A sinergia entre cultura, tecnologia e educação é uma realidade cada vez mais presente no cotidiano e estimular a expansão dessas possibilidades é buscar promover a inclusão digital através da educação, cultura e arte.
Na questão da inclusão digital, o celular tem papel fundamental, pois enquanto o Brasil contabiliza cerca de 70 milhões de computadores conectados à internet, ainda com restrições de poder aquisitivo, já atingimos a marca de mais de 170 milhões de aparelhos celulares nas mãos de todas as classes sociais.
Com a chegada dos celulares 3G (terceira geração) providos de tecnologia e aplicativos multifuncionais capazes de transformá-lo literalmente num computador de bolso, com acesso irrestrito à internet, o celular ganhará ainda mais importância no processo de inserção ao mundo digital. E na vida de todos, jovens e adultos, estudantes e educadores.
Com efeito, entre outros desafios, é preciso pensar e aplicar soluções para ampliar o processo de capacitação e formação à distância, rompendo limites entre capital e interior, centro e periferia.
Quando a partir de 2004, 2005 o celular começou a se tornar um vilão na sala de aula um grupo de educadores, estudantes e comunicadores de Minas Gerais se debruçou em pesquisas para descobrir e propor usos criativos do aparelho. A expectativa era tentar reverter o quadro.
Alia-se a isto outros fatores que motivaram tal iniciativa, como perceber a necessidade de criar propostas para uma melhor formação cultural dos jovens com o apoio da arte e da tecnologia; identificar a falta de um projeto que envolvesse e unisse estudantes e educadores em torno da pesquisa e do fazer artístico; a necessidade de oferecer subsídios teóricos e práticos para que professores e alunos incorporem o uso das linguagens midiaticas no cotidiano da escola, como uma ferramenta de complementação ao processo educativo. Surgia assim o projeto Minha Vida Mobile – MVMob.
Para levar adiante a proposta de ressignificação de um aparelho telefônico móvel, repudiado no meio escolar, para um aliado do processo educativo, foi preciso entender que os jovens se interessam mais pelas atividades nas quais se identificam, com linguagens contemporâneas ao tempo deles e que possibilitam a expressão de suas opiniões.
Intercâmbio de estudantes e educadores
Partindo dos conceitos matrizes “construção interativa do conhecimento”, “inclusão criativa” e “inovação no aprender” foram concebidas várias linhas de ações: oficinas de audiovisual (vídeo, fotografia, áudio e produção de notícias com o uso do celular ministradas dentro das escolas com a participação de estudantes e educadores), exposição interativa de trabalhos, concurso cultural e mostra itinerante pelas escolas e espaços culturais.
Para surpresa e alegria de todos, apesar da resistência de alguns dirigentes de algumas unidades escolares, o projeto foi super bem recebido em escolas públicas e particulares. Como a produção de trabalhos feitos pelos estudantes e educadores convidados mostrou-se substancial, surgiu à necessidade de apresentar estes trabalhos para toda a comunidade escolar.
Desde então, todo conteúdo produzido pelos participantes é postado na plataforma virtual do MVMob. Na webcomunidade do MVMob estudantes e educadores encontram informações e dicas de como utilizar diferentes metodologias de ensino e avaliação com a apropriação das novas mídias. Esse site estará durante todo o ano aberto a inclusão de novos conteúdos.
Se ainda há muita resistência as novas tecnologias dentro da escola, por outro lado a proposta do Minha Vida Mobile tem despertado interesse em boa parte da comunidade educativa e audiovisual do Brasil. Há um reconhecimento de sua capacidade inovadora, tanto pelos estudantes e educadores participantes como pelas universidades e pelos comunicadores.
O MVMob foi convidado para ser apresentado, por meio de palestras e exposições, nos eventos Campus Party (SP), MobileCamp (SP); Seminário “A Sociedade em Rede e a Educação” (SP); Segundo Congresso da Rede Católica de Educação (SP); Mobile Monday (SP), USP – Universidade de São Paulo; Universidade Anhembi-Morumbi (SP); Instituto Deco20 (SP); PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais); Centro Universitário Newton Paiva (BH). O MVMob é tema de TCC da Universidade Federal de Rondônia, do curso de Informática.
Na imprensa, ganhou destaque em veículos nacionais e internacionais de grande repercussão, como O Globo, TV Cultura, Sesc TV, Revista da Gol Linhas Aéreas, Revista Info, Revista EducaRede, Portal Aprendiz, Diário do Comércio (SP), Correio Brasiliense, Revista Rep – Educação e Terceiro Setor, Jornal Hoje em Dia, entre outros no Brasil, e Le Monde (França), El País, RTVE, Expansion e Todos Juegos (Espanha), assim como em blogs diversos.
“O que tá rolando”
Basta dar uma olhada nas notícias que envolvem educação, cultura e tecnologia para perceber que a escola tem muito para ganhar e se tornar mais atraente com o uso das mídias móveis e das redes sociais. Vejamos algumas delas: “Tecnologia transforma movimento labial em voz digital”, “O "quadro-negro" ficou branco, conectado à Internet e com tela sensível ao toque”, “Internet é indicada ao Prêmio Nobel da Paz”, “Jovens trocam blogs por redes sociais”, “Crianças que usam SMS falam e lêem melhor, diz estudo”.
Algumas pessoas vão se perguntar: mas o que está acontecendo? Diríamos que uma revolução não televisionada, e sim pelas infovias móveis e digitais.
Para avançarmos se faz necessário construir um novo olhar para as tecnologias movéis, como um elemento de cultura presente na vida dos estudantes e aliado à construção do conhecimento e desenvolvimento das habilidades operatórias dos sujeitos educandos; desenvolver novas tecnologias de produção cultural acessíveis a uma maior camada da população; apontar caminhos profissionais para os estudantes através da criação artística e do estímulo a essas aptidões; contribuir com a formulação de propostas de políticas públicas capazes de atender aos anseios do meio estudantil, que requer mais oportunidades e incentivo para criar e também para mostrar sua arte de forma organizada e consistente e para um maior número de pessoas; valorizar as possibilidades de utilização do celular como ferramenta de construção de linguagens artísticas, de desenvolvimento de novos parâmetros culturais e como meio de transmissão de conhecimentos e valores simbólicos; incentivar a geração de conteúdo estadual e nacional capaz de confrontar olhares e respeitar a diversidade das culturas locais; e incentivar o intercâmbio de estudantes, educadores e escolas e a troca de experiências;
Cabe ao projeto político pedagógico das escolas otimizar a presença do equipamento. Ele pode ser apropriado nos planos de aula de forma emancipadora, possibilitando a infoinclusão e a democratização da produção cultural. O MVMob quer contribuir para que essas opções se concretizem. Para tanto, é preciso conscientizar e oferecer formação técnica para os professores, contribuindo com a qualidade da educação e valorizando a cultura brasileira.
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