Cheguei à tempo, na manhã de hoje, no Paço Municipal, para ouvir a fala de uma das maiores ativistas na luta contra o uso e a venda de drogas no Estado, além de encampar a defesa de que o poder público invista em duas frentes: na prevenção e na repressão ao tráfico, a empresária Fátima Roriz.
Há dois anos começamos a trabalhar na estruturação de uma organização chamada Palmas Fraterna, que nasceu no primeiro ano de governo do segundo mandato do prefeito Raul Filho com a idéia de reunir voluntários na luta contra o avanço das drogas e da violência na capital que é de todos os tocantinenses. Uma entidade sem fins lucrativos e que poderia agir mais livremente, inclusive captando recursos para o fim a que se destina.
Depois de dois anos em que as etapas burocráticas precisavam ser vencidas, esta organização poderá em breve começar a atuar de forma mais prática. Mas o que me chamou a atenção neste eventode hoje, foi o despertar do poder público municipal para a necessidade de fazer algo coordenado nesta luta contra o estrago que o uso de drogas está fazendo em Palmas, no Estado, nas famílias tocantinenses.
Só quem sabe o que é a dura realidade de conviver com o vício, de perder entes queridos para o universo paralelo da droga é que pode avaliar o quanto esta guerra tem sido perdida pela falta de conhecimento sobre o assunto, de articulação de ações de governo, e de um despertar mais ativo da sociedade.
Ações coordenadas, sob um comando único
Com os olhos ainda vermelhos das lágrimas que não deixam de assomar nos olhos de quem tem visto imagens chocantes pelas periferias do Tocantins a São Paulo, Fátima me contava uma história recente de uma garota de nove anos, num bairro pobre de Porto Nacional, grávida, vivendo como bicho num cômodo só, completamente dependente do uso do crack. Repito: grávida.
O resto da casa estava praticamente destruído pois na ânsia de manter o vício a menina já havia vendido telhas, porta e até o portal do barraco onde mora. No jardim Aureny IV, me contava uma das mulheres que também estava no evento de lançamento da Cruzada pela Vida Sem Drogas, o conselho tutelar e as voluntárias que trabalham tentando resgatar famílias de viciados, vem enfrentando resistências por parte de jovens consumidores.
Meninos que para sustentar o vício, assaltam as mães em dias de pagamento e recebem com desconfiança qualquer um que queira ajudar. São cenas extremas provocadas pela disseminação do crack: uma droga sem volta para 90% dos seus usuários e que por ser barata, ganha as periferias da capital
Por mais sensibilidade que haja nos governantes em níveis estadual e municipal, não será possível vencer esta batalha sem ações coordenadas. Da saúde, que trata o viciado, até a segurança, que prende o traficante e apreende a droga, tudo precisa obedecer a um comando só. Esta é uma guerra que não se vence enfrentando batalhas separadas. Desconectadas. Sem a visão do todo.
O compromisso assumido pelo governador Siqueira Campos com o combate ao avanço das drogas no Estado ficou claro desde campanha do ano passado. Agora é preciso chamar quem se importa com este tema, nas diversas esferas da sociedade e criar mecanismos que permitam o uso dos recursos públicos de forma coordenada, contínua e eficaz neste combate. E é tarefa urgente.
Existem muitas atribuições que um governo deve cumprir no exercício do dever de bem administrar. Existe o dia a dia a ser vencido com obras, educação, saúde, assistência social, atração de investimentos. Mas não consigo imaginar um legado maior, um bem mais intenso, nada mais útil do que enfrentar e vencer a guerra contra o vício.
É possível. É urgente. Mas é uma luta que não se vence só. Está na hora das autoridades despertarem para isto. E de preferência, chamarem para esta tarefa, quem tem conhecimento e dedicação à causa com a competência necessária para fazer.
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