Tenho pelo vice-governador, João Oliveira, o apreço, a consideração e o respeito que ele merece pela história construída a partir das amizades e trajetória que traçou, ainda motorista de ônibus na região de Guaraí, até se eleger deputado estadual e depois federal, até chegar a vice-governador.
Fazer jornalismo no Tocantins implica em de vez em quando trombar num amigo para fazer uma matéria. Depois da denúncia da filha médica que vinha recebendo sem trabalhar, o caso da indignação de funcionários do Hospital de Guaraí com a nomeação de diversos parentes do vice em funções para as quais alguns nem teriam o suficiente preparo, foi um destes que não dá para ignorar.
Diante da matéria publicada, da decisão de Oliveira de não comentar o assunto, por um lado, e de outro a explicação de sua assessoria de que não é ele quem nomeia (o que descartaria a prática do nepotismo, ilegal) é interessante observar as reações.
De um lado, os concursados da Saúde que ainda aguardam no cadastro reserva não perdoam a ocupação de funções que não são de confiança, por contratados via indicação política. De outro, quem é da área não entende nem aceita que na área administrativa de um hospital de referência figure uma pessoa que não tem o preparo acadêmico para tal.
E fora tudo isto, tem os amigos, os correligionários, os militantes, que acham que está tudo bem. Afinal, se os parentes trabalham, não há problema, não é mesmo? Os cargos são políticos, os políticos conseguiram na urna os mandatos, e seus parentes não podem "sofrer" –seria muita injustiça, afinal - a discriminação de não poder ser indicados.
O fato é que nem tudo que na letra fria da lei, não chega a ser ilegal, é aceitável num novo momento da gestão em que se prega todos os princípios da transparência e impessoalidade no trato com o que é público.Mas, tudo bem. Se esta é a cultura tocantinense no fazer política, tão arraigada que não é possível mudar, é preciso acabar com o discurso que condena a prática quando ela vem de um grupo e aprova quando parte de outro.Por que do contrário, seria pura hipocrisia.
No final do ano passado, ainda na formação da equipe de governo, ouvi do hoje secretário de Planejamento e Modernização da Gestão, Eduardo Siqueira a seguinte afirmação: “Lá em casa já fizemos uma reunião. Diferente da época em que a cada semana haviam diários oficiais trazendo uma verdadeira disputa entre os Pagani e os Miranda, para saber quem tinha mais nomeações, isto não será visto no nosso governo”.
Segundo o secretário, nem Siqueiras, nem Uchoas, nem Marques, freqüentariam o DO como nomeados em cargos de confiança. Pela lógica, fora os parentes diretos do governador, sua mulher e seus filhos, o resto pode. Desde que trabalhem.
Então tá. Se fica bom pra todo mundo assim, é só ignorar os descontentes e bola pra frente!
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