra tempo para respirar!
Com toda essa correria, tem sido difícil perceber se o período de aprendizagem está mesmo valendo a pena. Mas para que esse novo formato de aulas dê certo, é necessário fazer alguns ajustes. A pedagoga e especialista em psicopedagogia, Irla Lopes da Silva, explica que é preciso criar uma rotina para estudar. A criança precisa entender que aquele momento deve ser dedicado aos estudos, assim como na escola.
Mãe de dois meninos, João Paulo Barros, 7, e Paulo Filho Barros de 12 anos, ela está sempre junto durante o tempo de estudos dos filhos, observando o desempenho dos dois. “Como mãe, estou acompanhando esse processo e acredito que está sendo bom, porque sei que os meninos estão aprendendo, mesmo com as teleaulas. Acredito que é melhor desse jeito do que deixá-los sem estudar”, afirma.
Irla também compartilha algumas dificuldades, como por exemplo, a inexperiência com algumas tecnologias. “Às vezes, encontro problemas para acessar algumas coisas no computador, os meninos me pedem para colocar algo que eu não sei. Aí Paulo Filho vai e coloca para mim porque não sei mexer muito”, brinca.
A psicopedagoga também é otimista sobre a aprendizagem. Diferente dos seus filhos, que estão no 2º e 7º ano, respectivamente, muitas crianças estão sem estudar. Bolsistas de uma escola particular de Juazeiro, interior da Bahia, João Paulo e Paulo Filho são privilegiados porque podem contar com várias ferramentas disponibilizadas pela escola.
“O sistema utilizado pela escola é bom, são professores formados, muito competentes, com uma didática muito boa e que sabem levar o conteúdo para a criança nessas circunstâncias”, avalia. Apesar de ter todo o mecanismo disponível, ainda existe um grande obstáculo: as distrações. Geralmente, quando estão em casa, as crianças só querem brincar. Isso é muito comum porque a escola sempre foi considerada como um espaço de aprendizagem e a casa como um lugar de descanso, de relaxamento. Até que eles consigam se acostumar e entender essa mudança, é preciso desenvolver novos hábitos.
Para os pais que não possuem acompanhamento pedagógico, fica uma sugestão importante: “as crianças podem ficar desmotivadas. Às vezes, João Paulo, por exemplo, fica com preguiça de fazer atividades que precisa escrever, mas quando são vídeos, com paisagens, eles gostam. Além disso, os exercícios podem ser complementados com brincadeiras que ajudam a criança a não ficar sem exercitar o corpo e a mente”, explica a pedagoga.
A novidade também alterou o planejamento de professores e coordenadores. A Vice-Diretora Ana Eliza Guimarães, 42, do Colégio IEC em Campinas, SP, conta que foi preciso fazer uma adaptação. De acordo com ela, todo o conteúdo foi modificado para a modalidade a distância, inclusive para os alunos especiais. Entre as dificuldades encontradas, o distanciamento tem sido um dos pontos significativos. “A distância dificulta o trabalho pela ausência da proximidade, do olhar, da análise das emoções frente ao conteúdo apresentado. Uma grande dificuldade, ao menos inicial, foi fazer com que algumas famílias acreditassem que poderia dar certo”, explica. Além disso, alguns pais nunca tinham acessado a internet ou não tinham tempo para acompanhar o filho.
No colégio, que tem educação infantil, fundamental I e II, foi possível dar continuidade ao cronograma de atividades e a rotina de estudos com aulas gravadas e aulas on-line. De acordo com a vice-diretora, todos os alunos têm acesso à internet, o que torna possível prosseguir com o planejado. Os professores da instituição também receberam capacitação, e contam com o apoio tecnológico e suporte da coordenação e diretoria. Toda uma rede está sendo construída para que o trabalho tenha continuidade, e o processo de aprendizagem não seja prejudicado.
Segundo Ana Eliza, essa é uma tarefa difícil, mas é possível. “Eu acho que nenhuma escola estava preparada para tal situação. Mas vejo que a grande maioria está se empenhando demais para dar o seu melhor. Entretanto, vale ressaltar que a experiência acumulada até o momento anterior à pandemia, é de ensino presencial. Portanto, talvez pode-se trocar a palavra prejuízo, por adaptações. Seria necessário, sim, fazer algumas adaptações”, conclui.
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