Ontem tive a estranha sensação de ter voltado para a Idade Média. Centenas de pessoas contornavam um prédio e exigiam a condenação de um casal. Deixaram suas casas, filhos, e foram acompanhar um julgamento. Alguns com a melhor roupa. Ambulantes aproveitavam e vendiam sucos e pastéis.
Engraçado é que quase não se vê manifestações públicas como essas em escândalos políticos.
Com exceção das inúteis passeatas pela paz do Rio de Janeiro (eles adoram vestir de branco e soltar pombas na avenida Atlântica), o Brasil é um país pacato quando se trata de comoção popular.
Mas o sangue é uma coisa contagiante. Assim como o fogo, ele atrai. Nos anos em que fui professora de ensino superior em cursos de Direito, a única coisa que fazia a turma toda prestar atenção numa aula de Direito Administrativo era mudar de assunto e descrever casos do homicídio. Ai não se ouvia nem um pio.
Mas voltemos ao casal...
Acordei e lia o jornal hoje pela manhã, quando a Fátima (moça que trabalha aqui em casa) chegou. Eu não tinha dúvidas de que ela iria comentar o caso. E antes mesmo do tradicional “bom dia” ela falou:
-“Você viu? Bem feito! Será que eles vão ficar presos esse tempo todo?”
Respondi que achava que não. Na sequência, perguntei :
- “ Será que foram eles mesmo que mataram a menina?
Ela mais do que depressa:
- “ Eu ACHO que sim! Você não ACHA?
Respondi:
- “ Acho sim... mas eles não confessaram e nenhuma testemunha viu...”
A Fátima:
- “ Mas a Delegada tem certeza!!!”
Puxei na memória...
- “ Você se lembra daquele pedreiro que foi preso por abusar da filha recém nascida? Apanhou na cadeia até. Todo mundo aplaudiu! Bem feito...Bem feito...E no final, exames afirmaram que a menina estava era “assadinha” por descuido da mãe...”
E ela:
- “É mesmo...eu lembro”
- “Pois é...”
-“ Mas eu ACHO que foram eles mesmo...”
- “Eu também ACHO”....
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